MÃE ÁFRICA – Os rituais dos Povos Lundas

MÃE ÁFRICA – Os rituais dos Povos Lundas

O Reino da Lunda (1050-1887), também conhecido como Império Lunda, foi uma Confederação africana pré-colonial de estados, desde o Katanga (RDC), o rio Luio até Liambeji ou Zambeze e o noroeste da Zâmbia. O seu estado central ficava no actual Katanga (RDC) ou a capital Imperial a famosa MUSSUMBA.

Soba Lunda

O Reino da Lunda ficou dividido no século XIX, quando ocorreu as guerras intestinais na Corte da Família Real do Império entre o século XIV, XV a XVI por causa do tabú da soberana Lueji a mais velha entre os três irmãos (herdeiros do trono). O Reino dividiu-se em três partes, sendo; Reino Lunda Luba, Reino Lunda Ndembo, Reino Lunda Tchokwe.

No Séc. XVIII, uma parte do povo Tchokwe “nomeado pela antiga colônia portuguesa de KIÔKO” estendeu-se de forma permanente até ao leste de Angola nas províncias da Lunda-sul, Lunda-norte e Moxico. 

Dom Mwata Jamwo Kauma Rei da Lunda, 1928

Dos principais cultos e cerimónias culturais destacam-se Mahamba, Ukule e Mucanda.

Quanto à Mahamba (plural de Hamba), trata-se de cultos aos espíritos tutelares (espíritos ancestrais ou da natureza) que estão representados por estatuetas, árvores e máscaras. Para garantir a protecção diária ou apaziguar um espírito, são realizadas ofertas, sacrifícios e orações. Se algum hamba estiver zangado, pode provocar doenças ou prejuízos no transgressor, como infertilidade nas mulheres e azar na caça feita pelos homens.

Relativamente à Ukule, consiste num ritual de iniciação feminina, realiza-se aquando da primeira menstruação (ukule) da adolescente. Esta cerimónia é constituída por várias etapas durante as quais a jovem (kafundeji) aprende uma dança do ventre (apreciada pelos Tshokwe e que antecipa as relações sexuais), recebe instruções sobre o acasalamento, é pintada com tatuagens púbicas (mikonda) para fins eróticos e, juntamente, com o seu futuro noivo, procede a diversos rituais que culminam na consumação do casamento dos dois jovens.

E por fim o Mucanda, se efectua durante a puberdade, trata-se dum ritual de iniciação masculina durante o qual os jovens ou crianças maiores de 8 anos são circuncidados. Mucanda designa o campo cercado com palhotas redondas, no qual os iniciados, tundandji (plural de kandandji), vivem afastados das suas famílias por um período de um a dois anos. A iniciativa de um ritual mucanda é tomada pelo chefe da aldeia. A máscara kalelwa ou mukixi kalelwa (quando vestida) marca o início e o fim do ritual e proíbe severamente a aproximação de mulheres à mucanda. Durante o retiro, os iniciados aprendem os procedimentos das cerimónias de culto, fazem máscaras para os rituais e exercitam diferentes tipos de dança e artes de pesca e caça, que serão executadas diante da comunidade a fim de mostrarem os seus talentos como homem.

Relativamente às máscaras, como se descreveu na edição anterior, de forma geral há três grandes grupos ou tipos de máscaras:

1º tipo ou grupo é designado por Tchikungu ou mukishi wa mwanangana (palhaço ou máscara real – do reino), corresponde à máscara sacrificial sagrada e representa os antepassados do chefe tribal;

2º tipo ou grupo denomina-se mukishi a ku mukanda (palhaço ou máscara da iniciação masculina) é equivale às máscaras do mucanda, das quais são exemplo a Tchiikunza e a Kalelwa que, depois do ritual, são queimadas, e finalmente;

Máscara Lunda

3º tipo ou grupo, designado mukishi a kuhangana, corresponde às máscaras de dança – as mais conhecidas e as mais frequentes em museus e colecções privadas – sendo as máscaras Tchiihongo (para os homens) e Pwó (para as mulheres) os modelos principais. Salienta-se que a palavra mukishi (plural de akishi) indica que um espírito ancestral ou da natureza encarna na máscara. O mascarado não é identificável, pois está encoberto com a máscara e com um fato feito de fitas entrelaçadas que lhe cobre as mãos e os pés. Segundo a tradição dos Tshokwe, aquele que põe a máscara perde as suas qualidades humanas e incorpora o espírito.

Máscara Mukishi

Por ALEGRIA MAURO

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