todo esse tédio
me atravessa
como se eu fosse um fantasma
eu não sou feito de nada
invisível aos olhos do destino
nem eu me vejo em espelhos
olho para mim mesmo
e vejo qualquer coisa
menos eu
tudo gira, tudo corre
alguns têm a sorte
de saber voar
eu não posso nem tentar
tentei me inventar
até perceber que eu não posso criar
eu não posso inspirar
eu não posso mostrar
porque eu não posso mais ficar aqui
e mesmo que eu saia, não sei pra onde ir
eu nunca soube o que é pertencimento
e eu não consigo mais seguir o tempo
se eu esperar, vou continuar no mesmo lugar
comprimido em sujeira
sendo apertado e amassado
cada vez menor
até não sobrar matéria
corpo sem alma
carregado pelo mundo
escravizado e punido
por não ser nem objeto
minha não existência
afasta o que é real
sempre ignorado
e de novo esquecido
memórias falsas
de uma mente incompleta
levaram todos os meus sentidos
eu não quero depender
por isso odeio o vento
que nunca se preocupou em dizer adeus
Por MAISA SOUSA
Osasco – São Paulo, Brasil