Dezembro se foi, quase nem esteve e tampouco se despediu.
Janeiro chegou agitado, acelerando os primeiros dias do ano. Recomeço urgente com a pressa digital onde o agora sempre está atrasado feito notícia passada. É tanta urgência a nos devorar, que Cronos se delicia banqueteando aflitos e estressados.
Na velocidade dois quase sem pausa, os minutos terminam antes dos segundos e a briga vai enovelando as horas. Parece disputa de bigas numa arena onde cada segundo significa estar vivo ou não.
Assim tenho observado a maioria das pessoas. Vagam incertas pelas avenidas, ziguezagueando com seus celulares de última geração sem olhar ao atravessar ruas apinhadas de concorrentes. Zumbis vestidos de terno e gravata correndo afoitos entre uma reunião e um almoço de negócios. Estão sempre tão velozes e furiosos no trânsito; trocam farpas com pedestres distraídos e atropelam motoqueiros… é o caos da era moderna, da vida urbana agitando a semana geralmente curta.
Nessa reflexão, percebo que já é março. Desacelerei demais no ponto do ônibus e o trimestre já se desenha no poente.
Então paro o carro, ajusto o volume da música enquanto o semáforo não pisca o verde e espero pacientemente a troca das cores. Olho para o lado. A motorista me olha. Batom retocado. Lábios vermelhos sorriem, mas a buzina do carro detrás nos acorda do transe e ela voa atrasada porque o relógio da igreja bateu seis vezes. É junho.
Engato a primeira e saio pensando que um romance poderia ter começado naquele final de semestre.
Será que aquele ano seria propício ao amor?
Inspirei poluição pensando ser “love is in the ar” e agosto com seus cachorros loucos me tiraram do devaneio. Um caramelo latiu correndo atrás do carro e as crianças quase foram atropeladas na festa do seu dia. Que loucura! Halloween! Bruxas voando por toda cidade na greve de trens. Multidão de duendes, doentes e dementes vagando no dia dos mortos e proclamando em suas repúblicas, aos sete ventos, brados de esperança.
Então é Natal… a festa cristã…
Será possível? Nem pisquei duas vezes e o ano já está acabando? Doze meses e mal percebi!
Confraternização em cada esquina, shopping lotado e papai noel de todos os formatos fotografando com crianças que nunca viram; fazendo perguntas iguais e promessas que não cumprirão. Confusão de sacolas coloridas, presentes, pacotes enfeitados e salários saindo pelas máquinas de débito. Supermercados abarrotados de carnes natalinas, frutas secas, bebidas caras para todos os bolsos e gostos. Correria e compras de última hora. Afinal, nem corremos durante o ano. Nem percebemos o automático de nossas vidas, mas queremos brindar e celebrar.
Natal é Natal. Seja com neve ou praia escaldante.
O aniversariante? Ninguém lembra. Será algum amigo do FACE que esqueci de enviar mensagem? Será aquela amiga da minha amiga? Vou olhar rapidinho nas mensagens, de repente aparece o nome. Posso também procurar nos aniversariantes daquela lista do escritório.
Preciso de uma roupa nova, de preferência vermelha. Dá sorte!
Sorte mesmo é roupa branca na virada no ano. Claro! Ano Novo, a tradição por aqui, é vestir roupa branca.
Preciso correr para comprar. Engordei. Stress. Preciso pular as sete ondas. Fazer mais simpatias e novos pedidos.
Calma. Inspira. Expira. Lentamente.
Pensar no que deu certo, replanejar, entender o que pode e deve ser melhorado. Recomeçar. De preferência com menos pressa.
Feliz Ano Novo de novo!
AutoBiografia
Pensa e sonha e escreve. Essa sou eu. Cris Gomes.
Cinquenta e uns anos de estrada, muitos deles lecionando e aprendendo. Ensinando as palavras e a força delas. Professora por escolha, mulher por condição e mãe por decisão, escrevo para me revelar ao mundo.
Minha escrita vem da alma, do coração, da intuição parceira e da vontade de entregar ao mundo mais beleza, fé e esperança.
Apaixonada por livros, encontro neles alento e explicação para dúvidas. São companheiros de jornada e mestres dessa aluna sempre sedenta de conhecimento. Gosto do silêncio do vento, mas falo demais com minha família e não consigo fazê-lo sem que minhas mãos “falem” também.
Nesta coluna, vocês me encontrarão em cada palavra porque sou transparente na fé que professo: o BEM existe
Espero que seja uma leitura que lhes inspire a também oferecer seu melhor às pessoas, aos animais, à natureza, enfim ao planeta.
