O tempo cura
E transforma
E voa
Voo rasante, giros concêntricos em torno de si
Pousa afoito
E chega — novamente — trazendo o derradeiro mês.
Dezembro é um período diferenciado no calendário. A magia do amor fraterno desce como um manto e a espiritualidade imanta a época, com vibrações de bem-querer.
Aqueles que sintonizam essa frequência, tornam-se mais receptivos a essa energia sublime que emana de todo canto do planeta.
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É tempo de somar esperança. As demonstrações de fé na humanidade emergem em verde-vermelho, sem importar se é calor desse lado do hemisfério ou se neva do outro lado. Sentimentos de felicidade e compartilhamento chegam trazidos pelos ventos da boa nova. Perfuma-se o ar com aromas doces, silvestres ou mesmo amadeirados. As pessoas aspiram a fragrância da alegria pungente e a agitação do mês de trinta e um dias, parece ter apenas a metade do tempo útil, desencadeando a pressa em comprar os presentes sempre de última hora.
Multidões disputam ofertas escandalosas e pleiteiam parcelas infinitas no cartão de crédito, sem pensar no rombo de janeiro. O importante é lembrar de todos.
Interessante é tentar entender como funciona esse mecanismo de espírito natalino para aqueles que ficam distantes, muitas vezes sem conversar, fazer visitas, acompanhar os entes “nem tão queridos”. Parece que acontece um movimento astral para apaziguar as diferenças e minimizar as distâncias, e o mais incrível de tudo isso, é que funciona. Quase sempre…
Famílias inteiras se aproximam em nome da fraternidade. Até os mais resistentes acabam sendo tocados pela mágica época natalina.
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Nossa humanidade aflora e o sentimento de irmandade nos leva a querer derrubar fronteiras de resquícios passados e a ouvir, sem julgamento, o outro lado das histórias.
Para os cristãos, o Menino chega trazendo a certeza de que somos irmãos, estimulando os reencontros e, principalmente, o perdão. É como se a fé irradiasse uma couraça dourada de luz circundando cada pessoa da energia pura do Criador.
É inegável para os crédulos que a atmosfera transmuta as energias, despindo valores egoístas e deixando perder atitudes mesquinhas a fim de que o coletivo floresça em prol do bem maior. Uns até arriscam dizer que é a magia do Natal.
E assim os dias vão acontecendo… A cada semana, mais demonstrações de partilha. Os menos afortunados são lembrados, as crianças sorriem diante do brinquedo novo e o alimento se multiplica diante da vontade de que todos tenham o estômago saciado na tão esperada noite.
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Fico me perguntando se a humanidade que existe em cada um de nós, não poderia estender esse movimento todo para além do mês de dezembro.
Seria tão mágico ver as crianças sendo crianças, correndo felizes com seus brinquedos, amparadas por suas famílias, frequentando escolas acolhedoras e atentas às diferenças de cada menino ou menina, com pais que tivessem um emprego justo e um lar digno.
Sim, realmente seria um mundo diferente do nosso. Outro planeta? Talvez… outra era? Quem sabe…
Detenho-me nesta reflexão sem esquecer o quanto é necessário compreender a fragilidade de sermos humanos. O quanto ainda nos apegamos aos detalhes e esquecemos de valorizar o macro, o todo, o coletivo. O quanto ainda nos importamos com o “ter” e deixamos de lado o “ser”. É uma valorização inversa onde a prioridade é o “próprio umbigo”. O eu em primeiro lugar; depois, bem depois o outro, porque nada vale mais que a sensação de ser o melhor, de ter mais.
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Tenho comigo que ainda é possível desmascarar esses desafetos e empurrar para debaixo do tapete esse sentimento que insiste em nublar as cores da época, afinal faxinar em dias de festa pode levantar poeiras indesejadas e sujar “os presentes”.
Concluindo, reitero que o final do ano bate à nossa porta e nos cabe um único movimento: deixar-se envolver pela ventura de mais uma celebração da vida sem ter a pretensão de transformar o mundo e as pessoas. Compreenda haver pessoas diferentes de você. Elas não são melhores, nem piores. São ainda humanas demais para amar sem medidas. Elas só podem oferecer o que possuem. São peças da grande engrenagem da vida com alguma alteração, seja por escolha, omissão ou decisão. Nem por isso, diminuídas na grandeza do sagrado que lhes habita. Um dia, quando estiverem prontas, serão condizentes com os planos do Universo e todo dia poderá ser Natal. O ano todo poderá ser de festa, alegria e principalmente de paz.
Paz que desejo a você nesses tempos. Que ela não tenha apenas o branco, mas todos os tons e matizes que um singular cenário de amor ao próximo possa ter. Que a vida envolva todos os cantos do seu ser, permitindo-lhe se expandir em verdadeiro voo de felicidade, em amor verdadeiro, para que sua vida seja plena da sabedoria ancestral que guarda em suas memórias e que o faz sempre compreender que o amor ainda é possível.
Feliz final de ano!
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Por CRIS GOMES