A LITERATURA BRASILEIRA
Estamos em mais uma edição da Revista The Bard, iniciamos mais uma viagem literária, e dessa vez pela literatura brasileira. Vem comigo, vamos embarcar nas caravelas, aportar nos livros e experimentar a delicia que é escrever e ler a nossa literatura!
A literatura é uma possibilidade de refúgio, abrigo, de ampliar a nossa compreensão da natureza humana e, com isso, nos tornar mais preparados para enfrentar as hostilidades que a mesma, oferece. A literatura é essencial em muitos aspectos, e no caso brasileiro, por nos mostrar o antes e o atual da sociedade nos possibilitam refletir e mudar a situação. Algo que não é novidade para nós, é o preconceito com a literatura nacional. Observa-se que muitos brasileiros preferem consumir o que vem de fora do país, na maioria por considerar melhor do que é feito aqui, incluindo os livros. E isso, faz crescer a desvalorização aos escritores e poetas do Brasil. Penso que ainda seguimos acorrentados, mesmo sem perceber, ao ideário “estrangeiro” que historicamente deu início a literatura brasileira.
Temos consciência, que há muitos autores no país que abordam diversos assuntos em seus livros, porém, necessitam dos mais diferentes tipos de incentivos para continuar escrevendo e sendo consumido. Iniciei esse artigo discorrendo sobre essa pauta, por considerá-la necessária e urgente. Nem um autor, escritor quer escrever um livro para colocar como enfeite em estantes. Quer ser consumido, avaliado e reconhecido. A falta de estímulo, de estrutura, fatores sociais e políticos fazem muitos desistir, engavetar os escritos e entrar no chamado bloqueio criativo, que pode durar anos.
Como historiadora é encantador falar do surgimento da literatura e reportar-me ao início da história do Brasil, poder, imaginariamente, entrar nas caravelas e ver os bastidores de um diário de bordo escrito por Pero Vaz de Caminha, onde um dos seus escritos inauguraria a literatura brasileira. Sim, foram os portugueses lá em 1500 que iniciaram a história da literatura nacional. Sim! Há 520 anos, com a nossa história enquanto nação com a Carta de Pero Vaz de Caminha!
Observo que falar de literatura nacional antes dos portugueses, se torna quase impossível. Por se entender que as sociedades indígenas que aqui viviam, eram ágrafas, não possuíam registros escritos, não havia nada “documentado” em forma de escrita ou sinais gráficos.
Pero Vaz não escreveu uma simples carta, foi minucioso ao relatar a descoberta, trazendo um texto repleto de metáforas, uma escrita digna de um grande escritor, fazendo muitos estudiosos considerá-la mais que uma simples carta. Esses relatos descritivos destinados à coroa portuguesa são classificados como conteúdos informativos sobre a natureza e os habitantes da colônia. Esse período é denominado como Quinhentismo.
Periodização da literatura brasileira
Todo material literário criado em terras brasileiras, a princípio, era de autoria portuguesa ou, quando apareceu os primeiros letrados por aqui, era de formação universitária toda em Portugal. Assim sendo, o início da literatura brasileira não foi inédito, por sermos considerados inicialmente uma sociedade sem escrita. Portanto, para compreender melhor esse princípio, faz-se necessário um pouco de conhecimento sobre a literatura portuguesa.
Podemos falar que o Brasil tem duas grandes eras literárias: era Colonial e Era Nacional, que se misturam com o nosso amadurecimento enquanto país, com política, economia “libertando-se” das amarras portuguesas.
A Era Colonial e a Era Nacional são separadas por um período de transição que corresponde à emancipação política do Brasil.
As datas que delimitam fim e início de cada era são, na verdade, marcos onde se acentua um período de ascensão e outro de decadência. As eras são divididas em escolas literárias, também chamadas de estilos de época.
Era Colonial
A Era colonial da literatura brasileira começou em 1500 e vai até 1808. É dividida em Quinhentismo, Seiscentismo ou Barroco e o Setecentismo ou Arcadismo. Recebe esse nome, pois nesse período o Brasil era colônia de Portugal.
