FLORESCENDO EM PENSAMENTOS – Questão de cor

FLORESCENDO EM PENSAMENTOS – Questão de cor

A África é colorida e vibrante, mas seus filhos, brancos e pretos, não tiveram a mesma história na linha do tempo, porque, séculos atrás, a cor da pele era fator determinante para “ganhar” grilhões e uma passagem de navio rumo ao outro lado do planeta. Arrancados de suas famílias, muitos homens e mulheres pretos chegaram nesta terra na condição de escravos. Na força do chicote, aprenderam depressa que a superioridade da raça branca discriminava seres humanos iguais: rapidamente entenderam que eram menos, que eram nada.

Sob o verniz social, camadas de preconceito e autoritarismo lustravam os ricos salões. A herança colonial reforçava o ideal branco, a raça pura; qualquer padrão fora do único existente era rechaçado sem questionamento. Não havia outra lei. Para os que comandavam, era a sociedade perfeita; para os escravizados, restava a dor, a saudade, o medo, a humilhação, o abuso e as correntes.

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Hoje, séculos depois da libertação, os pretos descendentes dos filhos da África ainda sofrem com as desigualdades sociais. Todos os dias cenas se repetem e o preconceito continua enraizado nas entranhas da sociedade, floresce em empresas, escolas, círculos sociais, eventos, tendo adeptos em todos os lugares.

Nunca se falou tanto em combater esse preconceito, nunca se viu tanta denúncia escancarada nas mídias, mas as ações punitivas ainda são tão discretas que beiram o descrédito. Esbarramos em discursos que impactam as massas, porém ações concretas pouco eficientes passeiam pelos três poderes.

Cotidianamente chegam notícias de pessoas cujos direitos foram cerceados ou que simplesmente foram encarceradas, rotuladas, espancadas, assassinadas, por conta de preconceito racial e a sociedade assiste a tudo impassível. Raros reagem, outros se calam. Diante disso, é preciso desconstruir a ideia de diferença racial. A sociedade e as instituições educativas precisam se unir para fomentar um novo pensamento. A educação é a forma mais estratégica de mudar esse cenário na construção do pensamento crítico alavancando uma sociedade mais humana, que respeite verdadeiramente as diferenças, entendendo que ninguém é melhor ou pior, apenas todos são diferentes e são as diferenças que fazem a roda da vida girar.

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Castro Alves, em seu belíssimo poema “Navio Negreiro”, colocou a alma inteira em versos de intensa dor, relatando a travessia maléfica nos porões da África até o Brasil. 

“Senhor Deus dos desgraçados! 

Dizei-me vós, Senhor Deus, 

Se eu deliro… ou se é verdade 

Tanto horror perante os céus?!… 

Ó mar, por que não apagas 

Com a esponja de tuas vagas 

Do teu manto este borrão? 

Astros! noites! tempestades! 

Rolai das imensidades! 

Varrei os mares, tufão!”

Não há quem imagine esses porões de naus lotados de brancos amontoados, chicoteados, jogados ao mar em suas fraquezas, brancos para serem escravizados por séculos e séculos por simplesmente serem…brancos! Há quem possa imaginar tal cena?

Deixo esses questionamentos como pontos de reflexão para todos nós e compartilho um sonho (utopia, talvez?): um dia, todos os seres humanos serão tratados de forma igual. Não por nenhuma outra razão, a não ser uma só – o fato de sermos iguais. 

Por CRIS GOMES

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