Como prometido na Edição anterior da The Bard – Março e Abril, aqui na Coluna do FÓRUM DO SONETO, trataremos sobre o assunto que auxilia na métrica e, para os mais habilidosos, na métrica e também no ritmo do verso, os RECURSOS DE VERSIFICAÇÃO.
Preliminarmente, vale ressaltar que o Recurso não é uma obrigação executá-lo, caso fosse obrigatoriedade não seria um recurso, mas, uma regra, podendo o poeta, em seu livre arbítrio poético ignorá-lo sem quaisquer prejuízos no fazer poético. Os principais recursos, e mais conhecidos para auxiliar na métrica dos versos, os mais usados, fazem parte desse resumo de regras, sempre obedecendo o uso dos Metaplasmos de supressão de sons e que provocam alteração fonética dentro do verso, servindo para favorecer a métrica de acordo com sua sonoridade:
ELISÃO (Metaplasmo mais trabalhado no verso junto com a Sinalefa e Sinalefa Forçada): queda da vogal átona no final de uma palavra, ou seja, é a fusão de vogais no encontro de duas palavras, na obediência das regras acima expostas; a sílaba poética terminada em ditongo nasal e ditongo decrescente, com final em “u” e “i”, ex: “ai”, “ui”, “ei”, “ou”, “au”, “eu”, “iu”, etc… não se juntam com a próxima vogal de outra palavra para formar uma só sílaba poética, posto que nestes casos há uma queda brusca do som silábico, cortando a continuidade sonora;
Obs: unir tônica com átona é um Metaplasmo, para a maioria, forçado, considerado um recurso chamado de Sinalefa Forçada que, a exemplo de rebentos dos Imortais, podemos encontrar alguns exemplos do uso desse em Augusto dos Anjos e em até Olavo Bilac. Alguns Tratados não o recomendam, pelo choque sonoro entre as vogais, a chamada dissonância silábica no verso dita no Tratado de Olavo Bilac com Guimarães Passos, que é um resumo do Tratado de Antônio Feliciano de Castilho, mais completo e detalhado, alertando sobre o uso desse recurso; porém, a nova tendência e os mais meticulosos estudos, trazidos por José Maria Amorim de Carvalho, inovaram entendimentos, como exemplo, ao informar que “o ouvido do poeta é o seu melhor metrificador” e, de certa forma, isso é muito particular como também verdadeiro. Porém, o poeta deve saber o que realiza no seu verso, com o cuidado de não cair no ridículo, neste diapasão técnico, ao provocar dissonância por má ou frouxa aplicação da métrica.
SINALEFA, ex:
“A mão que afa/ga é a/ mesma que apedreja” (verso Decassílabo do soneto “VERSOS ÍNTIMOS”, de Augusto dos Anjos);
SINALEFA FORÇADA, ex:
“No entanto o mun/do é u/ma ilusão completa” (verso Decassílabo do soneto “A ESPERANÇA”, de Augusto dos Anjos).
DIALEFA ou HIATO: separação das sílabas dentro do verso, por dissonância, ou seja, choque sonoro entre duas vogais, geralmente, entre duas tônicas. Esse Recurso é perigoso e, geralmente, desconsiderado. Porém, uma das maiores executoras de Dialefas, talvez pelo idioma local falado, era a Florbela Espanca (muitos estudiosos do Soneto a consideram, apesar de grandiosa no lirismo, tecnicamente fraca);
SINÉRESE: transformação de um hiato em ditongo, ex: POESIA.
Separação silábica gramatical: PO-E-SI-A;
Separação silábica poética, sem Sinérese: PO/E/SI/A;
Separação sílaba poética, com Sinérese: POE/SI/A;
DIÉRESE: transformação de um ditongo em hiato (apesar de sua legitimidade patente, este Recurso é, hoje em dia, repugnado pela maioria dos estudiosos e sonetistas, e caiu em desuso), ex: MÁGOA.
Separação gramatical: MÁ-GOA;
Separação silábica poética, sem Diérese: MÁ/GOA
Separação sílaba poética, com diérese: MÁ/GO/A
AFÉRESE (Metaplasmo de supressão sonora) : queda de sílabas ou de fonemas iniciais, isto é, no início da palavra, usado muitas vezes para atender a exigência métrica de um verso; ex:
“inda” (em vez de “ainda”); “stamos” (em vez de “estamos”);
“Assim ‘stamos demais aprisionados”. Escansão do verso: A/ssim/ ‘sta/mos/ de/MAIS/ a/pri/sio/NA/dos = verso decassílabo em ritmo heroico.
SÍNCOPE (Metaplasmo de supressão sonora): supressão de som usado no meio da palavra, influenciando na pronúncia, ex:
Esp’ranças (em vez de “Esperanças”);
Mor (que ganhou identidade vocabular, em vez de “Maior”);
Túm’lu (em vez de “Túmulo”);
APÓCOPE (Metaplasmo de supressão sonora): supressão de som no fim da palavra, ex:
Mármor (em vez de “Mármore”);
ECTLIPSE: junção numa só sílaba poética, de uma consoante com uma vogal com a função de desnasalizar o som com a retirada do “m” para auxiliar na métrica (a Ectlipse pode, ou não, ser grafada com o apóstrofo no verso, ambas as formas estão corretas e aceitas pela prática poética, tradicionalmente); ex:
Eu/ cres/ço/ com a/ cer/TE/za/ ne/ssa/ VIda
Eu/ cres/ço/ co’a/ cer/TE/za/ ne/ssa/ VIda
Obs: “Com o”; “com a”, desta forma, funciona realizando o som “co a”; “co o”.
OBSERVAÇÕES FINAIS SOBRE OS ARTIGOS CONSTANTES NAS EDIÇÕES DA THE BARD “Novembro/Dezembro”; “Janeiro/Fevereiro”; “Março/Abril” FINALIZANDO COM A PRESENTE EDIÇÃO:
1- O presente texto técnico visa, genuinamente, a aplicabilidade metódica e organizada do verso no Soneto Clássico, visando a beleza como ideal de perfeição e foi desenvolvido de forma resumida, sob a luz de várias teorias literárias, dos mais famosos Tratados de Versificação e análises de centenas de obras dos Imortais da poesia. Registramos que o sonetista zeloso, deve primar pela aplicação das Rimas Perfeitas Consoantes (ver estudos de Rimas, natureza, classificações e espécies para aprofundado conhecimento da matéria) seguindo o Esquema Rímico (conjunto de aplicação de rimas no soneto) patente e legítimo, responsável pela classificação das espécies de sonetos.
2- Quanto ao Soneto Clássico, pela sua história, tradição e cultura poética, antes mesmo das doutrinas consagradas e estudos no campo da versificação, criados pelos diversos Tratadistas e Estudiosos, bastava inserir tônicas na sexta e décima sílabas, em se tratando do verso Decassílabo, que estaria cumprindo a realização do chamado Soneto Clássico… é verdade. Porém, hoje em dia, segundo os mais puristas e caprichosos quanto à beleza no verso, esse antigo entendimento, se levado à insistente aplicação, pode fatalmente ser considerado de prática precária quanto ao quesito técnico do verso no Soneto, a composição poética escrita mais culta do mundo.
Avante!
Por RICARDO CAMACHO
Idealizador, Fundador e Presidente do FÓRUM DO SONETO