Enganam-se os que pensam que cabe à Grécia Antiga o privilégio de ser o berço das raízes históricas do teatro. Nossos ancestrais, desde a pré-história, já se comunicavam por meio da imitação, assim como usavam outras linguagens a partir do corpo, como a dança, e registravam acontecimentos com desenho nas paredes das cavernas.
A imitação, segundo estudiosos, era a base para narrar episódios de luta corporal com animais, ou entre tribos, por exemplo. Os gestos, em uma época em que a fala ainda não era realidade, foram o simbolismo que encontraram para compor narrativas.
Do ponto de vista do teatro com base na produção textual, na dramaturgia, a literatura desta arte aponta a Grécia Antiga como a precursora, em meados do século VI a.C.
Teatro, inclusive, é uma palavra que tem origem no termo grego theatron. Significa “lugar pra ver”.
As festividades em homenagem a Dionísio, divindade da mitologia, também conhecido por Baco e Évio, dentre outros nomes, teriam impulsionado o surgimento desta arte. Os rituais incluíam louvores e cantos a este deus que se relacionavam a vinho, diversão e fertilidade. Se estendiam por dias e dias durante o período da colheita.
Em homenagem ao deus mitológico foi construído o Teatro de Dionísio, considerado o mais importante dos teatros da Grécia Antiga. Está situado na encosta sul da Acrópole de Atenas, e possui 78 fileiras de assento, em pedra. A capacidade é de 17 mil expectadores.
Aristóteles, filósofo grego, na sua obra “Arte poética”, ou Poética, registra que os dois mais importantes gêneros do teatro hegemônico nascido na Grécia – a tragédia e a comédia – foram originados por influência dessas festividades. De início, populares participavam intensamente do agradecimento coletivo pela comida e bebida. Faziam caminhadas, no estilo das procissões, que ficaram conhecidas como “ditirambo”. As homenagens avançaram para o “coro”, ocasião em que Dionísio era homenageado com cantos e danças.
A máscara, de acordo com historiadores, foi introduzida por um cidadão conhecido por Téspis que, durante um ritual, colocou uma máscara para representar o deus mitológico que estava sendo homenageado. O ato provocou uma interação com os que estavam cantando e dançando no coro. Por esta atitude, Téspis é considerado, ao mesmo tempo, criador do teatro, primeiro ator e até produtor teatral.
Os teatros da Grécia clássica tinham como característica a divisão em três partes; orquestra, um espaço circular reservado para as danças, que abrigava também o coro e a representação dos atores; as arquibancadas para o público, ao ar livre, erguidas nas colinas; e o palco, em que atores se preparavam para encenar, e onde eram guardados tanto os cenários como o figurino que eles utilizavam. Os cidadãos gregos valorizavam a ida ao teatro, que passou a fazer parte da sociedade de tal forma, que multidões enchiam as arquibancadas.
Todo o Ocidente foi influenciado pelo teatro grego. Na Roma Antiga, a influência da Grécia se juntou a da cultura etrusca, uma civilização que habitou a península itálica, antes dos romanos, a partir do século IX a.C. Os romanos, além de absorverem as duas culturas, passaram a deixar sua própria marca na arte do teatro.
Uma das características romanas que ficaram registradas na história foi a arquitetura. Eles agregaram arcos e abóbodas. Isso permitiu a construção de edifícios, como os anfiteatros, que, por serem mais amplos, conseguiam receber muitas pessoas. Ao usarem vários arcos, os construtores conseguiram projetar o auditório. O novo estilo possibilitou que os teatros não mais dependessem de colinas para serem assentados. Podiam ser construídos em qualquer lugar.
Outra modificação foi a introdução de mais entretenimento e menos teor religioso. Foi a época das lutas dos gladiadores e com animais. O estilo desse tipo de luta requeria que fosse visto de vários ângulos, por conta dos detalhes e da rapidez de movimentos. Essa demanda fez cair a importância de que o palco ficasse diante do auditório, em semicírculo.
A história e a arte caminham juntas. No sentido positivo ou negativo, sempre interagem, impactam uma à outra. Foi o que aconteceu após o declínio do Império Romano. O longo período entre os séculos V ao XV demarca a Idade Média. Por ser vista na época medieval como uma arte marcada por pecados, a linguagem teatral foi praticamente escorraçada da Europa. Apenas podia ser executada se fosse com teor religioso, a partir de histórias bíblicas e encenadas por integrantes do clero. Só no século XII que o teatro passou a reconquistar seu espaço.
Cada época de destaque na história foi provocando alterações na linguagem teatral. No século XV, por exemplo, teve início na Itália o teatro renascentista, com foco no popular, e ênfase na comicidade e no burlesco. Além da própria Itália, países como França, Inglaterra e Espanha viram o crescimento do teatro renascentista. Em outros países, a influência medieval ainda se manteve forte.
Do século XVIII ao IXX o movimento artístico foi o romantismo, que influenciou na construção de dramaturgias e modelos teatrais. Antagônico a ele, surgiu o teatro realista, na Europa da segunda metade do século IXX. A intenção era justamente criticar os hábitos da sociedade. O movimento era amplo, abrangendo outras linguagens, como pintura, escultura, música e arquitetura.