A minha energia encontrará em vocês, queridos leitores, força e garra para seguir em frente.
Embarquem comigo nessa leitura e que ela deixe sempre uma mensagem positiva no coração de cada um.
Convite
Tenho a idade em que a vida passeia diante de mim com mais calma A pressa das conquistas já não me deixa tão inquieta
Sigo com mais cautela
A cada página do calendário que vai embora, entendo o quanto é leviano negociar com a vida fazendo promessas que nunca cumprirei. Hoje caminho com menos pressa. O tempo tornou-se meu aliado
Conversamos diante do mar, no silêncio dos instantes entre uma onda e outra
Meus cabelos ficam desalinhados com o vento e isso não me deixa menos bonita; a beleza passeia pelas marcas no meu rosto
Aprendi a respeitar as regras que ele me impõe Sinto-me leve e em paz
Bendigo as oportunidades, saboreio a comida e me deleito com uma taça de vinho Aprecio boas conversas e abraços demorados
Fico contabilizando sorrisos e gosto de colecionar boas lembranças Elas me fazem estar mais comigo, amando a pessoa que me tornei
Imperfeita, rodeada de incertezas, mas com menos medos. Eles me povoam com modéstia Aprendi a domá-los e não permito mais que roubem minhas horas de sono.
Meu Deus, como é preciosa uma boa noite de sono…
Quando ando, consigo concentrar meu olhar nas flores e nos detalhes
A chuva incomoda menos, não fujo dela evitando molhar a barra da calça ou os sapatos, pelo contrário, levanto o rosto para sentir os pingos, eles lavam as asperezas da idade Os raios do sol deliciam minha pele, são vitamina e conforto quente
Minha idade?
Isso faz diferença para você? Realmente importa?
Penso que me mostrar, despida de excessos é mais relevante Não faço promessas, nem as de ano novo
Fazê-las é criar expectativas e a frustração vem se elas não acontecem. Melhor é deixar que o balanço das marés leve meus desejos e traga à praia, realidades
Hoje eu preciso mais de mim e me dou menos às pessoas. Já o fiz tanto e tantas vezes que me esqueci pelo caminho. Quando me reencontrei, compreendi que sou a pessoa mais importante para mim. Egoísta? Só um pouco… faz bem, sabia? Estou me amando mais Alguém me disse uma vez que o problema são os excessos. Achei engraçado. Depois compreendi e fiz dessa frase minha assinatura. Simplesmente me reconheci nela
Quero deixar minha marca
Quero viver muito e bem. Decidi, então, cuidar mais de mim: faço alongamento todos os dias e estou aprendendo a beber água
Meus filhos têm sido tolerantes com minha resistência e nunca desistem de mim
Esse amor devotado por viver tem me ajudado a cruzar décadas com a mesma certeza: a vida é preciosa e vou desfrutar desse presente com todas as minhas forças
Respeito cada cicatriz que ganhei da vida. Elas contam minha peregrinação nesta existência
Repouso sobre elas minhas mãos, acaricio demoradamente cada uma procurando memórias e encontro a mulher que me tornei
Estou na casa dos “enta” e isso não me assusta mais
Digo a mim mesma que amores e pessoas vêm e vão. Amigos novos, antigos, reencontrados, perdidos, achados ao léu, descobertos em vivências, praças, parques, na praia; todos chegam, ficam um tempo, depois partem. No final nos tornamos todos amigos uns dos outros. Isso é tão libertador, tão mais o que procuro ser
Observo como as pessoas gostam de se prender umas às outras pelos mais diferentes motivos, alguns meio doentios até, e fico me perguntando porque não ser livre. Adoro me sentir solta, sem preconceitos.
Ainda tenho fé na humanidade. Essa mesma fé foi me lapidando vagarosamente e, permitindo que minha intuição aflorasse, passei a ver além do óbvio, a cultivar esperança e benquerer.
Não me tornei autoridade no assunto ou algo assim, sou apenas uma pessoa comum, uma mulher simples e profundamente agradecida ao Criador pela alegria de ser inteira de dentro para fora
Assim, abro meus braços para te abraçar com minha escrita e desejo que seu coração se conecte ao meu para que juntos possamos lançar boas sementes. Quando nossa alma está plena, florescemos nosso lado mais sagrado e em comunhão com a vida, somos capazes de partilhar nosso melhor.
Vem comigo!
Por CRIS GOMES