Quinhentismo
O Quinhentismo é registrado no decorrer do século XVI. Essa é a denominação genérica de um conjunto de textos que destacavam o Brasil como terra nova a ser conquistada. Às duas manifestações literárias do período são a literatura de informação e a literatura dos jesuítas. As informativas têm como exemplo a carta e outros relatos sobre à terra descoberta e jesuítica, que visava à conversão do povo indígena. Além de Pero Vaz de Caminha, outro nome importante do Quinhentismo é o de Padre Anchieta.
Barroco
O Barroco é o período que se estende entre 1601 e 1768. Tem início com a publicação do poema, prosopopeia, de Bento Teixeira e termina com a fundação da Arcádia Ultramarina, em Vila Rica, Minas Gerais. Tem como característica literária principal o conflito entre antropocentrismo e teocentrismo, ou seja, uma crise existencial humana.
O Barroco literário brasileiro desenvolve-se na Bahia, tendo como pano de fundo a economia açucareira. Dois estilos literários que marcaram essa escola foi: o cultismo e o conceptismo. Um dos maiores representantes foi o poeta Gregório de Matos, conhecido como “boca do inferno”. Além dele, merece destaque o padre Antônio Viera e seus Sermões.
Arcadismo
O Arcadismo é o período que se estende e 1768 a 1808 e cujos autores estão ligados ao movimento da Inconfidência, em Minas Gerais. A simplicidade, a exaltação da natureza e os temas bucólicos são as principais características dessa escola literária. Tem início com a publicação de “Obras Poéticas”, de Cláudio Manuel da Costa, em 1768. Além dele, merece destaque o poeta Tomás Antônio Gonzaga e sua obra “Marília de Dirceu” (1792).
Era Nacional
A Era Nacional da literatura brasileira começa em 1836 e dura até os dias atuais. Começa com o Romantismo e perpassa pelo Realismo, Naturalismo, Parnasianismo, Simbolismo, Pré-Modernismo, Modernismo e o Pós-modernismo.
Recebe esse nome, por vir após a Independência do Brasil, em 1822. Nesse período o nacionalismo é uma forte característica, notória na literatura romântica e moderna.
O Romantismo
O romantismo inicia-se em terras brasileiras, 1836, com a publicação da obra, Suspiros Poéticos e Saudades, de Gonçalves Magalhães. Perdura até 1881, quando Machado de Assis e Aluísio de Azevedo publicam obras de orientação Realista e Naturalista.
Está dividido em três fases: na primeira temos uma forte carga nacionalista, onde o índio é eleito herói nacional (indianismo). Os autores mais importantes são José de Alencar e Gonçalves Dias; no segundo momento, os principais temas explorados estão ligados com o pessimismo e o egocentrismo, onde se destacam Álvares de Azevedo e Casimiro de Abreu. Já na terceira fase, a mudança é notória tendo a ‘liberdade’ como tema principal. Os principais representantes são Castro Alves e Sousândrade.
Realismo
No Brasil, o realismo começa em 1881 quando Machado de Assis publica Memórias Póstumas de Brás Cubas. As principais características são o objetivismo e a veracidade dos fatos, os quais são explorado por meio de uma linguagem descritiva e detalhada. Temas sociais, urbanos e cotidianos são apresentados pelos escritores do período. A ideia era mostrar um retrato fidedigno da sociedade. Além de Machado de Assis, merecem destaque Raul Pompeia e Visconde de Taunay.
Naturalismo
Essa escola literária no Brasil tem início em 1881 com a publicação da obra O Mulato de Aluísio de Azevedo. Paralelo ao realismo, esse movimento literário também pretendia apresentar um retrato fidedigno da sociedade, no entanto, com uma linguagem mais coloquial.
A obra O cortiço (1890) de Aluísio de Azevedo é um bom exemplo da prosa naturalista desenvolvida no período. Além dele, destaca-se Adolfo Ferreira Caminha e sua obra A Normalista, publicada em 1893.
