NAU LITERÁRIA – Entrevista com Dino S. Koubatis

NAU LITERÁRIA – Entrevista com Dino S. Koubatis

 

Dino S. Koubatis, nasceu em Atenas- -Grécia. Graduado em Jornalismo–Paris- -França, Literatura Francesa, Arte Dramática, Escola de Jornalismo, Escola Jacques Lecoq de Arte Mímica, Paris-França. Fluente em inglês e italiano. Doutor Honorário pela Universidade de Valência e da Sociedade Científica de Kiev. Como escritor de teatro, escreveu 105 peças, entre elas 30 tiveram estreia em Atenas, Salónica e Toronto, e também na televisão, estações de rádio. Dirigiu em Paris, Bruxelas e em Toronto mais de uma centena de peças de teatro desde Sófocles, Shakespeare, a Molière, Goethe, Tennessee Williams, Eugéne Ionesco e Fernando Arrabal. Em reconhecimento ao seu honroso trabalho, ganhou o Prêmio Internacional PrixUnesco; medalha de Ouro das Anfictionias* de Delfos; Medalha de Ouro da Unesco. Publicou mais de 25 livros na Grécia, entre os quais: Poesia: A minha alma Jerusalém, A morte da Cidade, como cantam as crianças, Ode da Paz (o qual ganhou o “Mendel d’Or” da Academia de Letras da França), e foi musicado por Mimis Plessas e cantado em 1984 como o hino da tocha olímpica.

Escreveu para vários jornais gregos e estrangeiros, produziu várias peças teatrais, saraus, atividades na Grécia e na diáspora. Fundou as Organizações ‘Dinos Koubatis Teatro Experimental na Grécia’. Membro de diversas instituições literárias, na Grécia, Portugal, França. Membro da Sociedade dos Escritores “Pegasi” Albânia. Suas obras foram traduzidas para os idiomas francês, inglês, italiano, alemão, indiano, polonês, albanês, sérvio, ucraniano, russo e turco.

 

Magna Aspásia Fontenelle, entrevista o grego DINO S. KOUBATIS jornalista, escritor, ator, diretor, editor e poeta.

“Dedico-me a todos os elementos que integram a “literatura” e não consigo identificar qual género mais me define. Cada um deles carrega suas singularidades, proporcionando uma experiência única e, acima de tudo, o prazer criativo que transmite uma sensação de libertação”.

(Dino S. Koubatis,2024.)

 

 

ENTREVISTA

 

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REVISTA THE BARD – Conte -nos sobre sua família, infância, adolescência. 

DINO S. KOUBATIS – Nasci e cresci numa família muito feliz no coração da Antiga Atenas. Aos cinco anos, mudei-me para Ilioupoli, uma zona rural nos arredores de Atenas, até que, aos nove anos, fui viver em Heraklion, na ilha de Creta, próxima à lendária civilização de Cnossos, com suas histórias do Rei Minos, do Minotauro, do Príncipe dos Lírios e da Senhora dos Lírios. Foi nessa cidade que experimentei uma felicidade plena junto dos meus pais, que sempre foram dedicados a mim, assim como eu era a eles.

Em Heraklion, concluí os meus estudos primários, aprendi francês e inglês e comecei a aprofundar os meus interesses por jornalismo, literatura e teatro. Aos treze anos, tive o orgulho de ver o meu primeiro artigo publicado no maior jornal da ilha, o Mesogios, e, a partir de então, tornei-me colaborador regular. Simultaneamente, fundei uma companhia de teatro amador, com a qual encenávamos diversas peças, alimentando ainda mais a minha paixão pela arte.

Minha infância foi serena, envolta em amor e repleta de questionamentos sobre o mundo e as coisas ao meu redor. Na adolescência, vivi uma busca incessante por conhecimento e aprendizado, influenciada pelos meus pais, que eram pessoas cultas e ativamente engajadas na sociedade. Naturalmente, segui os seus passos, alcançando, com o apoio deles, muitos dos objetivos que tracei.

Essa fase da minha vida transcorreu de forma relativamente tranquila, embora não tenha sido isenta de momentos de tensão emocional, especialmente em interações com amigos da mesma idade. Nesses episódios, procurei equilibrar as emoções com a razão e as lições que a experiência me trazia.

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2

REVISTA THE BARD – Como você ingressou no teatro?  E na literatura?

