Na carne fria, na ossada decomposta
A miserabilidade existencial, exposta
E vermes se achegam à mórbida ceia
Porque roer peles é o que lhes enleia
Queixas noturnas comovendo a lua
Na melancolia do versejar impudico
Rechaçou a taça do vinho comedido
Inebriou-se da sangria e da dor crua
Augusto dos Anjos, tremendo ícone
Fez da agonia e ocaso o seu cânone
Na estética da morte, imortalizou-se
E na sua intensidade, consolidou-se
Arcanjo insurgente, tantos espantos
Avultou a par das estrelas cintilantes
Abrasando a vida em graves prantos
Como um fósforo, alumiou instantes
Por PIETRO COSTA
Brasília – Distrito Federal, Brasil