MITOLOGIAS E CRÔNICAS – Mitologia Chinesa

MITOLOGIAS E CRÔNICAS – Mitologia Chinesa

Olá, querido leitor, durante o ano de 2024 eu trouxe alguns fatos históricos e mitológicos sobre alguns povos, sem menções aos seus principais panteões, esse ano trarei um pouco mais sobre essas culturas: começando pela fascinante China. Sua arte milenar encanta multidões e curiosos até hoje, com seu jeito único de ver a vida e seus significados. Ela abrange uma vasta gama de formas e estilos, desde a caligrafia elegante até a cerâmica refinada, passando pela pintura de paisagens deslumbrantes e as esculturas de bronze.

A caligrafia é considerada uma forma de arte suprema na cultura chinesa, a caligrafia não é apenas sobre escrever, mas sim sobre expressar a alma através dos traços do pincel.

As pinturas tradicionais chinesas geralmente focam em temas naturais, como montanhas, rios, flores e pássaros. A técnica mais usada é a aquarela sobre papel. ou seda.

A china é famosa por suas peças de cerâmicas e porcelana, que datam de milhares de anos. A porcelana chinesa, em particular, é altamente valorizada por sua beleza e delicadeza. A fundição de bronze foi uma das primeiras formas de arte desenvolvida na China antiga. Muitos objetos de bronze, como vasos e espelhos, são ricamente decorados e têm significados ritualísticos ou simbólicos.

Será um prazer adentrar junto com você por essa cultura tão rica e tão sabia, que sempre terá algo para nos ensinar.

Então pegue sua bebida favorita, se aconchegue e boa leitura…

 

A arte milenar Chinesa

A mitologia chinesa foi criada pela conjunção de vários elementos, alguns deles em tempos imemoráveis que continua uma incógnita até os dias de hoje, mas as partes que conhecemos é proveniente das religiões maioritárias na China: o Taoísmo, o Confucionismo e o Budismo.

A mitologia chinesa, é rica e multifacetada, é um vasto universo que atravessa milênios de histórias e cultura. Com suas narrativas profundas que entrelaçam o sagrado e o cotidiano, os deuses e deusas chineses ocupam um lugar central na espiritualidade e na moralidade do povo.

Diferente de outras mitologias onde os deuses são seres supremos, dotados de grandes poderes, na mitologia chinesa os deuses são baseados em pessoas reais, baseado na sociedade chinesa, com chefes, subordinados com funções específicas para cada um deles, quase como um Estado oficial, incluindo a presença de linhas de sucessão e missões.

Muitas vezes, esses deuses possuem origens humanas, recebendo a condição de divindade somente após a morte, graças às virtudes naturais ou boas ações realizadas durante a vida. Tendo uma moral impecável, eles prezavam pela engenhosidade e pela disciplina acima da coragem.

Cada divindade tinha a sua própria área de poder e influência, e os deuses mais importantes tinham direito a santuários e templos exclusivos; embora, os santuários também fossem erguidos para os espíritos locais, assim como para homens e mulheres nobres, deificados após a morte. Essas deidades viviam em palácios e castelos bem acima dos seres humanos, em locais como as montanhas Kunlun, o Monte Tai, a Montanha de Jade e o Monte Penglai – a ilha mística da vida após a morte. 

Imagem de Pavliha – Monte Tai por iStock

 

Entretanto como falando acima, a mitologia chinesa é muita rica e tem influência de algumas religiões e culturas que valem a pena ser citadas pois cada uma tem a sua singularidade e energia sobre o povo chinês.

 

A Mitologia chinesa segundo ao Taoísmo

O Taoismo, uma das principais filosofias e religiões da China, que enfatiza a harmonia com o Tao, o caminho ou princípio fundamental do universo. Esta visão única influencia profundamente a interpretação dos mitos chineses, oferecendo uma perspectiva que valoriza a simplicidade, a espontaneidade e a conexão com a natureza.

Fundado por Laozi, o Taoísmo, proporciona uma perspectiva singular sobre a natureza do universo, revelando uma harmonia intrínseca entre todas as coisas. Entre os seus princípios estão o Wu Wei, ou ação sem esforço, e a dualidade Yin-Yang, simbolizando o equilíbrio necessário para alcançar a harmonia universal. O “Tao Te Ghing”, é um texto fundamental para a compreensão dessa tradição, que também inclui práticas e rituais que variam de meditação a cerimônias de exorcismo.  

