Querido leitor, é uma honra está mais uma vez junto com você, desbravando as histórias de nosso passado e dos nossos ancestrais.
Em mais uma edição incrível, a The Bard nos dá a missão de falar de uma cultura tão rica e com tanta sabedoria que é a cultura africana. A África, para muitos é considerada o berço da humanidade, uma das civilizações mais antigas de nosso planeta.
Então, é com muito orgulho e prazer que venho falar de minha ancestralidade, de Reis e Rainhas que governaram suas terras tão sabiamente. Já foi comprovado que durante milênios a Mama África foi lar de grandes médicos, navegantes, líderes e estudiosos. O berço da medicina, arquitetura, ciências, filosofia e tantos outros conhecimentos da idade moderna.
Mas também, é o lar de muitos mitos e lendas, seu folclore é tão rico quanto o do Brasil, ou até mais, já que herdamos muito dessas lendas, religião, culinária e muitas outras coisas, essa essência não está presente apenas na nossa cultura, mas no nosso DNA, e são essas histórias que quero compartilhar com você!
Então se aconchegue, se sirva da sua bebida favorita e vamos de história…
Mama África: O berço da Civilização
A África é considerada o berço da humanidade devido às evidências arqueológicas e paleontológicas que sugerem que os primeiros hominídeos, ancestrais dos seres humanos modernos, surgiram neste continente há milhares de anos. Fósseis de hominídeos, como o famoso Australopitecos (mais conhecida como Lucy) encontrados na África.
A África é o lar de algumas das civilizações mais antigas e avançadas da humanidade. Temos Exemplo do Egito, que foi lar dos mais poderosos Faraós, reino de Kush, hoje conhecido como Núbia, Meroé, capital do Reino Kush, foi um importante centro comercial e político, conhecido por sua riqueza e pelo comercio de ouro.
Axum (Etiópia) Localizado hoje, entre o norte da Etiópia e na Eritréia, foi uma potência regional entre os séculos I e VII d.C. Axum foi um importante centro de comercio ligando ao Mar Mediterrâneo ao sul da África e a Índia. O Reino de Gana, que hoje o ocupa parte do Senegal, Mauritânia e Mali, foi uma das primeiras grandes civilizações da África ocidental. Embora não tenha sido um império, Gana controlava uma vasta rede de rotas comerciais e exercia influência sobre muitos estados vizinhos.
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Cultura, Mitos e Lendas
Para ser bem didática a cultura africana é um conjunto de conhecimentos, crenças, valores e costumes dos povos que habitam o continente, que possui cerca de 1,1 bilhão de pessoas. Por isso é certo afirmar que a África não é feita apenas de uma cultura, mas de várias culturas.
Na África existem cerca de 490 etnias diferentes, muitas delas convive no mesmo país. Só na África do sul, há 11 idiomas e diversos grupos étnicos, dentre eles os povos Zulus, os Xhosas, os Pedis, os Sothos e os Tswanas.
Um aspecto fundamental da cultura tradicional africana é a oralidade. As crenças, os rituais, os costumes, a sabedoria ancestral – tudo isso sempre foi transmitido de geração para geração através da linguagem oral. A tradição oral permitiu com que africanos de muitas gerações aprendessem desde técnicas agrícolas a rituais religiosos.
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Nessa cultura de oralidade é importante ressaltar a importância dos griots, pessoas que cumprem a função de transmitir a tradição através da fala. Os griots são guardiões da memória na África Ocidental, além de excelentes oradores e contadores de histórias.
Cultura
Como já falado algumas vezes, a cultura africana é bem vasta por isso vou citar apenas algumas tradições que achei mais interessante.
Ritual de beleza das mulheres Mursi: Um dos rituais de beleza das mulheres dessa tribo que vive no vale do rio O’mo, na Etiópia, é a aplicação de um disco no lábio inferior, que pode medir vários centímetros. O ornamento faz lembrar os botoques, dos índios da etnia brasileira caiapó.
A dança de cura do San: A dança de cura é um ritual africano tradicional da tribo de San, originária da Namíbia, Botswana e Angola. Ela é considerada por esse povo, sagrada e consiste em os curandeiros e anciãos, dançarem e controlar a respiração, para atingirem um estado de transe para se comunicarem com o plano espiritual e poderem curar todos os tipos de doenças.
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O core vermelho do Himba: O core vermelho é uma pasta caseira, feita de manteiga, gordura e ocre vermelho, conhecida como otijze. Essa mistura faz parte da tradição de Himba, na Namíbia. O produto é usado tanto no corpo como nos cabelos, dando um tom avermelhado ao povo que segue essa tradição. Dizem que a prática é realizada para proteger a pele e os cabelos do sol e de insetos, mas para as mulheres é considerado um ritual de beleza, feito todas as manhãs.
