Nesse cantinho da coluna, convido profissionais ou amantes da dança a trocarem alguns passos comigo. Trazemos à baila projetos e testemunhos sobre essa arte.
Para a edição de Maio e Junho, trago uma breve entrevista com uma mulher comum, com dilemas de todas nós, mas com um tempero especial: ela dança!
ENTREVISTA COM TATIANA MENDES
Entre afazeres profissionais, cuidados com a segunda gestação e mimos para com o primogênito, Tatiana Mendes, 34 anos, formada em Cinema/UFMG e empresária no Setor de Publicidade e Produção Audiovisual, conversou comigo:
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REVISTA THE BARD Quando você começou a dançar?
TATIANA MENDES: Eu sempre gostei de dançar. Fiz balé na infância, mas não dei continuidade no estudo. Na escola, sempre participei de todos os festivais de dança e fazia apresentações até o fim do ensino médio.
Na faculdade, iniciei uma aula de jazz, mas não consegui continuar. Depois de formada, fiz 3 meses de Stiletto e também tive que parar. Logo após, conheci um grupo de danças urbanas e comecei a dançar com eles. Dancei por 2 anos. Nunca consegui estudar como gostaria. Somente depois de 31 anos e de ser mãe que consegui voltar e dar continuidade em aulas de jazz funk e stiletto que faço até hoje.
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REVISTA THE BARD Qual o benefício da dança na sua vida?
TATIANA MENDES: Só hoje eu tenho plena consciência desse benefício. Assim como o mundo encara, eu também encarava como hobby e nunca levei tão a sério. Sempre ficou em segundo plano para mim. Hoje, eu tenho consciência do bem que a dança me proporciona. Depois que tive meu primeiro filho, passei por uma série de problemas físicos e emocionais que desencadearam uma depressão profunda com sequelas físicas e psicológicas. Depois de um ano, quando estava um pouco melhor, voltei a dançar e isso me trouxe de volta. De volta à autoestima, o prazer de fazer algo que eu amo, alegria, ânimo e tudo que me faltava. Foi quando percebi que o meu remédio controlado era a dança e ela, inclusive, me ajudou a suspender a medicação clínica. Hoje, não fico sem dançar, paro tudo e vou, brigo e luto por esse direito pois sei o bem que me faz. Hoje, estou grávida novamente e continuo dançando enquanto tiver disposição.
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REVISTA THE BARD Como foi dançar e ser mãe ao mesmo tempo? Mudou alguma coisa?
TATIANA MENDES: Mudou tudo. Ser mãe rotula automaticamente as mulheres e isso está “preso” em nós, mulheres, inconscientemente. Depois que o bebê nasce, o corpo muda, não conseguimos nos cuidar, ficamos exaustas e não temos tempo para nós mesmas. A autoestima desce pelo ralo, esquecemos que somos mulheres também e não deveria ser assim. A dança resgatou a mulher que eu era anos atrás e me lembrou como eu era feliz, de bem comigo mesma, confiante e destemida. Ela trouxe de volta uma pessoa que eu era e tinha esquecido, bem antes de ter filho. Se eu pudesse, faria isso por todas as mulheres.
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REVISTA THE BARD Que mensagem você deixaria para as mulheres, em especial que são ou pretendem ser mães, e que desejam dançar, mas não tem coragem?
TATIANA MENDES: Como eu posto minhas danças no instagram, eu recebo, às vezes, mensagens de mulheres da minha idade, mais novas e mais velhas, perguntando onde eu danço e dizendo que amavam dançar ou que gostariam, mas não dançam. Se as mulheres que gostam de dançar soubessem o bem que a dança pode fazer, em todos os sentidos, eu tenho certeza que todas fariam. O problema não é só o preconceito dos outros, mas o nosso também. Achamos que dança é coisa de adolescente e não é apropriado para mães e mulheres casadas ou mais velhas. E já cansei de ouvir: “você é mãe”… “seu marido deixa?”… e coisas do tipo. A questão é você fazer por você, porque se você não fizer, ninguém mais faz. Nem homem e nem pai nenhum é rotulado por jogar bola, pescar ou fazer qualquer coisa, mas nós somos e depende de nós mudarmos isso.
Por DANIELA LAUBÉ