Abro os olhos, sinto minha normal respiração, ouço o palpitar dentro do meu peito, o dançar dos meus dedos, o desdobrar das minhas pernas – sento, alongo-me e retorno em oração de agradecimento – respiro profundamente, encho-me como a um balão e em sopros suaves, solto lentamente os finos sons de todo velho ar que ainda estava em mim; inspiro mais profundamente a inflar meus pulmões, a circular pelo sangue, pelas células o renovação do oxigênio – expiro lentamente esvaziando-me ao dissecar os mortos organismos de outrora. Deito-me, deleito-me num respirar profundo do renovar-me, ao entrar num puro estado de consciência.
Desço, piso e sigo – molho o chão com o pano já lavado e cheiroso – debruço-me sobre ele a esfregar-lhe nesse instante de coisa tão “menor” do tanto que o dia me chama!
Nesse gesto de profunda entrega a tornar-se sagrada no oculto estado mecânico do qual me fora rotineiro; nesse gesto de profunda entrega de consciência do agora, do como fazer e não simplesmente do que fazer – recebo o belo que ali também floresça.
A música tá aqui, num ressoar baixinho e sem pressa de chegar – nessa percepção lúdica, nesse jogo de azar ou de sorte das inconstâncias – sinto minha criança em manifesto de cura, sinto minha mulher a desatar-se da força do medo e a acreditar na entrega.
Por Emanuela Lopes
Salvador – BA, BRASIL