O som de clique para se comunicar: A tribo Xhosa da África de sul, tem uma forma muito peculiar de se comunicar. Eles usam produzem alguns ruídos de clique como parte de sua língua falada. Sua linguagem, isixhosa, incorpora uma variedade de sons de cliques. Esses ruídos servem como consoantes nas palavras e podem ser combinados com outros sons da fala para transmitir uma ampla gama de significados.
Curiosidade: Os linguistas estimam que existam aproximadamente 30 sons de clique diferentes usados em várias línguas africanas.
Confira um pouco desse dialeto:
Me’em os homens barrigudos da Etiópia: Para muitas culturas o “belo” é ter um corpo “sarado”, músculos definidos e barriga “chapada”, para a tribo Me’em na Etiópia isso é quase um insulto. Para eles quanto maior for a barriga de um homem, mais ele é considerado por sua comunidade.
Eles têm um costume chamado cerimônia do Ka’el, que acontece em junho, e onde cada família deve indicar, seis meses antes, um homem solteiro para ingressar no concurso que elege o mais gordo da tribo. Para conseguirem engordar, eles bebem leite de vaca misturado com sangue, praticamente o dia todo. Quando o homem mais gordo é escolhido, a cerimonia termina. É feito uma celebração onde um boi é sacrificado e o sangue é usado para revelar o futuro do ganhador, por um dos anciões da tribo.
Mitos e Lendas
As lendas e mitos, são geralmente formas lúdicas de contar uma história verdadeira ou ensinar algo importante para os mais jovens. E na cultura africana isso não poderia ser diferente, ainda mais por ser uma cultura tão rica e antiga.
Culto aos Antepassados
Em muitas culturas africanas, acredita-se que os antepassados continuam a influenciar o mundo dos vivos, por isso os espíritos dos ancestrais são honrados através de rituais, oferendas e festivais. Eles são vistos como guardiões e protetores da família e da comunidade. Os antepassados são considerados como uma ponte, mediadores, entre o mundo espiritual e o mundo físico.
Outra prática de honrar os entes queridos, são as oferendas, que podem incluir: comidas, bebidas ou objetos de valor, essas iguarias são colocadas em altares ou locais sagrados e são vistos como forma de alimentar e agradar os espíritos dos antepassados.
Na cultura Yorubá (Nigeria e Benin); os antepassados são venerados através de cerimonias, conhecida como “Egungum” é uma máscara ancestral usada durante festival para representar e honrar os espíritos mortos.
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Para algumas tribos, como os Zulus; após um ano de falecimento de um ente, o espírito do morto é convidado para regressa ao lar através de um ritual, onde ramas são usadas para arrastar o familiar para dentro de casa onde é oferecido bebidas aos mortos, Foi daí que surgiu a tradição de alguns brasileiros que bebem bebidas alcoólicas jogar um pouco no chão e oferecer ao “santo” na verdade é uma prática do povo Zulu para honrar a memória de sua ancestralidade.
Lendas Heroicas: Shanka Zulu (Reino Zulu)
Shanka foi um líder militar que transformou o reino Zulu em uma potência no sul da África. A lenda destaca suas habilidades estratégicas, força e determinação em unir tribos dispersas em um único reino poderoso. A vida de Shanka Zulu mistura fatos históricos e mitos, tornando-o um personagem fascinante.
Shanka nasceu por volta de 1787, filho ilegítimo de Senzangakhona, chefe dos Zulus, e Nandi, uma mulher da tribo vizinha. Por ser considerado um bastardo, Shanka e sua mãe enfrentaram muitos desafios e humilhações, por isso foram forçados a buscar refúgio com a tribo Mthathwa.
Após a morte de seu pai biológico, Shanka Zulu retorna a sua terra natal, para assumir a tribo Zulu, onde iniciou uma serie de reformas militares, já que se tornou o melhor entre os melhores, enquanto estava no exilio com sua mãe.
Alguns de seus feitos foi reformar as armas, as projetando para serem mais letais em um combate corpo a corpo, também melhorou os escudos para que fossem mais resistentes. Aperfeiçoou as estratégias e táticas militares para serem mais eficientes durante a guerra, dividindo as tropas de forma que todos os lados do inimigo sejam atingidos. Também implementou um sistema rigoroso de treinamento, conhecido como Impi, onde a lealdade e a obediência eram estritamente reforçadas para que se tonassem um exército forte e obediente.
Com o tempo, sob a liderança de Shanka, o reino Zulu expandindo o seu reinando, conquistando tribos vizinhas. Além da expansão militar, Shanka também teve conquistas políticas e sociais.