DINO S. KOUBATIS – Os meus pais amavam o Teatro e o Cinema. Desde muito cedo, durante minha infância, eles me apresentaram ao “palco” e à “grande tela”. Tudo o que eu via como espetáculo, eu reproduzia sozinho em casa. Adorava imitar e imitava a todos e a tudo. Rapidamente percebi que o Teatro me chamava para servi-lo, e, conforme fui crescendo, me dediquei a ele. Canalizo minhas necessidades internas de expressão por meio da interpretação teatral, da direção e dos meus trabalhos cênicos. O mesmo ocorreu na Literatura. Ainda na infância, já tinha pronto um pequeno poema em forma de quarteto, e, assim que aprendi a escrever, enchia meus cadernos com pequenos poemas, os quais, embora iniciais, me conduziram ao mundo funcional e construtivo da Literatura, abrangendo diversos gêneros, como poesia, romance, ensaio, estudos, entre outros.

 

3

REVISTA THE BARD – Quais de suas obras literárias te define? Quantos livros publicados?

DINO S. KOUBATIS – Todos os gêneros literários me representam. Contudo, a dúvida que me acompanha é se os sirvo adequadamente e se consigo expressá-los da maneira que almejo. Dedico-me a todos os elementos que integram a “literatura” e não consigo identificar qual género mais me define. Cada um deles carrega suas singularidades, proporcionando uma experiência única e, acima de tudo, o prazer criativo que transmite uma sensação de libertação. Pessoalmente, sinto-me completamente realizado a cada obra que concluo, independentemente de sua natureza. Entendo que cada género discursivo encerra não apenas as suas singularidades, mas também proporciona uma satisfação intrínseca pelo trabalho realizado, resultante dos objetivos alcançados ao término do processo criativo.

 

4

REVISTA THE BARD – Conte-nos sobre   sua poesia “Ode da Paz” e as Olimpiadas de 1984?

DINO S. KOUBATIS – Este poema, que também intitula o meu livro, presta uma homenagem à Paz e expressa um clamor de desespero diante das injustiças que ela tem sofrido ao longo dos tempos. Simultaneamente, é um apelo a todos os povos da Terra para que se levantem contra aqueles que, em benefício próprio, promovem guerras ao redor do mundo, independentemente da natureza desses benefícios. Desde os primórdios da civilização, a humanidade tem sido marcada por conflitos incessantes, quando deveria buscar o bem-estar global por meio de soluções pacíficas.

O livro, publicado em 1986 no Canadá pela editora “The Hellenic Roots Publications” (Publicações Raízes Helênicas), constitui um manifesto contundente contra a guerra. Além do extenso poema central, a obra inclui outros poemas menores que também abordam o tema da Paz, opondo-se a qualquer forma de conflito. Um desses poemas foi musicado em 1982 pelo renomado compositor grego Mimis Plessas, e acompanhou a “Chama Olímpica” em sua passagem pelas Nações Unidas. Esse evento, que todos os anos tem início na antiga Olímpia e percorre a Europa, culmina na conferência anual da ONU. O poema, intitulado “Ode à Paz “, foi interpretado pelo Coro Misto de Trikala, sob a regência de Terpsichoris Papastefanou.

 

5

REVISTA THE BARD – Conte-nos sobre suas peças teatrais. Qual você considera mais importante?

DINO S. KOUBATIS – Minhas produções teatrais são numerosas e diversificadas, abrangendo desde o drama grego clássico até peças contemporâneas, explorando uma ampla variedade de géneros e correntes teatrais. Por meio dos diferentes temas que abordo, procuro tratar de questões humanas que demandam soluções, conduzindo os enredos, ao final, à “catarse” dos atos e emoções de seus protagonistas.

Muitas dessas obras foram encenadas tanto na Grécia quanto no exterior, algumas delas sob minha própria direção. Além disso, foram apresentadas na televisão, transmitidas pelo rádio ou ensinadas na Universidade Popular de Atenas, onde leciono Teatro.

Não consigo destacar uma única obra como mais relevante do que as outras, pois todas são profundamente inspiradas pelas necessidades e comportamentos humanos. A avaliação dessas peças, no entanto, cabe principalmente ao público que as assiste e aos críticos de teatro que as analisam.

 

6

REVISTA THE BARD – Quais foram as civilizações que antecederam a Grécia Clássica e como elas influenciaram a cultura grega?

DINO S. KOUBATIS – Acredito que, embora a educação clássica da Grécia Antiga tenha contribuído de maneira significativa para o desenvolvimento do pensamento e das artes, tornando-se uma fonte de luz para civilizações posteriores, ela também foi, inevitavelmente, influenciada por culturas mais antigas. Essas influências foram assimiladas e aprimoradas de forma notável.

