Havia uma casa
fincada em um jardim de papoulas
com janelas de madeira esverdeada
e eu mesmo nela morando
Naquela casa havia um menino
que passava as manhãs estudando
às tardes sorrindo e sonhando
que adorava seu autorama
e eu mesmo nele brincando
Naquela casa em que havia um menino
vivia uma família que era pequena
apenas um pai, uma mãe e um filho
sentados juntos nas mesas dos domingos
e eu mesmo com eles almoçando
Naquela casa em que havia uma família
todos estavam se fotografando
pois no amanhã da infância
poderiam continuar existindo
no interior dos álbuns guardados
e eu mesmo lá me conservando
Havia uma casa
um menino
uma família
dezenas de retratos
e a vida era imutável
e eu mesmo nela me transformando
Havia uma casa
que hoje já não existe mais
e eu mesmo nela ainda me recordando
Por JOAQUIM CESÁRIO DE MELLO
Recife – Pernambuco, Brasil