No seu percurso na história, o teatro chegou ao Brasil no século XVI, com os jesuítas. Os padres, envolvidos com a catequização de indígenas e colonos, se valiam da linguagem teatral para repassar os rudimentos da igreja católica. A iniciativa ficou conhecida como teatro de catequese e teve, entre seus idealizadores, o padre Anchieta. No século XVII, o teatro no Brasil se caracterizou por uma mistura de festas populares e eventos religiosos.
No final de 1807, com a chegada de Dom João VI, a cena cultural no país ganhou novo status, principalmente com um decreto determinando a criação de teatros para a aristocracia. A iniciativa trouxe peças da França, que não representavam o povo.
No Brasil, o século XIX trouxe a comédia de costumes, que ironizava a sociedade da época, a partir da sátira e do humor. Quando o teatro realista chegou ao Brasil, era o período de mudanças profundas, como o fim da escravidão, a Proclamação da República e uma nova classe trabalhadora formada por imigrantes de diferentes continentes.
Já no século XX, a criação de companhia nacionais de teatro fizeram com que esta linguagem artística ganhasse conotação própria no país. Entre estes movimentos se destacam o Teatro do Estudante do Brasil, em 1938; o Teatro Brasileiro de Comédia, em 1948; o Teatro de Arena, em 1953 e o Teatro do Oprimido, na década de 1970. O teatro, assim como outras linguagens artísticas, foi afetado pela censura da ditadura militar, por mais de vinte anos, entre 1964 e 1985. Muitos dramaturgos e atores deixaram o país. Após a retomada da democracia, o teatro brasileiro voltou a se destacar e ser reconhecido nacional e internacionalmente.
Em todo o mundo, o teatro continua se expandindo e se adequando à cada época. Nos dias atuais, o teatro pode ser encontrado em suas variadas vertentes, como o teatro profissional, amador, voltado à educação, ao comércio, à política. Segue contando histórias e despertando audiência.
Grandes nomes do teatro mundial
Ésquilo (525 – 456 a.C.) – Dramaturgo grego, considerado o fundador da Tragédia Grega. Uma de suas obras mais conhecidas foi a tragédia “Prometeu Acorrentado”.
Sófocles (497- 406 a.C.) – O dramaturgo grego desenvolveu personagens mulheres trágicas, como Electra e Antígona. “Édipo Rei” foi sua obra-prima.
Eurípedes (484 – 406 a.C.) – Também grego, criou um dos personagens mais importantes do teatro universal, “Medéia”.
Gil Vicente (1465 – 1536) – Português que, mesmo tendo vivido a época do Renascimento, fez um teatro primitivo e popular. Escreveu mais de 40 peças.
William Shakespeare (1564 – 1616) – O dramaturgo e poeta inglês, destaque da literatura universal, escreveu “Macbeth”, “Otelo”, “Hamlet”, “Romeu e Julieta” e “Sonho de uma noite de verão”, dentre outras.
Molière (1622 – 1673) – Diretor, ator e dramaturgo. Um dos grandes nomes do teatro francês no século XVII. O estudo do caráter humano foi seu foco.
Henrik Ibsen (1828 – 1906) – O norueguês foi dramaturgo, poeta e diretor teatral. Integrante do teatro realista moderno, criou o “Teatro de Ideias”.
Constantin Stanislavski (1863 – 1938) – Escritor, pedagogo das artes cênicas, ator e diretor russo. Montou um sistema que compõe técnicas de atuação para ator.
Bertolt Brecht (1898-1956) – O alemão foi dramaturgo, poeta e romancista, criador do Teatro Épico Anti-Aristotélico. Sua obra-prima é “Mãe Coragem e Seus Filhos”.
Samuel Beckett (1906-1989) – Dramaturgo irlandês, diretor de teatro, romancista e poeta. Recebeu o Prêmio Nobel de Literatura em 1969. Destacou-se com “Esperando Godot” e, junto com Eugene Ionesco, iniciou o “Teatro do Absurdo”.
Nelson Rodrigues (1912-1980) – O brasileiro foi escritor, jornalista e dramaturgo. Suas obras focavam a vida suburbana do Rio de Janeiro. Era considerado imoral, porém moralista. Escreveu 17 peças teatrais.
Arthur Miller (1915-2005) – Um dos mais conhecidos dramaturgos estadunidenses do século passado. Recebeu o Prêmio Pulitzer, em 1949, premiação aos críticos de teatro de Nova Iorque.
Fonte:
Leite, Rodrigo Morais. História do teatro ocidental: da Grécia Antiga ao Neoclassicismo francês. Volume 1. – Salvador: UFBA, Escola de Teatro; Superintendência de Educação a Distância, 2020.
Proença, Graça. História da Arte. Editora Ática, 2001
https://www.escolacg.com.br/post/15-grandes-nomes-do-teatro-mundial
Por ANA MÁRCIA DIÓGENES