Coluna: Nem te conto!
“O povo conta as histórias de amor e valentia, reinos encantados, príncipes, piratas,
feitiçaria. Eu também vou contar uma…”
Os versos iniciais do cordel “O cangaceiro Isaias” de Eneias Tavares Santos, que eu costumava cantarolar na minha infância no Piauí é um dos meus favoritos. Gosto especialmente desta introdução que dá a dimensão da narrativa no imaginário popular do Nordeste, onde estão as minhas origens, e onde também foram encontrados diversos sítios arqueológicos que nos trazem um pouco da história de nossos antepassados e de antes deles, quando os gigantes pré-históricos dominavam o mundo. A humanidade é um retalho de histórias que ora se cruzam, ora se afastam. E a cada novo olhar sobre essa história, novas histórias surgem, criando uma infinitude narrativa que nos encanta e nos mantém em movimento. E é sobre isso que quero começar a falar com vocês: somos todos contadores de histórias!
Há um ditado que diz: “Quem conta um conto, aumenta um ponto”. Adoro essa percepção de que cada história contada é um pedaço de nós que doamos aos que virão a seguir.
E isso é, ao mesmo tempo, incrível e desafiador. Sobretudo quando se trata de um gênero narrativo que prima pela concisão e limitação de espaço autoimposto. Refiro-me aos “microcontos”, aquelas narrativas que, de tão curtas, podem se apresentadas em alguns poucos caracteres de texto e/ou palavras.
Para entender os microcontos, devemos começar pensando nos contos, seus “irmãos mais velhos”. De forma introdutória, podemos pensar no conto como uma narrativa breve, com um número de personagens extremamente reduzido, ocorrida em um período e num espaço físico (cenário) limitados, com uma única unidade dramática. Embora os contos clássicos possam conter algumas dezenas de páginas, os contos modernos dificilmente ultrapassam vinte páginas. Grandes contistas modernos como o moçambicano Mia Couto, podem narrar histórias incríveis em poucas páginas, como em “A infinita fiandeira”, conto presente no livro “O fio das missangas”, meu conto favorito da obra.
E é aí que chegamos aos microcontos. Um microconto é um conto, com todas as suas características, porém ainda mais conciso, pois toda a narrativa transcorre em um punhado de palavras, como nos mostra Kafka ao escrever “Uma gaiola saiu à procura de um pássaro.” Percebam como todos os elementos estão dados e, como no conto moderno, há ainda a característica de ser uma história que termina de forma impactante. “Um soco no estômago”, como costuma dizer a Flávia Iriarte, Publisher da Editora Oito e Meio, do Rio de Janeiro. O microconto, por sua brevidade narrativa, sintetiza perfeitamente esse impacto. E é aqui que me despeço, por hora, com uma seleção de impacto.
Por Josenilson Oliveira