Você conhece as técnicas narrativas usadas nas histórias?
Olá, leitores da The Bard. Vamos conversar sobre literatura e técnicas narrativas?
Tanto na escrita de fantasia, quanto de outros gêneros literários, sobre as camadas de maravilhamento de seu livro favorito, existe muita criatividade e técnicas que te farão ficar preso do início ao fim do livro, sedento pelo próximo capítulo. E eu vou te contar alguns desses segredinhos e tenho certeza que suas próximas leituras serão inesquecíveis.
Técnica 1
Yes, But / No, and
Essa técnica, podemos supor pelo título, se trata de algo aprendido através dos países de língua inglesa. o conceito de “Yes, but” (em tradução literal “Sim, mas”) e “No, and” (em tradução literal “Não, e”)
São conceitos de construção e histórias através do conflito, ou seja, as ações da história são mais importantes e levam o enredo para frente, e não as vontades e dos desejos do protagonista. (e isso é algo muito legal e conversarmos Character Driven e plot Driven. Me cobrem para que eu não esqueça em futuros artigos)
Então, vamos lá: do que se trata essa técnica?
Seu protagonista sempre terá um dilema. E você tem sempre duas possibilidades: dar certo ou não. E deste desdobramento temos as opções “Sim, mas” e Não, e”
Vamos a partir de uma protagonista hipotética:
O sonho de Laura era passar no vestibular e fazer o ensino superior. Ela conseguiu?
Sim, mas seus pais ficaram doentes e ela teve que cancelar a sua viagem
Não, e ela percebeu, depois da decepção, que ela não queria realmente seguir aquela carreira, e se permitiu seguir a carreira de cantora.
Vamos agora partir para um tom mais fantástico com um novo exemplo?
Lilian descobriu um portal para um novo mundo no parque da cidade. Ela foi para esse novo mundo?
Sim, mas quando ela atravessou o portal, exércitos de seres daquele mundo a aprisionaram, junto com um dragão.
Não, e seres daquele outro mundo a saíram pelo portal e a perseguir ela nesta dimensão, pois ela sabia do segredo deles.
Claro, essa técnica tem minúcias mais profundas, mas essa breve análise já nos mostra que toda decisão de um personagem na história tem consequências. E sempre deve haver um conflito, pois sem conflito, não existe histórias, não é verdade?
Técnica 2
Tudo que você conhece é a ponta do Iceberg
O estudo e uso de técnicas na literatura é essencial para ter uma narrativa charmosa e que prende o leitor, por isso existem aqueles livros que você não consegue largar, e promete que só lerá mais um capítulo, e quando percebe, já são três da manhã e você não cogitou parar de ler.
Você já ouviu falar da teoria do Iceberg? O escritor superfamoso Brandon Sanderson é adepto dessa técnica.
Brandon Sanderson é conhecido por Mistborn e por escrever os últimos livros da série A Roda do Tempo.
Mas do que se trata essa teoria?
Você já sentiu ao ler um livro que os elementos da história, o mundo e até o universo daquela narrativa são muito mais complexos do que o autor nos conta? É como se só enxergassem aquele pequeno pedaço flutuante de gelo acima do mar, sem ter noção nenhuma da porcentagem do gelo que está abaixo d’água.
E é dessa forma que funciona: o autor sabe muito mais do que nos conta. Mas, por que isso acontece?
Quando escrevemos uma história, selecionamos uma fatia de vida de nossos personagens e os eventos que irão permear a história, em seu começo, meio e fim. Todos os capítulos, diálogos devem cobrar algo do passado, revelar algo do presente ou nos dar um vislumbre do futuro da história, caso contrário, essa parte não precisa estar na linha do tempo da história. Mas isso não significa que não seja importante só que pode ser contada de outra forma ou nas entrelinhas, por exemplo nos diálogos ou ações dos personagens.
Pense em uma fantasia épica, onde há muitos elementos para serem pensados na composição do mundo fantástico, dividimos entre aspectos materiais (relevo, clima, raças, fauna, flora) e imateriais (cultura, castas, usos e costumes, comércio, educação). Porém, são tantos detalhes a serem pensados que escolhemos três destes aspectos que deram destrinchados, pois são os mais importantes e que se conectam a sua história.
Em Crônicas de gelo e fogo, os principais aspectos que distingo são: hierarquia e castas, divisões territoriais e folclore/ criaturas místicas. Ou seja, as informações que são pertinentes para o prosseguir da história são focadas e muito detalhadas. Porém eu tenho certeza de que o George R.R. Martin sabe muito mais do que nos conta, caso contrário o livro ganharia muitas outras páginas e não significa que elas seriam necessárias, e não podemos esquecer que dessa forma ele tem material suficiente para criar outras histórias derivados de sua série principal.
No final, o que vale é que você leitor desfrute de todo o seu passeio livro adentro, como em uma pequena canoa vendo o iceberg ao longe, sem distrações, apenas seguindo seu caminho e aproveitando o passeio, sem ruídos, nada que retire sua suspensão de descrença ou balance seu barco para lhe lembrar do mundo real.
Você sabe que o Iceberg está alí, que há muitos metros de gelo abaixo, porém saber o tamanho do gelo não fará diferença nenhuma, pois apenas quer admirar a paisagem. E no final do livro sentir que leu “aquela história” com o coração satisfeito, ou sedento por respostas da continuação.
Por JOSI GUERREIRO