MATÉRIA DE CAPA – Arte Egípcia e Religiosidade

MATÉRIA DE CAPA – Arte Egípcia e Religiosidade

 Em tempos de crise, quem nunca recorreu a religiosidade? A população egípcia, diferentemente, utilizava esse recurso não só nos momentos de crise, mas a todo momento, na condução de suas vidas, na sociedade, no desenvolvimento econômico, na político e principalmente na arte, sempre associando os fatos a religião.

 Os egípcios estabeleciam uma forte aproximação de suas manifestações artísticas com a esfera religiosa. Por serem politeístas, cultuavam vários deuses nas ocasiões históricas, registrando sua arte envolta por algum tipo de concepção espiritual que também movia suas ações e decisões.

 Os registros iniciais da civilização que se formou às margens do Rio Nilo, situada numa região desértica, com poucas chuvas, na porção nordeste do continente africano e banhada, tanto pelo Mar Mediterrâneo, quanto pelo Mar Vermelho, datam aproximadamente 6 mil anos. Um padrão complexo em sua arte, na ciência, no comércio e na religião chamam muito atenção e foram atingindo patamares não antes imaginados.

 A arte dos povos egípcios era padronizada, não dando espaço para criatividade, sem valorizar a técnica ou desenvolvimento de um estilo autoral. Uma das concepções desenvolvidas no período civilizatório por esse povo foi a lei da frontalidade. Essa lei tem uma característica marcante na pintura egípcia. De fato, essa regra é o que determina a combinação visual lateral e frontal de todas as suas pinturas e estátuas.

 Com um estilo próprio e autêntico, as pinturas e baixos-relevos apresentavam uma mesma representação do corpo com o tronco do indivíduo colocado de frente e os demais membros desenhados de perfil. Descreviam assim, uma forma de traço proveniente dessa cultura, em que as próprias tintas utilizadas eram extraídas da natureza e a arte produzida, era feita por artistas anônimos, pois o que de fato importava mesmo era a realização das técnicas executoras e não o estilo dos artistas. Além da figura de maior hierarquia registrada nas pinturas ser a do faraó.

 Interessante notar que a temática mortuária era de grande presença e sua crença de vida após morte motivava essa população a construírem tumbas, estatuetas, vasos e mastabas que representavam a percepção do além-vida, além de haver um prestígio social para todos aqueles que fossem enterrados com mais enfeites e cores e em lugares privilegiados, caracterizando assim a obra de arte mais acentuada para os de hierarquia maior.

 E assim o faraó contratava os artistas para fazerem desenhos e pinturas nas paredes das pirâmides, que posteriormente viria a se tornar seu túmulo. Essas pinturas detalhavam a vida dele e seu entorno, registrando com isso, parte da história do Egito composto por seus líderes representados.

 A maioria das esculturas do Egito Antigo eram representações faraônicas e de deuses, estáticas e sem qualquer expressão facial. Representações sempre na mesma posição: homem de pé e com o pé esquerdo a frente, homem sentado de pernas cruzadas ou sentado com a mão esquerda apoiada na coxa.

 A política com o processo de centralização e a divinização da figura do faraó teve grande significado na construção da arte em forma de pirâmide. Um marco para a arquitetura egípcia representada por 3 importantes pirâmides do deserto de Gizé, juntamente com sua esfinge. Todas elas construídas na dinastia dos faraós de cada período: Quóps, Quëfren e Miquerinos.

 Por adorarem vários deuses distintos que representavam a força da natureza, animais e figuras humanas. A população costumava homenagear todas essas figuras antropozoomórficas (seres híbridos com parte humana e parte animal), espalhando suas pinturas por seus palácios e monumentos artísticos.

 Entre os vários deuses adorados pelos egípcios, se destacavam: Osíris, Isis, Seth, Rá, Ptah, Thot, Anúbis e Maat. Existia também a adoração dos animais, sendo o gato um dos mais prestigiados. Nos templos, construídos em número expressivo, o ponto de adoração era constituído pela própria moradia de várias divindades representadas em forma de pintura, estátuas e monumentos arquitetônicos.

 Outro ponto curioso da religiosidade egípcia refletida na arte foi a crença de que o falecimento era apenas um processo onde a alma se desprendia de seu corpo. Acreditando, com isso, que a alma poderia viver eternamente em um corpo em perfeitas condições para se alojar, desenvolvendo assim técnicas de mumificação que impressionou por vezes historiadores e estudiosos.

 A mumificação dos mortos se tornou um hábito entre eles que evidenciava o renascimento dessa mesma divindade marcada dentro de sua cultura refletida em sua arte. “Vale a pena pegar um lápis e tentar reproduzir um desses desenhos egípcios primitivos. Nossas tentativas vão sempre parecer inábeis, assimétricas e deformadas. Pelo menos, as minhas parecem. Pois o sentido egípcio de ordem em todos os detalhes é tão poderoso que qualquer variação, por mínima que seja, parece desorganizar inteiramente o conjunto. Enfatizou o historiador de arte, Ernst Gombrich, ao tentar explicar sobre a singularidade dos desenhos provenientes desta cultura tão holística e esotericamente composta.

 No Vale dos Reis, ao longo do Novo Império, após várias instabilidades da civilização egípcia, houve a elaboração de novas e belas construções: Templos de Luxor e Carnac, dedicado a adoração do deus Amon, no campo da arte funerária, destaca-se o Templo da rainha Hatshepsut e a Tumba do jovem faraó Tutancâmon.

 A escultura egípcia, ao longo de seu desenvolvimento, encontrou características peculiares. Apesar de apresentarem grande rigidez na maioria de suas obras, percebemos que as estátuas egípcias conseguiam revelar riquíssimas informações de caráter étnico, social e profissional de seus representados. No governo de Amenófis IV temos uma fase bastante distinta em que a rigidez da escultura é substituída por impressões de movimento.

 Teve um momento em que as construções, esculturas e pinturas passaram a registrar os feitos dos governantes da época. Com toques estrangeiros que ocorreram com invasões de outros povos marcados pela hibridação da estética, descaracterizando com isso, a arte típica do Egito.

 Com uma riquíssima variedade de conhecimento acerca do povo egípcio, ainda assim foram encontrados retratos com marcas realistas pintadas em madeira e colocadas sobre suas múmias no período do Egito Romano, quando os romanos estiveram à frente dessa região, influenciando na produção de sua arte. Finalizando com isso uma dinastia politeísta que começa a ter influência de outras culturas, e acaba por deixar de ser hegemônica religiosamente, culturalmente e artisticamente falando, além de conseguir fazer uma história de grande admiração e notoriedade pelos seus feitos e o legado deixado por suas produções artísticas que são retratadas até os dias atuais.

Por RAIANA REIS

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Pular para o conteúdo