O amor é como uma sinfonia, uma ópera iluminada, que transcende o coração e a alma de quem ama,
e percebe que o amor e uma linda canção cantada por um único tenor, deus.
Sandro Kretus
Ao ministrar uma aula de cultura espanhola, disciplina que foi obrigatória no Novo Ensino Médio, onde justamente me referia a gêneros musicais na América hispânica, ali observando a desatenção, refletindo o desinteresse por parte dos alunos em relação aos temas, vieram-me diversos questionamentos, dentre eles: O que é ópera? E o que ela representa em nossos dias de hoje? Existem novas óperas ou somente aquelas que foram compostas no passado? Como posso gostar de ópera? São perguntas inevitáveis para um público jovem acostumado a diferentes expressões artísticas desenvolvidas por novas mídias que resultaram de toda a evolução tecnológica dos últimos cem anos, principalmente o cinema. Num ambiente de sala de aula e mesmo em outros, existe a necessidade de aproximação do público para não haver o afastamento (esquecimento) da cultura, inovar. Convido-te a adentrar na história e conhecer mais sobre esse gênero artístico tão diversificado e rico, que atravessa o tempo e nos alcança de forma apaixonante. Venha!
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A ópera é um gênero de teatro em que a música atua como protagonista, uma vez que é acompanhada por uma orquestra ou por um conjunto de instrumentos menor e que apresenta profissionais que cantam os seus textos.
Outro ponto forte da ópera é o seu caráter cênico, que traz atores figurantes, cenários e figurinos e, em alguns momentos, também apresenta bailarinos e dançarinos.
O seu texto é chamado de libreto, cuja palavra vem do italiano e significa livrinho. Geralmente, ele é escrito em verso e engloba tanto as partes recitadas e as chamadas áreas líricas.
“A ópera é um elemento transformador, constituindo uma ferramenta fundamental
para o engrandecimento cultural de uma sociedade”.
Rogério Mendes P. Júnior
Há dois estilos principais de ópera que são:
- Ópera-séria: que é conhecida por seu elevado caráter dramática, grandiosidade de figurino, múltiplas cenas e sofisticação;
- Ópera – buffa: que é mais leve e que difere da séria por trazer a comédia e o divertimento, e por retratar cenas e figuras comuns do dia a dia.
Para compreender melhor o que é ópera, é fundamental conhecer também os diferentes tipos de vozes masculinas e o enredo.
O enredo da ópera tradicionalmente segue um roteiro clássico, que é composto:
- Pela abertura: momento em que a música é tocada pela orquestra;
- Pela parte recitativa: a fase em que ocorre o diálogo entre os artistas.
Nesse quadro, enquanto os cantores principais interpretam a parte lírica (árias), os coadjuvantes participam do coro.
Já as diferentes classificações vocais são seis, divididas em:
- Vozes femininas: soprano (a mais aguda, é geralmente a protagonista), mezzo-soprano (entre o soprano e o contralto), contralto (a mais grave);
- Voz masculina: tenor (a mais aguda, é geralmente o protagonista), barítono (a voz entre tenor e baixo) e baixo (a mais grave).
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Apesar dos primeiros libretos de ópera remeterem ao período renascentista, as origens da ópera são bem mais antigas, uma vez que figuras importantes bem anteriores da Grécia Antiga, no século IV A.C., como o dramaturgo Sófocles, já combinavam a música e a encenação para interpretar as tragédias gregas.
Há outros textos que apontam que o início da história da ópera remonta, na verdade, à Idade Média. Nesse período, no entanto, os textos apresentavam um objetivo diferente dos da Grécia Antiga, uma vez que tinham como meta encenar trechos da Bíblia.
Essa discordância de como surgiu à ópera foi perpetuada. Isso porque também não há um consenso sobre o seu começo em tempos mais modernos entre historiadores musicais.