Parnasianismo
O Parnasianismo tem como marco inicial a publicação da obra, fanfarras, de Teófilo Dias, em 1882. Ainda que os autores do período escolhessem, temas relacionados com a realidade, a preocupação residia na perfeição das formas.
A “arte pela arte” é a temática principal do movimento. Os valores estiveram essencialmente voltados para a estética poética, como a métrica, as rimas e a versificação. Os escritores que se destacaram nesse período formavam a “Tríade Parnasiana”: Olavo Bilac, Alberto de Oliveira e Raimundo Correia.
Simbolismo
O Simbolismo começa em 1893 com a publicação de Missal e Broquéis, de Cruz e Souza. Ele vai até o início do século XX, quando ocorre a Semana de Arte Moderna.
As principais características dessa escola literária são o subjetivismo, o misticismo e a imaginação. Destacam-se as obras poéticas de Alphonsus de Guimarães e Augusto dos Anjos. Esse último, já apresenta algumas obras de caráter pré-modernista.
Pré-Modernismo
O pré-modernismo no Brasil foi uma fase de transição entre o simbolismo e o modernismo que ocorreu no início do século XX. Já se observava algumas características modernas como a ruptura com o academicismo e ainda, o uso de uma linguagem coloquial e regional.
As temáticas mais exploradas pelos escritores do período estiveram voltadas para a realidade brasileira com temas sociais, políticos e históricos. Com uma grande produção literária, destacam-se os escritores: Monteiro Lobato, Lima Barreto, Graça Aranha e Euclides da Cunha.
Modernismo
O Modernismo no Brasil é marcado pela Semana de Arte Moderna, ocorrida em São Paulo em 1922. É o limite entre o fim e o início de uma nova era na literatura nacional e nas artes na totalidade.
Inspirado nas vanguardas artísticas europeias, o movimento modernista propõe o rompimento com o academicismo e o tradicionalismo. É assim que a liberdade estética e diversas experimentações artísticas são apresentadas nesse momento.
Esse período foi dividido em três fases: a fase heroica, a de consolidação e a pós-moderna.
Com uma intensa produção poética, muitos escritores se destacaram: Oswald de Andrade, Mário de Andrade, Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, Rachel de Queiroz, Cecília Meireles, Clarice Lispector, Jorge Amado, João Cabral de Melo Neto, Guimarães Rosa, Graciliano Ramos, Vinícius de Moraes, dentre outros.
Pós-Modernismo
A produção artística brasileira passa por intensa transformação após o fim das 1945. Assim, o pós-modernismo é uma fase de novas formas de expressão que acontecem na literatura, no teatro, no cinema e nas artes plásticas.
Essa nova postura moldará o imaginário por meio da ausência de valores, a liberdade de expressão e o forte individualismo.
A literatura brasileira contemporânea é composta por muitos escritores: Ariano Suassuna, Millôr Fernandes, Paulo Leminski, Ferreira Gullar, Adélia Prado, Cora Coralina, Nélida Pinõn, Lya Luft, Dalton Trevisan, Caio Fernando Abreu, etc.
Em primeiro de maio, celebra-se o Dia da Literatura Brasileira. A comemoração foi instituída em homenagem à José de Alencar, que além de escritor, era advogado, jornalista e político. Nascido nesse mesmo dia, mas no ano de 1829 no Ceará, foi um grande escritor brasileiro, autor de obras célebres como “O guarani” (1857); “Iracema” (1865) e “Senhora” (1875). Foi imortalizado pela Academia Brasileira de Letras, ocupando a cadeira número 23.
Esse artigo se propôs a somar e assomar conhecimentos a respeito da literatura brasileira, contribuindo para ampliar conhecimentos e aflorar os já existentes e, também um convite para que você leia, apoie, compre livros e divulgue escritores/autores brasileiros. Ao ler um livro nacional é possível se deparar com nossa cultura sendo usada na ambientação da história. Você vai se identificar mais facilmente com os costumes e com a sociedade, além de se sentir em casa. Vamos fazer essa experiência?
Ate à próxima! Beijos na alma.
Por BETÂNIA PEREIRA