Imagem de Chinavistos.com

 

CAPÍTULO 1

O caminho que pode ser expresso não é o Caminho constante O nome que pode ser enunciado não é o Nome constante Sem-Nome é o princípio do céu e da terra Com-Nome é a mãe de dez mil coisas Assim, a constante não-aspiração é contemplar as Maravilhas E a constante aspiração é contemplar o Orifício Ambos são distintos em seus nomes, mas têm a mesma origem O comum entre os dois se chama Mistério O Mistério dos Mistérios é o Portal para todas as Maravilhas […]

TAO TE CHING – O LIVRO DO CAMINHO E DA VIRTUDE

 

O taoísmo tem duas vertentes a filosófica e a religiosa, apesar de alguns pontos em comuns, elas possuem diferenças em suas práticas e enfoque.

O taoísmo filosófico é essencialmente uma escola de pensamentos que se concentra em viver em harmonia com o Tao.  Seus praticantes valorizam a simplicidade, a espontaneidade, a flexibilidade e a não ação “Wu Wei”. A não ação não significa inatividade, mas sim agir em consonância com o fluxo natural das coisas, sem forçar ou resistir ao curso natural dos eventos. O taoísmo filosófico é mais focado na meditação e a busca por um entendimento profundo do universo e o lugar do ser humano nele.

O Taoísmo religioso é uma prática que incorpora crenças e rituais espirituais. A veneração de divindades e a realização de cerimonias destinadas a interagir com o mundo espiritual. Esse ramo do taoismo desenvolveu-se a partir do século II d.C. e inclui práticas como a alquimia, a medicina tradicional chinesa, e rituais que buscam a longevidade e a imortalidade espiritual. O taoismo religioso também envolve uma estrutura organizada por templos, sacerdotes e uma comunidade de crentes.

 

Deuses do Taoismo

No vasto universo da mitologia chinesa, os deuses não são meros seres sobrenaturais; são manifestações da própria essência do cosmos, puros reflexos das dualidades (Yin – Yang) que permeiam a existência O taoismo é uma filosofia que abraça tanto a espiritualidade quanto a busca pela harmonia. Neste âmbito o taoismo nos convida a entrar nesse reino, onde cada divindade é uma faceta do Tao.  

Yu Huang (Imperador de Jade): Ele é o governante supremo do céu e de todos os deuses no panteão taoísta. O imperador de Jade é responsável por manter a ordem e a justiça no universo. Ele é frequentemente retratado como um imperador majestoso, sentado em um trono celestial, cercado por cortesãos e guardiões.

Imagem de Portal dos Mitos

 

Existem várias lendas sobre a origem do Imperador de Jade. Uma das histórias mais populares diz que ele era originalmente um ser humano que alcançou a iluminação e foi elevado ao status de divindade devido à sua virtude e sabedoria. O Imperador de Jade é amplamente venerado em templos taoístas. Os devotos frequentemente fazem oferendas e orações a ele, buscando sua proteção e bênçãos.

Doumu (Mãe Dipper): Doumu é uma deusa mãe que protege os céus e os seres humanos. Ela é frequentemente associada à constelação do grande Carro (big Dipper) e a vista como uma figura maternal e benevolente. Sua aparência é serena e compassiva, simbolizando sua natureza protetora.

Segundo a mitologia taoísta, Doumu é a mãe dos nove filhos que se tornaram estrelas na constelação do Big Dipper. Ela é reverenciada por sua capacidade de conceder bênçãos e proteção aos seus devotos. Doumu é amplamente venerada em templos taoístas. Os devotos frequentemente fazem oferendas e orações a ela, buscando sua proteção e orientação.

Guandi (Guan Yu): Guandi é um deus da guerra e da justiça, muito venerado por sua lealdade e bravura. Ele é baseado em uma figura histórica real, Guan Yu, um general famoso da era dos Três Reinos na China. Ele serviu sob o comando de seu Senhor Liu Bei, durante o final da dinastia Han Oriental da China.

