FÓRUM DO SONETO – Rimas – importância no Soneto

FÓRUM DO SONETO – Rimas – importância no Soneto

 A rima revela a sonoridade nos extremos dos versos e adorna o soneto com uma musicalidade de impacto, em pausas, a cada mudança de linha. Aparentemente, para o leigo, uma característica simples, e até banalizada em algumas situações na poesia escrita, porém, o sonetista zeloso, atento, meticuloso, estudioso e caprichoso, sabe que essa afirmação não é verdade. O FÓRUM DO SONETO trabalha com a Rima Perfeita (aquela possui identidade total de grafemas após a última vogal tônica e, também, de sons, após a última vogal tônica), mas, neste ínterim, respeitando a cultura regional da língua e poética do sonetista, buscando, quanto ao valor da rima, sempre que possível (desde que não prejudique na poesia e na mensagem), empregar a Rima Rica (rimas com classes gramaticais diferentes e, em casos de rimas com verbos, desde que diversos no modo, empo e pessoa, ou em algumas destes aspectos) aceitando de bom grado as Rimas Preciosas ou Raras (ocorre entre palavras que permitem poucas possibilidades de aproximação fonética ou sonora; ex: vendo-a / amêndoa) e, também, as Rimas Pobres (com parcimônia e de forma comedida, desde que útil na mensagem e na poesia).

 O português Antônio Feliciano de Castilho, em seu Tratado de Versificação Portuguesa, de 1851, um dos tratados mais influentes da língua portuguesa, o mesmo tratado que inspirou a Olavo Bilac e Guimarães Passos a redigirem um posterior tratado de versificação, alicerçado nesse, em 1905, ensina:

 “Nem todos os consoantes se podem ter por de egual valor:

 1.º Os sons mais triviaes como o “ão”, “ar”, “or”, “ado”, “oso” , “issimo”, etc.., merecem menos apreço do que outros mais raros, como “arte”, “uria”, “érno”, etc. Neste particular são commummente desleixados os nossos poetas antigos; Camões mesmo se não exime da censura; logo as primeiras rimas dos Lusiadas a estão provocando – ados – ana – aram – ozas – ando – – etc.

 2 .° As rimas exquisitissimas, que são o extremo opposto das triviaes, devem ser empregadas com parcimonia , porque ás vezes roçam pelo escolho do ridiculo .

 3.° As palavras de identica indole grammatical, são rimas geralmente mais pobres, que as palavras de indole grammatical diversa .

Isto é, rimará melhor quem rimar um verbo com um substantivo , um adjectivo e um adverbio , do que quem rimar um adjectivo com outros adjectivos, um adverbio com outros adverbios, etc. Assignalados, navegados, esforçados, tudo adjectivos, e de mais a mais participios; – edificaram , sublimaram , ambos verbos e no mesmo modo , tempo, numero e pessoa ; – gloriosas, viciosas, valorosas, tudo adjectivos, e adjectivos qualificativos; – foram dilatand ) , andaram devastando, vão libertando, tudo gerundios; — fizeram , tiveram , obedeceram , tudo tambem verbos, e tambem no mesmo modo, tempo , numero e pessoa — são deploraveis desares no primeirointroito de tal poema como os Lusiadas.

 D ‘entre as palavras de identica índole grammatical, as que dão rimas menos mesquinhas são os substantivos, depois os adjetivos, depois os verbos.

 A rima de verbo com verbo pode passar de viciosa a plausível, quando cada um d’elles for diverso em modo, tempo, número e pessoa; ou pelo menos em algumas destas cláusulas, “edificaram” e “param”, rimam excellentemente; assim como, “está” e “fará”; —“diz” e“ouvis”; — “vigia” e “cantaria” ; – “estivesse” e “tece” ;“adocou –se” e “fosse”; -—“disse” e “subisse”, etc. Estes quase preceitos não são inspirações do mero instincto; explicam -se pela razão. A rima é uma difficuldade vencida para agrado do ouvido. Se as rimas são corriqueiras, nenhuma difficuldade com ellas se venceu ; se irmās quanto a classificação dos grammaticos, accrescentam á monotonia do som , uma nova monotonia , e com esta annullam aquella todo o seumerito, mais convencional que real.

 O que neste capitulo deixamos dito, são menos leis absolutas, que avisos e conselhos, os quaes é todavia bom não perder jámais de vista , se se aspira , como se deve aspirar, á maxima perfeição da forma poetica. Bocage é ainda nisto um dos modellos menos arriscados. Em diverso genero, a rima de Tolentino é tambem magistral. Se eu me não tivesse imposto como obrigação o não citar neste tratado os contemporaneos, não por alguma repugnancia que tenha ao louvar, mas porque o louvor dado a um , muitos outros o tomam como injuria, poderia juntar a estes dois belos nomes, os de mancebos que algum dia têem de preencher lugar brilhante na nossa historia litteraria.” (Páginas: 117 a 119).

 E isso, meus amigos leitores, não é tudo, mas o suficiente para inclinar o sonetista ou o aspirante ao caminho do aperfeiçoamento sólido e com brilho, na arte de compor sonetos.

 Avante!

Por RICARDO CAMACHO
Líder do FÓRUM DO SONETO

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