para quem você escreve
se risca nos cadernos arcaísmos
pedantismos, egos
que seu povo não sabe ler
e nem no dicionário estão mais
quer o mistério
esconder as ideias
de quem? de você?
enrola a língua com suas cultices
chatices do elitismo cultural
que não dá espaço nem ouvidos
à realidade do que está ao redor
não sai com a muié, não sabe quem passa fome,
não bebe uma breja, não come um churras ou sobe uns morros
para ver o sol nascer
isso tudo é muito para um só intelectual
sou leitora e escritora,
não sou poeta, mas observadora
ouço ideias, ignoro arrogâncias
a sabedoria está muito além de qualquer norma culta,
ela é simples e de fácil acesso
está em Alphaville, nas favelas
no branco, no preto
no católico e no macumbeiro
nas faculdades e botecos
onde estiver alguém disposto a escutá-la
a vida é boa e vale a pena tentar
quem me disse isso não foi um grande filósofo
ou um escritor renomado da academia brasileira de letras
foi uma criança que havia acabado de aprender a falar.
Por MARIA GABRIELA CARDOSO
Porto Velho – Santa Catarina, Brasil