Imagem de Hung Chin Liu por iStock

 

Após sua morte, Guan Yu foi deificado e se tornou conhecido como Guandi, o deus da guerra. Sua fama cresceu ao longo dos séculos se tornando protetor da China, pelo Imperador da dinastia Ming. Guandi é frequentemente retratado como uma figura imponente com uma longa barba e uma expressão severa. Ele é geralmente visto segurando uma grande alabarda, uma arma que ele supostamente inventou.

Guandi é amplamente venerado em templos em toda a China e em comunidades chinesas ao redor do mundo. Ele é especialmente popular entre soldados, policiais e pessoas envolvidas em profissões que exigem coragem e justiça. Muitos templos dedicados a ele são chamados de Wu Miao (Templo do Guerreiro) ou Wu Sheng Miao (Templo do Guerreiro Sagrado)

Zao Jun (Deus do Lar): Zao Jun é o deus que protege o lar e a família, principalmente a cozinha. Ele é responsável por relatar as ações da família ao Imperador Jade no final de cada ano. Zao Jun é representado como um homem idoso, vestido com roupas tradicionais, segurando uma tabuleta de madeira.

Imagem de Worldhistory.org

 

Segundo a lenda, Zao Jun era originalmente um homem mortal que, após uma série de eventos trágicos, foi elevado ao status de deus. Ele é conhecido por sua compaixão e justiça, e sua história é um lembrete da importância da moralidade e da virtude. Esse deus é amplamente venerado nos lares chineses. Durante o festival do ano novo chines, as famílias fazem oferendas em troca de harmonia e abundância no ano vigente.

 

A Mitologia chinesa segundo o Confucionismo

Na filosofia confucionista os deuses não são colocados em pedestais, criando uma visão superior aos humanos, mas sim, uma conjunção de valores e virtudes que a humanidade pode alcançar através da ética e moral.

O Confucionismo, fundado por Confúcio no século VI a.C. é uma filosofia que exalta a moralidade, a justiça e as relações humanas. A visão confucionista propõe que o verdadeiro valor dos deuses reside em sua capacidade de inspirar a moralidade e o comportamento ético dos indivíduos. Assim, na visão de Confúcio os deuses aparecem como modelos de virtude, cujas histórias e ensinamentos servem de guia para a conduta diária.

Imagem de Gautier075 por iStock

 

Um exemplo disso, é o deus da sabedoria, Wenchang Wang. Nos templos dedicados a ele, os devotos não apenas buscam bençãos acadêmicas, mas também se comprometem com o aprimoramento do caráter e da ética. A ênfase na educação, uma pedra angular do Confucionismo, é refletida na reverência a Wenchang Wang, que simboliza a busca pelo conhecimento e a realização moral.

 

 “Deuses” do Confucionismo

Tian (Céu): No confucionismo, Tian é uma força suprema e impessoal que representa a ordem moral do universo. É frequentemente traduzido como “Céu” e é visto como a fonte de autoridade moral e justiça. Embora o confucionismo não se concentre na adoração de deuses, ele enfatiza a importância dos rituais e cerimônias para honrar Tian e os ancestrais. Esses rituais são vistos como uma maneira de manter a harmonia e a ordem social.

Imagem de Mrsiraphol por Freepik

 

Confúcio também via Tian como um princípio que guiava a vida humana. Em várias passagens dos Analectos, ele menciona que Tian lhe deu uma missão, sugerindo que cada pessoa tem um destino moral a cumprir. Porém, diferentemente do fatalismo, ele acreditava que os humanos poderiam aprimorar seu caráter e agir de maneira ética para alinhar-se com essa ordem celestial.

Ancestrais: O confucionismo coloca grande ênfase na veneração dos ancestrais. Os rituais ancestrais são uma parte importante da prática confucionista, e acredita-se que os espíritos dos ancestrais podem influenciar a vida dos descendentes. 

Rituais e Cerimônias: Confúcio ensinou que os rituais e as cerimônias são essenciais para manter a harmonia social e a ordem moral. Os rituais podem ser realizados pelo Imperador ou Governante. Os rituais incluem cerimônias de sacrifício e oferendas aos deuses e espíritos.

Confúcio acreditava que a educação e os rituais estavam intimamente ligados. Através da prática dos rituais, os indivíduos aprendem a internalizar os valores morais e a desenvolver a virtude.

