Luís Fernando Veríssimo possui uma crônica divertidíssima intitulada “Cuidado com os revizores”, dessa forma mesmo, com “z”. Isso porque eles, os revisores, podem ser os nossos melhores amigos ou piores inimigos, a escolher. Na maioria das vezes, estão agrupados no segundo caso, prontos para fazer com que os escritores paguem pelas suas gafes e desserviços, continuando impunes por aí e fazendo outras vítimas.
Brincadeiras à parte, a má fama da categoria ocorre por duas simples razões: são mal pagos e desvalorizados. Assim que os orçamentos se finalizam, apesar de inúmeros descontos e abatimentos para não perderem o cliente, vem o escritor na maior cara de pau e: “não dá para fazer mais barato?”. Como se não bastasse, qual revisor nunca se deparou com um trecho completamente incompreensível e conseguiu transformá-lo numa verdadeira obra-prima? É importante dizer: por trás de todo grande autor, há sempre um revisor dedicado que passou noites sem dormir para garantir o sucesso de ambos. Mas isso não aparece na vitrine…
O revisor é um leitor profissional e, por essa razão, deve ser pago, mas não para “encontrar erros” e conspirar contra a criatividade dos artistas da palavra, e sim para o melhoramento textual deles. O poder de decisão que recai sobre os escritos foge do olhar viciado, da memória e da paixão de quem o escreveu. Obviamente que, a fim de publicar esta crônica, tive que solicitar a um colega para que desse a famosa “olhadinha”, pois enquanto redatora não sou nada confiável; preciso de um segundo olhar, uma neutralidade que me dê segurança suficiente ao dizer: “após um Raio-X, nossos operadores não detectaram nenhum deslize linguístico da sua parte. Por de ir, não passará vexame”. Tomara.
Ademais, o trabalho em si não é solitário, ao contrário do que se pensa: requer um ir e vir de correspondências virtuais entre contratante e contratado até chegar no nível hard de excelência, aquele que a gente abre o livro e diz: olha só, que português charmosinho, hein? Que fluidez, que delícia de leitura! Pois é, um resultado assim só se torna possível com muita cooperação, afinidade e, principalmente, valor. É difícil precificar aquilo que jamais se encaixará numa cifra. Portanto, é de bom tom que se reconheça a relevância histórica e intelectual desses especialistas, que não fazem outra coisa além de enriquecer a vida literária e acadêmica de uma nação – quando lhes são dado o devido suporte, é claro.
A partir do momento em que admitirem o quão indispensável é um serviço como esse, o quanto deve ser levado a sério que sujeito e predicado não pode ser separado por vírgula, ou que em “ensino a distância” só há crase se essa distância vier especificada, o mundo será um lugar melhor. Mais precisamente o literário, já que, cá entre nós, está ficando cada vez mais invadido pela ansiedade/vaidade de ter o nome estampado na capa de um livro sem o preparo e a maturidade para tanto. Tal questão também poderia ser resolvida pelos revisores, mas esse é um assunto para uma consultoria.
Por VERAS E TRAJANO Assessoria Linguística e Textual