Olá, querido leitor! iniciamos mais um ciclo em nossa amada revista e com ela mais uma edição da coluna Mitologia e crônicas.
Nesta edição falaremos sobre o Panteão Celta. Os celtas sempre foi um povo com uma forte conexão com a natureza e os elementos naturais. Os conhecimentos dos Druidas, os líderes espirituais e médicos dos celtas, veio através dos estudos aprofundados da natureza e tudo que nos cerca.
E com os seus deuses não seriam diferentes. A relação dos deuses celtas e a natureza é um dos aspectos marcantes da mitologia celta. Para eles, o mundo natural não era apenas um cenário para a existência humana, mas um reflexo do sagrado. Arvores, rios montanhas e animais não eram vistos como meros elementos do meio ambiente, mas como manifestações vivas dos deuses, e como uma extensão de seus poderes.
Então pegue sua bebida favorita se aconchegue e boa leitura…
Deuses Celtas
Os Europeus das regiões do sul, usavam o termo “Celta” para identificar os povos do norte, mas a verdade é que a mitologia celta é um conjunto de crenças e deuses distintos. De forma geral, a mitologia pode ser dividida em três grandes grupos principais: mitologia irlandesa, mitologia galesa e mitologia galo-romano.
As divindades celtas estão muito associadas à natureza, à terra, aos animais, aos rios, ao sol e a lua. Também havia uma conexão profunda com o ciclo da vida e da morte.
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Entre as principais características da mitologia celta, destaca-se a crença na multiplicidade das forças divinas, onde um único deus ou deusa poderia ter diversos aspectos e diferentes nomes, dependendo da região. O conceito de uma divindade como manifestação da natureza era muito comum, refletindo no modo de vida da região, agricultura e até mesmo nas guerras.
Principais deuses Celtas
Dagda o pai dos deuses
Dagda é considerado o pai de todos os deuses. ele era uma figura importante na mitologia celta. Ele era associado à fertilidade, abundância e música, e era frequentemente retratado como um homem idoso com poderes mágicos.
Também conhecido como o “bom deus”, Dagda é reverenciado como o líder da tribo de deuses Tuatha Dé Danann, ele era geralmente associado a fertilidade, agricultura, clima e força masculina, ao mesmo tempo que incorporava os aspectos de magia, sabedoria e conhecimento dos druidas. Essas facetas explicam sua fama e veneração entre os druidas celtas. Muitas características se assemelham com as características divinas de Odim, o chefe da tribo Aesir de antigos deuses nórdicos.
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Suas vestimentas são caracterizadas por uma túnica rustica, carregando um imponente bastão/clave (lorg mór) que poderia matar nove pessoas com um único golpe e ainda ressuscitar os mortos. O “bom deus” também é representado carregando um grande caldeirão magico (coire ansic) que não tem fundo e vinha acompanhado de uma enorme concha que cabia duas pessoas, aludindo assim ao seu poder de abundância e inclinação para comida.
Sucellus – o rei dos deuses celtas
Sucellos, uma figura proeminente no panteão celta, é frequentemente retratado como o rei dos deuses e associado à agricultura, às florestas e as bebidas alcoólicas. Sua imagem, frequentemente acompanhada um martelo e uma olla (tipo de vaso) o conectando diretamente com a terra, a criação e a abundância.
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Esse deus não é apenas uma divindade distante, mas um participante ativo na vida cotidiana. Seu martelo, uma ferramenta de criação e destruição, representando a dualidade inerente à natureza. Como rei dos deuses, ele influência não apenas o curso das estações, mas também o destino individual de cada ser que habita o mundo celta. Em rituais sazonais, as comunidades celtas se voltam para Sucellos, oferecendo-lhe homenagens em busca de bençãos para suas colheitas e a promessa de um ciclo contínuo de abundância.
Os antigos celtas costumavam celebrar Sucellus em festivais que uniam a comunidade, regados a danças e músicas que exaltavam a beleza da natureza. Esses rituais eram uma maneira de agradecer ao deus pela colheita e de pedir proteção para os que partiram.
Sua presença ressoa nos rituais que celebram a interconexão entre a humanidade e a natureza, destacando a importância da fertilidade e da colheita na vida das comunidades celtas.
Cernunnos, Deus Selvagem da Floresta
Cernunnos é uma das divindades mais emblemáticas e misteriosas do panteão celta, amplamente reverenciado como o Deus da Natureza, Fertilidade, Abundância e Animais selvagens. Ele é frequentemente representado com chifres de cervo, o que destaca sua conexão com os animais selvagens e a floresta. Os chifres são usados como símbolos de força, renascimento e o ciclo da vida.