Imagem de Chinahoje.net

 

Embora o confucionismo não tenha um panteão de deuses como o taoísmo, ele reconhece a importância dos deuses e espíritos na cultura chinesa e enfatiza a necessidade de respeitar e honrar essas tradições através de rituais e cerimônias.

Ao analisar a relação entre os deuses chineses e o Confucionismo, percebemos que essa interação não é uma simples coexistência de crenças, é uma configuração dinâmica onde as narrativas mitológicas e os ensinamentos confucianos se entrelaçam, buscando um ideal comum: a harmonização da sociedade através da virtude. Nesta visão, os deuses se tornam não apenas fontes de inspiração, mas verdadeiros agentes da moralidade humana, convidados a participar de nossa jornada ética. 

Eles, em sua sabedoria e justiça, nos lembram que a verdadeira adoração não reside na súplica, mas na transformação pessoal e coletiva em busca de um mundo mais justo e harmonioso.

 

A Mitologia chinesa segundo o Budismo

Assim como o confucionismo, o Budismo não tem um panteão de deuses. No entanto, ele incorporava várias figuras divinas e seres espirituais que desempenham papéis importante na prática e na cosmologia budista.

Na vastidão da cultura chinesa, onde os rios de mitos e lendas entrelaçam-se como as raízes de uma antiga árvore, encontramos uma perspectiva fascinante sobre os deuses, particularmente através da lente do budismo. Ao contrário de tradições onde deidades são vistas como eternas soberanas, no budismo, os deuses ocupam um espaço mais complexo e transitório, refletindo a impermanência que permeia toda a existência.

Imagem de Lixu por iStock

 

Buda, apesar de não ser um deus, é reverenciado como o iluminado que transcendeu o sofrimento. Sua presença na história chinesa, destaca a busca pela sabedoria.

Buda (Siddhartha Gautama): O fundador do budismo, que alcançou a iluminação e o ensinou o caminho para a libertação do sofrimento. Ele é reverenciado como um ser iluminado e um guia espiritual. Siddhartha Gautama nasceu por volta de 563 a.C. em Lumbini, que atualmente faz parte do Nepal. Ele era um príncipe do clã Shakya e foi criado em um ambiente de luxo e conforto.

Bodhisattvas: Seres iluminados que escolheram renascer para ajudar outros a alcançar a iluminação. Eles são conhecidos por sua compaixão e dedicação ao bem-estar de todos os seres.  Alguns dos bodhisattvas mais importantes no budismo chinês incluem:

Imagem de Theconversation.com

 

Avalokiteshvara (Guanyin): O bodhisattva da compaixão, frequentemente representado como uma figura feminina na China. Guanyin é muito venerada por sua misericórdia e capacidade de ouvir as preces dos necessitados. Ela é uma das figuras mais populares no budismo chinês e é frequentemente invocada para proteção e ajuda.

Imagem de Smarthistory.org

 

Manjushri (Wenshu): O bodhisattva da sabedoria, frequentemente retratado segurando uma espada que corta a ignorância e um livro que representa o conhecimento. Manjushri é reverenciado por sua capacidade de conceder sabedoria e discernimento aos praticantes.

Ksitigarbha (Dizang): O bodhisattva dos seres infernais, que promete não alcançar a iluminação até que todos os seres do inferno sejam libertados. Ele é frequentemente representado como um monge segurando um cajado e uma joia. Ksitigarbha é conhecido por sua compaixão e determinação em ajudar os seres em sofrimento.

Samantabhadra (Puxian): O bodhisattva da prática e da meditação, frequentemente retratado montado em um elefante branco. Samantabhadra é reverenciado por sua dedicação à prática espiritual e à meditação, e é um exemplo de devoção e disciplina.

Imagem de Metmuseum.org

 

Para a tradição budista chinesa, os deuses são um reflexo das nossas virtudes e falhas. Cada oração dirigida a eles, cada oferenda deixada em seus altares, representa uma busca interior pela paz e pelo entendimento. Eles nos ensinam que o verdadeiro sagrado reside na transformação de nosso ser e na compaixão que oferecemos ao nosso próximo.

“À iluminação não é um destino, mas uma jornada contínua através da selva da existência, onde cada deus é apenas um reflexo de nossa própria divindade interior.”

 

Imagem de Kongphoto por Freepik

 

Por LADYLENE APARECIDA

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