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Shanka Zulu criou um reino poderoso e influente, perpetuando o seu legado muito além de sua morte. Entretando em 1828, Shanka foi assassinado pelo seu irmão Dingane Mhalangana, que temiam o seu crescente poder. Após sua morte Dingane assumiu o Reino Zulu.
A lenda de Anansi, O deus das histórias Africanas
As lendas de Anansi, também conhecida como Ananse ou Kwake, são originarias do povo akan, nativos de Gana. No início dos tempos, Nyame (principal deus dos Akan) guardava todas as histórias para si e não compartilhava com seus adoradores. Anansi, curioso, pergunta para Nyame, porque, ele não dividia aquelas histórias com o povo. O deus, orgulhoso respondeu que a sabedoria só pertencia a ele, mas se Anansi quisesse dividir aquela sabedoria com os humanos um preço teria que ser pago.
Se sentindo desafiado, a esperta aranha pergunta qual era o preço, mais que de pressa Nyame responde que trouxesse até ele a Píton, o Leopardo e a Vespa. Com sua astucia e artimanhas, a pequena aranha consegue capturar os três animais e com isso ele conseguiu trazer as histórias do céu para a humanidade e transmitir sua sabedoria.
Suas histórias eram tão profundas que até hoje elas são disseminadas, principalmente na África Ocidental, ensinando sobre bondade, honestidade, coragem e sabedoria.
Em alguns povos africanos, Anansi é retratado como uma aranha e em outras, como sua representação na série American Gods, baseado no livro de Neil Gaiman, atualmente exibida pelo streaming Prime Vídeo, ele é um homem que foi aclamado e adorado pelos homens e mulheres escravizados que veio da África para as américas, trazendo consigo o dom de contar histórias e propagar a cultura e o conhecimento africano.
A Lenda de Ubuntu
A lenda de Ubuntu é uma narrativa poderosa que encapsula a essência do conceito filosófico e cultural. Essa lenda aborda sobre valores, cooperação, igualdade e respeito.
A palavra “Ubuntu”, tem origem na língua bantu, do sul da África. Ubuntu pode ser traduzida como “eu sou, porque nós somos” ou “humanidade para com os outros”. É uma crença central em muitas culturas africanas, que enfatiza a interconexão entre todos os seres humanos e a importância da comunidade, compaixão e empatia.
Certa vez nessa aldeia na África do sul, um antropólogo curioso sobre o modo de vida harmoniosa daquele povo, foi fazer uma vista para saber mais sobre os costumes daquele povo. Passado alguns dias estudando a aldeia e cada vez mais intrigado sobre o Ubuntu, o antropólogo propôs um desafio as crianças da comunidade.
Ele colocou embaixo de uma arvore uma cesta cheia de frutas suculentas e guloseimas nunca vista antes pelas crianças da aldeia, depois disto chamou todas elas e propôs um desafio, quem chegasse primeiro a cesta de frutas era o vencedor e poderia ficar com a as frutas só para si. Ao dá a largada o experiente antropólogo ficou abismado com o que aconteceu, seus olhos não acreditava no que via.
As crianças quando ouviram o sinal para correr, elas se olharam, e se percebia um brilho diferente nos olhos daqueles pequeninos, todos eles deram as mãos uns para os outros de forma que todos chegassem juntos à cesta de gostosuras. Quando chegaram foi uma festa, as crianças se sentaram em volta da cesta e dividiam igualmente todo o seu conteúdo. O Estudioso confuso com aquela cena pergunta por que fizeram aquilo se apenas um poderia ganhar tudo.
Foi rindo da expressão de surpresa do homem que as crianças explicaram por que fizeram aquilo: “Como uma de nós poderia ficar feliz, se todas as outras ficariam tristes? Isso que significa Ubuntu, pensamos sempre no coletivo, a igualdade de deveres e direitos é o que realmente importa.”
O antropólogo ficou maravilhado com o que testemunhou e imaginou como as relações humanas poderia ser diferente se todos pensassem no coletivo. O Ubuntu, enfatiza a importância da solidariedade e da empatia. Compartilhar e cuidar dos outros não é apenas um dever moral, mas também uma fonte de verdadeira felicidade e satisfação.
Acima de tudo, o Ubuntu, promove valores comunitários: como respeito; compaixão, a valorização das relações humanas e que a verdadeira está nas conexões humanas e no apoio mútuo.
A lenda de Ubuntu é uma narrativa poderosa que encapsula a essência de um dos princípios mais significativos das culturas Africanas. Ela nos ensina que a verdadeira humanidade é encontrada no cuidado e no apoio mútuo, e que a felicidade individual está profundamente ligada à felicidade coletiva. Ao viver de acordo com de Ubuntu, podemos criar comunidades mais harmoniosas e um mundo mais compassivo.
Por LADYLENE APARECIDA