Esse deus também é considerado guardião dos bosques, florestas e de todos os seres que neles habitam. Ele é frequentemente descrito em posturas meditativas, sublinhando sua sabedoria e conexão espiritual com o mundo natural. Além de sua associação com os animais, Cernunnos também é visto como um deus da fertilidade e da abundância, muitas vezes retratado segurando ou cercado por moedas ou outras riquezas.
As representações de Cernunnos variam, e ele pode ter sido conhecido por diferentes nomes em várias tribos celtas. Sua adoração e os rituais a ele associados enfatizam o respeito e a reverencia pela natureza e seus ciclos.
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Dentro da comunidade Wicca a figura de Cernunnos tem desempenhado um papel crucial. Pois é considerada uma religião neopagã que busca reconectar com as tradições espirituais pré-cristãs. A conexão entre Cernunnos e as Wiccas estabelece uma ponte entre a mitologia celta e as práticas espirituais das bruxas. Dentro elas as Wiccas são vistas como a Donzela, jovem e cheia de vida; a Mãe, nutritiva e sabia, e nessa vertente Cernunnos, por sua vez, é visto como o aspecto masculino da Deusa, o Senhor da Floresta e o Consorte da Deusa.
A união entre os dois enfatiza a profunda conexão com os seres humanos e a natureza, promovendo o respeito e harmonia com o mundo natural.
Aengus/Angus – Deus da juventude e do amor
Filho de Dagda e da deusa do rio Boyne. Aengus significa “verdadeiro vigor”, ele é divindade celta do amor, juventude, da inspiração poética. Na narrativa mítica, para encobrir seu caso ilícito e a gravidez de Boann, o Dagda fez o sol parar por nove meses. o que resultou no nascimento de Aengus em apenas um dia. Esse nascimento milagroso reforça sua natureza especial e divina, cercado por mistério e magia.
Após o nascimento, Aengus cresceu no palácio de Brú na Bóninne, uma das mais importantes moradas dos deuses irlandeses, localizada próximo ao rio Boyne. Esse lugar é frequentemente associado ao túmulo de Newgrange, um sítio arqueológico destruído que destaca a conexão do mito com a cultura antiga.
Aengus é mais conhecido por sua ligação com o amor e por sua capacidade de trazer alegria e encantamento. Muitas vezes ele é invocado como protetor do amor verdadeiro, em algumas tradições, ele é retratado como um deus que oferece orientação para casais apaixonados, garantindo a união eterna.
Seu símbolo mais comum são os quatro pássaros que voam ao redor de sua cabeça representando beijos e as doces palavras de amor que ele inspira. Esses pássaros também refletem sua associação com a poesia.
Como muitos outros deuses celtas, Aengus tem uma ligação profunda com a natureza. Sua morada, Brú na Bóninne, está intimamente ligada ao ciclo solar, indicando que sua energia está associada não apenas ao amor romântico, mas também ao renascimento e à vitalidade. Os cisnes, símbolos recorrentes em sua história, são frequentemente associados à pureza e à eternidade, reforçando sua aura mágica e serena.
Lugo ou Lugus – O Deus Guerreiro Corajoso
Lugo, também conhecido como Lugus, é uma das figuras mais importantes da mitologia celta. Ele é frequentemente descrito como um deus guerreiro, mas sua abrangência vai muito além do combate. Lugo é um deus polímata, associado à habilidade, à inteligência, às artes e à soberania. Seu título mais famoso é Samildànach.
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O título simboliza o ideal celta de uma vida equilibrada e multifacetada. Para os celtas, não era suficiente ser apenas guerreiro corajoso ou um poeta inspirado – a verdadeira grandeza estava em combinar todas as habilidades em harmonia. Esse equilíbrio também foi visto como um reflexo da ordem cósmica que Lugus ajudou a manter.
Descendente de duas linhagens importantes na mitologia irlandesa, Lugo é filho de Cian, descendente dos Tuatha Dé Danann, o povo divino, e de Ethniu (Eithne), que era filha de Balor, o rei dos fomorianos, um povo de gigantes e inimigos dos Tuatha Dé Danann. Essa união simboliza a fusão de forças opostas, já que Lugo herda tanto a luz e a habilidade, quanto ao poder sombrio e destrutivo de seu avô.
Mas infelizmente o que era para ser harmonioso, com o passar dos anos se mostrou desastroso, já que em sua fase adulta Lugus, com uma estilingada precisa no olho do seu avô Balor, anuncia de vez a ascensão dos Tuatha Dé Danann como a tribo dominante de deuses da Irlanda sobre os Formorii.
