“No Fundo do Rio”,
de Paulo Stucchi
Ah, o folclore! Conjunto de manifestações culturais que se mantém vivo ao ser passado adiante, transmitir o conhecimento com o que é de novo pelos olhos do interlocutor do agora, mas sem perder a essência. O prefácio de “No Fundo do Rio” começa contando um pouco sobre o que é o folclore e o que ele representa para a nossa cultura. Aqui, na obra de Paulo Stucchi, nós vamos nos deparar com a lenda do boto cor-de-rosa, mas mais do que isso, como toda essa lenda pode fazer com que famílias criem suas filhas com uma atenção a mais, justamente para que não sejam impactadas. Mas, lembrando que estamos falando de uma lenda, ou não?
Bruno Medeiros volta há dois anos para começar a história justamente quando vê Cecile, sua noiva, desaparecer pelas águas do Rio Jari, que corta Amapá e Pará na região da Amazônia Oriental. Ela foi levada pelo boto. Bruno é de São Paulo, ele morava com ela na capital, e acabaram na Vila Guaiapis, ela sendo vítima do que até então era só uma lenda. Como lidar com tudo isso? Bruno vai voltar até lá e se empenha bastante em descobrir o que realmente aconteceu.
Mais do que a lenda do boto cor-de-rosa, no decorrer da história é possível perceber também o quanto as comunidades ribeirinhas são cada vez mais influenciadas e acabam deixando de lado suas culturas. A meu ver, as novas gerações não precisam acreditar nas lendas, mas elas também não podem ser banidas por novas teorias que chegam até esses vilarejos.
E tem mais: não sei se você já ouviu a história de que os oficiais de Hitler marcaram presença em território brasileiro na floresta Amazônica? Sim, essa história fará parte aqui da trama e ainda tem ligação com o que está acontecendo no vilarejo. Pois é! Por essa eu não esperava também (se você não sabe do que se trata, tem mais detalhes aqui na Superinteressante)!
Ah, deu saudades de Iracema, de José de Alencar, que é mencionado no livro por conta do nome de uma das personagens e da árvore abricó-de-macaco que conheci em Botafogo, no Rio de Janeiro, mas que é bem comum na região Amazônica por se dar bem em locais tropicais. O livro também tem uma linda trilha sonora: Dancing in the dark, de Bruce Springsteen.
Sinopse: após sua noiva desaparecer misteriosamente nas águas do Rio Jari, na Amazônia, o sociólogo Bruno Medeiros retorna ao isolado povoado ribeirinho de Guaiapis com o objetivo de desvendar o que aconteceu com Cecile e se vingar. Certo de que ela fora levada pelo boto cor-de-rosa, Bruno pouco a pouco começa a descobrir a sinistra verdade por trás do povoado e seus moradores, forçando-o a mergulhar na história do espírito lendário que habita os rios e a enfrentar seus próprios traumas. Nesta obra de Paulo Stucchi (finalista do Prêmio Jabuti 2020), a dor da perda e o medo do sobrenatural chegam ao seu limite máximo, misturando lendas amazônicas e a presença nazista no norte do Brasil, desnudando o mal que dorme em cada um de nós.
Paulo Stucchi – é jornalista e psicanalista. Formou-se em Comunicação Social pela Unesp Bauru. Trabalhou em revistas e jornais impressos, tornando-se editor por treze anos de uma publicação segmentada para o setor gráfico. Divide seu tempo entre o seu entre o trabalho de assessor de comunicação e sua paixão pela literatura, sobretudo romances históricos. Foi finalista do Prêmio Jabuti em 2020. No fundo do rio é seu sexto livro.
Alguns trechos do livro:
– Mantenha os amigos por perto, e os inimigos mais perto ainda.
– Infelizmente, aqui no Brasil é o contrário. Conforme os anos passam, as pessoas se tornam descartáveis.
– O brasileiro é um povo maravilhoso! Incrível a nossa capacidade de criar histórias… algumas totalmente fakes, outras, que mudam a realidade para dar um clima mais sobrenatural.
– Ninguém quer ver quem a gente ama sofrer.
– Aqui, homens, floresta e rio são uma coisa só. Os espíritos daqui punem quem quebra essa harmonia. O boto veio para punir vocês. Homem nada pode contra ele.
– Não pertenço mais a lugar algum.
No Fundo do Rio, de Paulo Stucchi, tem 239 páginas (29 capítulos), foi publicado pela editora Insígnia, está a venda nas plataformas de e-commerce e grandes livrarias, além do formato digital na Amazon (integra o Kindle Unlimited para quem é assinante).
Por JANAÍNA LEME