Porém, a ideia mais aceita é de que sua origem moderna tenha tido início na Itália, no século XVI, quando uma série de artistas, entre eles cantores e escritores, se uniram e, assim, desenvolveram peças musicais conhecidas, na época, como comédias madrigais.
O primeiro texto integral de ópera foi escrito por Jacopo Peri e Ottavio Rinuccini, dois membros da elite de Florença. Esses autores buscavam reviver, em 1598, as cenas famosas da tragédia grega dos séculos anteriores e fizeram isso por meio da peça Dafne, um texto que, infelizmente, desapareceu com o tempo.
Imagem de Dafne perseguida por Apolo, pintura de Giovanni Battista Tiepolo, 1744 por Wikipedia
Destacamos que nas primeiras óperas consideradas modernas, as partes cantadas não apresentavam uma relação com as cenas interpretadas. A ópera que mudou essa proposta foi a L’Orfeo, de Claudio Monteverdi que, no século XVII, de forma inédita, reuniu os elementos cantados e suas interpretações de forma concisa. Assim, a ópera se difundiu para várias partes da Europa e para o resto do mundo, atingindo o ponto máximo de sua popularidade nos séculos XIX e XX.
Nesse contexto, é importante observar que, pelo fato de combinar poesia, drama e canções, esse gênero não foi bem aceito logo de cara, pelo fato de que as pessoas, muitos intelectuais inclusive, enxergavam nessa forma de arte uma sofisticação exagerada e uma linguagem que causava estranheza.
Com a ópera, surgia uma nova era da história da arte ocidental e as demais manifestações artísticas e musicais foram influenciadas por ela. A ópera reinou absoluta por mais 300 anos, seduzindo públicos cada vez maiores e entusiasmados, até ser gradativamente suplantada no século XX pelo cinema.
Algumas óperas que marcaram a história foram:
1- O Barbeiro de Sevilla
Considerada uma das óperas mais engraçadas de todos os tempos.
2- Tosca
Que é famosa pela sua intensidade dramática e por apresentar um lirismo deslumbrante.
3- Otello
Que retrata, de forma sublime, a tragédia de traição e ciúme de Shakespeare.
4- Tristão e Isolda
Que é uma das óperas mais importantes do maestro italiano Richard Wagner.
Imagem de Tristão e Isolda, Wikipedia por Herbert Draper
5- Carmen
Que é considerada a ópera precursora de cunho feminista.
O século XX trouxe mudanças impressionante para a sociedade e para a cultura, basta lembrarmos-nos de toda a evolução tecnológica: aviões, automóveis, gravações sonoras, cinema, televisão, internet e tantas coisas mais, uma revolução sem precedentes! Tudo mudou e, claro, a ópera também. Como arte total, ela reflete como nenhuma outra o seu tempo.
O intercâmbio crescente entre povos das regiões mais distantes do planeta, a diversidade de linguagens musicais decorrentes da globalização que caracteriza o nosso tempo, ou seja, possibilidades que parecem cada vez mais infinitas contribuíram para que a ópera tenha se tornado cada vez mais estimulante. Precisaríamos de um espaço maior do que o que usamos até aqui para falar de tudo o que aconteceu com ela nos últimos cem anos!
E a combinação da ópera com o cinema permitiu que as encenações dos principais palcos teatrais chegassem a todos, em qualquer lugar do planeta. Óperas de todos os tempos que falam a nós hoje e nos transformam com a mesma intensidade, as mesmas emoções e a mesma beleza com que falaram quando foram criadas.
Imagem de Auyob Masih por Freepik
A ópera tem uma grande relevância cultural e artística, sendo considerada uma das formas mais sofisticadas de expressão artística. Ela permite a integração de diversas linguagens artísticas, como a música, a poesia, a interpretação teatral e a cenografia, criando uma experiência sensorial completa para o espectador. A ópera é eterna porque é a própria vida! A ópera é viva! Viva a ópera!
Vejo flores em você e elas fazem ópera e operam entre nós!
Por BETÂNIA PEREIRA