Lughnasadh: O Festival de Lugus
O festival da colheita, celebrado pelos antigos celtas, se iniciava em primeiro de agosto, data a meio termo entre o solstício de verão (entre 20 e 22 de junho) e o equinócio de outono (entre 21 e 24 de setembro).
Também conhecido como Lammas, este é um dos quatro grandes festivais celtas relacionado à agricultura. Dedicado ao deus Lugus, que expressa a gratidão à Terra por sua generosa abundância e a sua vitória sobre os espíritos do outro mundo que tentam roubar as colheitas.
Os primeiros frutos da colheita eram oferecidos aos deuses e deusas, e o elo entre a colheita e a morte era simbolizado por meio da história entre Lugo e sua mãe adotiva Tailtiu. Ela foi uma das primeiras divindades da Irlanda que se dedicou desinteressadamente a preparar a Terra para arar e, depois de fazer isso, morreu de exaustão. Seu filho então honrou o seu sacrifício através de um banquete anual, que se tornou o festival de Lughnasadh.
Danu – A Deusa Primordial
Entre os mais antigos deuses celtas da Irlanda, Danu, também conhecida como Anu, é conhecida pelos seus epítetos como uma deusa-mãe. Assim, a deusa celta, é frequentemente retratada como uma mulher bonita e madura, ela é associada à essência espiritual da natureza, ao mesmo tempo que representa os aspectos de prosperidade, sabedoria, morte e regeneração. O papel de Danu é muito pronunciado na mitologia irlandesa. Ela é considerada a mãe divina dos Tuatha Dé Danann – povo de Danu – a raça sobrenatural de deuses celtas que possivelmente formaram um dos principais panteões da Irlanda gaélica pré-cristã.
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Seu nome “Dan” significa conhecimento, mas há outras interpretações sendo que uma delas é “Fluxo”, “Terra Molhada” e a mais poética, “Água do Céu”. Tendo sido preservada na mitologia galesa como a Deusa Don, e na mitologia basca pré-cristã como Maria, Senhora de Amboto. Na Ibéria, a divindade suprema do panteão celta é considerada a senhor da luz e do fogo. Era ela que garantia a segurança material, a proteção e a justiça.
Apesar do seu culto ter sido proibido pelo cristianismo e seu nome, aos poucos, ser esquecido, Danu está presente em toda a Irlanda, seja nos verdes campos, no perfil arredondado das montanhas, no sussurro dos riachos. O Seu lugar sagrado, no Condado de Kerry, chamado Da Chich Anu ou Paps of Anu. Ela está ligada aos Montes Feéricos e tem associações com Dolmens, monumentos megalíticos tumulares coletivos, também conhecido como um túmulo portal, ou sepultura portal.
A Deusa Mãe irlandesa, guardiã do conhecimento, protetora das famílias e tribos, regente da terra, da água e da A constelação de Cassiopéia também recebe o nome de Llys Don, a corte de Danu, em sua homenagem. Seu nome aparece em outros lugares como o famoso rio Danúbio, pois foi no vale desse rio que a civilização Celta se desenvolveu.
Tuatha de Dannan
Tuatha de Dannan ou “Povo da Deusa Danu” -, apareceu de forma misteriosa: não da terra, de uma direção definida, como outros invasores, mas do céu, simultaneamente das 4 direções. Aterrissaram no dia do Sabbat Beltane e depois fundaram 4 cidades que se tornaram os centros espirituais da Irlanda.
Os Tuatha de Dannan, são seres sábios, seus atributos são a bondade e a luz. Seja lá de onde vieram, eles trouxeram ensinamentos e objetos de magia, arte, sabedoria e cura. Seu legado está nos marcos; círculos de Menires e os monumentos megalíticos.
Após permanecerem 200 anos de forma pacífica, os Tuatha Dannan foram vencidos pelos Milesianos, após a derrota os sobreviventes do Povo da Deusa Danu refugiaram-se nas colinas embaixo da terra e passaram a ser conhecidos como Daoine Sidhe ou Fairy People, “Povo das Fadas”. Dando-se início a outra lenda muito conhecida, que são as fadas, seres mágicos que gostam de música, cores e flores e sempre pacíficos.
Brigid – A Deusa “Tripla” da Cura
Em contraste com os aspectos obscuros de Morrigan, Brigid, na Irlanda pré-cristianismo, era considerada a deusa celta da cura, da primavera, e até da arte de ferreiro. Na narrativa mítica, ela é filha do Dagda e, portanto, membro dos Tuatha Dé Danann. Curiosamente, no Lebor Gabála Érenn, ela é mencionada por ter vários animais domésticos, desde bois, o rei dos javalis, a ovelhas.
