Tenho ouvido muitos discursos de ILUSÃO. Repudio todos. Eles me envergonham as ideias e percebo que despertam nas pessoas o lado ruim da força que lhes habita. Faz delas escravas de tendências e perseguidoras de aplausos falsos.
Vivemos tempos difíceis: os valores estão desvalorizados e não há garantias de valia aos que se mantêm na linha do anonimato. Será que não está na hora de virar a chave? De fazer o certo mesmo sem ibope?
Tudo é questão de escolha.
Até quando vamos valorizar a hipocrisia e viver montados em filtros enganosos?
A perfeição está na ponta da agulha injetável aplicada em consultórios ou no fundo de algum quintal. Tudo depende do quanto se pode pagar por essa harmonização ilusória.
Basta de caras de bonecas falsas onde a maquiagem cobre, ou melhor, encobre máscaras.
Deixemos que elas caiam e nos desnudem.
E nada de vergonhas, pudores mentirosos, quando o que queremos é nos mostrar e angariar milhares de likes hipócritas. Não importa se é verdadeiro. O que vale são os seguidores e a inveja que se consegue despertar no outro.
Conferir a veracidade? Nem pensar. Repostar o mais rápido para disseminar fato ou fake é o que conta no tanto faz do minuto.
A ilusão iguala a régua deixando rastros de pensamentos maldosos; todo mundo quer ser Narciso ou juiz supremo.
Ninguém quer ficar para trás.
Todo mundo quer se dar bem.
Tolos, os certinhos?
Nada me tira o pensamento de que mais tolos são os que se prostituem em função de um voto ou um paredão.
Vulgarizam os vínculos sagrados da Verdade e vendem suas histórias deixando para trás, aliás, sem peso nenhum, a tão frágil e démodée sra. Honestidade.
O que conta é o jogo. Todos se enganam e são enganados pela falsa importância que acreditam ter; dessa forma contribuem para que as fantasias criem força na banalidade dos realities populares.
O pior de tudo é que bisbilhotar os tais, empodera os discursos tolos e inflama o peito dos que se sentem valorizados e respeitados.
Triste espetáculo. Decadência social mascarada pelo horário nobre.
Em contrapartida, palmas para as falsidades que movimentam os shows com direito a pipoca e camarote, afinal precisamos de pão e circo.
Alguns dirão que há um tanto de exagero nessas palavras; afinal que mal há em iludir, ou melhor, divertir o povo? Nenhum!
O importante é oferecer migalhas e distrair o foco entretendo a grande massa. Fazer sonhar acordado, assim a ilusão passeia de uma rede a outra, fomenta esperanças vãs e cria uma sociedade com rótulos supérfluos, porém sedutores.
Cada dia a perseguição à fama aumenta a busca pelos holofotes. As pessoas parecem entorpecidas pelo mundo surreal e encantadas como personagens de conto de fadas. Elas curtem o que não leem, dão likes no que não conhecem e esperam ansiosas a reciprocidade “fritando” os que não correspondem. É um festival de luzes e cores desfilando na passarela das redes sociais onde as pessoas empoderadas por influenciadores tomam partido nas vidas alheias e sentem-se familiarizadas com as intimidades dos famosos. É um verdadeiro picadeiro recheado de atrações distorcidas e banais.
No final, o que conta é o número de seguidores e a evidência. Ser a “bola da vez” é estar no auge e a fama é só o que importa. Custe o que custar. Prestando-se a papeis ridículos e sentindo-se encorajado pelo sucesso iminente, esses internautas apostam suas fichas na fantasia que criaram para si mesmos. Chegam ao ponto de excluir-se do mundo real, preferindo o faz de conta digital. Estão sob o mesmo teto, sem conversar. Fazem refeições juntos sem partilhar o pão do companheirismo. Dormem na mesma cama sem se conhecerem. Sabem mais da vida alheia e menos dos companheiros e filhos. E o mais triste desse novo paradigma é que acham tudo normal. Entendem que deve ser assim o novo modelo de relacionamento. Quem não se encaixa, precisa se reciclar, aprender os novos modelos sociais. A inteligência artificial bate à nossa porta e exige um lugar na primeira fila da nossa rotina. É inevitável e não é ilusão. Acredite!
Por CRIS GOMES