Não há mais galos nas cidades, João
apenas prédios, asfaltos e calçadas cimentadas
a receber o manto esfriado das madrugadas
Não há mais casas nem quintais
os terrenos baldios foram sepultados
e as minhocas saíram da terra despejadas
Não há mais tanajuras nos dias de chuva
nem centopeias andando nos gramados
sequer se ouve hoje o cantarolar dos canários
Certa vez um pombo tolo se encantou
com sua imagem refletida na janela
espelhada de um elevado empresarial
e se espatifou caindo no chão da garagem
As poucas lagartixas que ainda há
não atravessam ruas para não serem atropeladas
e crianças brincam com sapatos nos playgrounds
Não há mais galos na cidade, João
e as manhãs vão se tecendo sozinhas
desamparadas e silenciosamente abandonadas
Por JOAQUIM CESÁRIO DE MELLO
Recife – Pernambuco, Brasil