Brigid era venerada em seus três aspectos – a curandeira, a poética e a ferreira. Em essência, ela pode ter sido uma divindade tripla. Além disso, sua eminência deriva da possibilidade de que Brígida pré-cristã foi sincretizada na época medieval com a Santa Brígida católico de Kildare. Está forma incrível de sincretismo sugere como os primeiros monges cristãos medievais desempenharam seu papel na adaptação à mudança da paisagem religiosa do reino, mantendo alguns dos elementos nativos.
O primeiro aspecto de Brigid está intimamente ligado à medicina e ao cuidado. Muitos acreditam que suas bênçãos podem curar feridas e doenças, tornando-a uma figura reverenciada por aqueles que buscam recuperação e alívio. Romanos e gauleses cultuavam sua imagem, pedindo ajuda em momentos de aflição e dor.
Em resumo, Brigid é mais do que apenas uma deusa; ela é uma força vital que equilibra cura, sabedoria e fogo. Sua influência transcende a antiguidade e continua a inspirar aqueles que buscam uma conexão mais profunda com a natureza e consigo mesmos.
Morrigan – A misteriosa Deusa do Destino
Morrigan era vista como uma divindade feminina misteriosa e um tanto sinistra entre os deuses celtas irlandeses. Associada tanto à guerra quanto ao destino. Em irlandês moderno, seu nome Mór-Rioghain se traduz aproximadamente como “rainha fantasma”. Combinando com este epiteto enigmático, na narrativa mítica, Morrigan era capaz de mudar de forma, geralmente em um corvo, e prever a desgraça, enquanto também incitava os homens em um frenesi de guerra.
Ela era frequentemente associada a outros deuses celtas guerreiros como: Macha Badb e Nemain e, portanto, as vezes ela era apresentada como uma figura composta da trindade que também eram retratados coletivamente como um grupo de belas mulheres com a capacidade de se transformar em corvos sobre os campos de batalha.
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Algumas lendas afirmam que Morrigan teve um caso amoroso com Dagda o rei dos deuses celtas irlandeses, sua influência sobre a poderosa deusa foi tão grande, que ela interveio magicamente na guerra contra os Formorrii.
Em suma, Morrigan é uma figura rica e multifacetada que encapsula a essência da natureza humana, onde a guerra, a morte e o destino estão entrelaçados. Com sua aura de mistério e poder, ela permanece uma deusa que provoca reflexão sobre nossas próprias escolhas e o impacto que elas têm sobre nosso futuro. Assim, a Morrigan não é apenas uma figura do passado, mas um símbolo atemporal do que significa ser parte do grande drama da vida.
Epona – A Deusa Protetora dos Cavalos
Epona, é uma deusa galo-romana, originalmente associada a terra e a fertilidade. Além do sincretismo, havia também deuses celtas únicos adorados no panteão da antiga religião galo-romana. Considerada a divindade feminina e protetora de cavalos, burros, mulas. Com seu aspecto de protetora dos cavalos, Epona era favorecida e venerada pelos cavaleiros do Império Romano, especialmente os renomados Cavaleiros Imperiais. Os cavaleiros romanos construíram santuários em sua honra e a adoravam como protetora dos cavalos e cavaleiros.
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As imagens de Epona frequentemente a mostram montada ou ao lado de um cavalo, com um cesto de frutas ou outros símbolos de abundância. Epona é sempre invocada em rituais que celebram a natureza, como os sabbats relacionados as estações do ano.
Epona, na mitologia celta e posteriormente na romana, destaca-se como a deusa tutelar dos equinos, simbolizando não apenas a força e a beleza desses animais, mas também a conexão espiritual entre seres humanos e suas montarias. Ao longo dos séculos, a veneração a Epona transcendeu fronteiras culturais, ganhando reconhecimento nas diversas regiões do Império Romano, onde se realizavam rituais em sua homenagem.
Representada frequentemente em artefatos arqueológicos, como estatuetas e inscrições, Epona aparece montando um corcel, muitas vezes acompanhada por elementos que rememoram a fertilidade e a abundância. Esses atributos refletem sua relevância como uma figura central na vida dos cavaleiros e agricultores, que dependiam da força dos cavalos em suas atividades diárias.
Além de ser uma deusa da proteção, Epona também estava associada à prosperidade, sendo considerada uma guardiã dos lares e das colheitas. O culto a Epona frequentemente envolvia rituais de gratidão, mostrando como a relação entre humanos e animais deve ser respeitosa e valorizada. Em muitos aspectos, a reverência a Epona nos ensina sobre a importância da empatia e da harmonia com a natureza.
Por LADYLENE APARECIDA