Quanto às civilizações que exerceram tal impacto, não me sinto apto a emitir uma opinião definitiva, pois os arqueólogos constantemente revelam novas descobertas que, por vezes, desafiam e substituem conhecimentos previamente aceitos. Esse processo é contínuo, evoluindo à medida que as pesquisas avançam.

Todavia, é inegável que qualquer civilização anterior, com seus aspectos positivos, exerce influência inevitável sobre aquelas que lhe sucedem.

 

7

REVISTA THE BARD – Como o teatro grego influenciou as formas dramáticas e cômicas que conhecemos hoje?

DINO S. KOUBATIS – Sobre esse tema, tenho algumas reflexões importantes. É inegável que o Teatro Grego Antigo, com seus dramas e tragédias, foi a principal fonte de inspiração para o teatro que se desenvolveu posteriormente na Europa, começando pela Commedia dell’Arte. Ao longo do tempo, apesar dos inúmeros desafios enfrentados, o Teatro conseguiu consolidar-se e traçar uma trajetória admirável.

Contudo, atualmente, percebo que o Teatro Mundial enfrenta uma grave crise de identidade, que, inevitavelmente, o conduz a um processo de autodestruição. Muitos dramaturgos parecem empenhados em escapar de um estado de estagnação criativa e de ignorância. Entretanto, constata-se a encenação de peças nascidas de um vazio artístico que, por sua vez, levam a um completo esvaziamento de significado.

O Teatro moderno perdeu a função de “escola”, atribuída pelos gregos antigos. De Ésquilo a Molière, passando por Shakespeare, Goethe e tantos outros, o Teatro Mundial vem atravessando um processo contínuo de enfraquecimento, que o deteriora e o conduz à irrelevância. O espaço antes reservado a grandes obras vem sendo ocupado por experimentações modernistas sem fundamento, que não levam a lugar algum, senão ao caos teatral.

Nesse cenário de desordem, qualquer um se atreve a subir ao palco, improvisando sem transmitir ou expressar algo significativo. Essa realidade me provoca uma profunda tristeza, pois o Teatro, que outrora foi um pilar de reflexão e transformação, parece estar se desintegrando diante de nossos olhos.

 

8

REVISTA THE BARD – De que maneira os gregos antigos cultivaram a noção de “kalokagathia”, que associa a beleza física à virtude moral?

DINO S. KOUBATIS – A palavra é formada a partir dos adjetivos “bom” e “virtuoso”. Uma pessoa que possui essas qualidades reúne em si características como bondade, equilíbrio e a harmonia de sentimentos nobres e gentis. Esse indivíduo demonstra virtudes espirituais, intenções éticas e elevada moral, sendo desprovido de maldade. Ele é capaz de perdoar facilmente, não guarda rancores e não busca vingança. No grego antigo, “bom” kalos” (καλός) também se refere ao belo, enquanto “virtuoso” agathos (αγαθός) significa o bom de caráter. O comportamento de uma pessoa “kaloskagathos” revela seus verdadeiros sentimentos, refletindo sua “kaloskagathia”, ou seja, sua excelência moral e ética.

 

9

REVISTA THE BARD – Deixe uma mensagem de Natal aos leitores da Revista The Bard.

DINO S. KOUBATIS – Desejo à Revista The Bard e aos seus colaboradores contínuos sucessos e longa trajetória, gostaria de transmitir aos seus leitores os meus votos de um ‘Feliz Natal’ e que o Ano Novo traga às suas almas felicidade e esperança por um mundo melhor, livre de guerras e discriminações raciais, inspirado pelo amor e pela busca incessante por conhecimento e progresso.

Muito obrigada pela sua participação!

 

ODE À PAZ

Seguiremos em frente,

determinados,

inimigos da guerra,
soldados da Paz!
Com tochas acesas, avançamos,
trazendo esperança e luz,
como guias de uma nova era.

 

Convocamos todos,

Generais, líderes,

Traidores da Paz!

Abandonem as armas e,
sigam com um novo coração,
tornando-se fiéis soldados da Paz.

 

Unamo-nos, juntos como um só,

livres de ódios e paixões.

Que cada um reflita por si:
quanto já custou a guerra?
quanto sangue foi derramado em vão?
E que a nossa voz se una em um só clamor: “P a z”!

 

Por MAGNA ASPÁSIA

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