Ainda levo comigo
as lembranças daquele dia
Aquele dia ensolarado
em que saí sem rumo
Não havia nuvem alguma no céu
Mas minha cabeça permanecia entre elas
Flutuando no céu cálido
Flutuando na imensidão azul
Em baixo, numa autoestrada vazia,
meu corpo inerte sob os raios de sol
o vento beijava meu rosto
O carro deslizava vagarosamente
em linha reta
No rádio, alguém cantava,
silenciosamente
Ouvia o choro das cigarras
Via o asfalto oscilar; parecia molhado
Sentia o cheiro salgado no ar
Seria esse o sabor doce da juventude?
Sozinho, na companhia do amor
da minha vida
Atravessamos uma plantação de girassóis
Milhões de flores, se estendendo até o horizonte
Um mar verde e amarelo onírico
No fim da estrada, vejo o mar
Seu azul profundo se funde com o do céu
Vejo praias de areia branca
Vejo, pela primeira vez, pessoas
Vejo a vida desabrochar
Deixo para trás as preocupações,
a dor e a melancolia
Só por uma tarde, apenas por um dia
Mas é o bastante para mim
Para que eu possa voltar a viver
Para que eu possa voltar a sonhar
Por ARYSSON SILVA
São Paulo – São Paulo, Brasil