gosto de ver
de sentir
as coxas se retesando
os corpos se incontendo
ao som da música
do blues
o palco, a plateia
a guitarra potente
marcante, pungente
quase senciente
lancinante
cortante, impactante
os músicos se mexem
se remexem
o público responde
como num filme
como no meu filme
dentro da minha cabeça
o baixo me provoca
a bateria me convoca
eu vibro
pulsante, confiante
é o som que me move
o ritmo, a batida
a sensação ainda existe
o sentimento ainda persiste
a esperança ainda insiste
sou nervos e nervos e mais nervos
não todos que eu queria
mas é o que importa
eu sinto
eu vibro
eu olho
sinto o cheiro do suor
o palco
as luzes
as cruzes
de cada um
as deles, as suas e as minhas
essa cadeira não é nada
não me proíbe, só me coíbe
ainda penso
ainda imagino
nós dois
com emoção, com tesão
rodas, pra que te quero
levem-me ao som que me liberta
a quem me fará feliz
ao poema que me solta
a meu nada que é meu tudo
deixem-me seguir
até o vídeo terminar, até o dia raiar
pasmem – ainda sei gozar
o gozo tem muitas formas a explorar
quem sabe ajeitam as calçadas
pra que eu possa caminhar
sobre rodas, sem me machucar
enquanto isso, vamos de blues
e sons azuis
que a vida segue
e preciso fazer coisas
que só a música me permite executar
e a vocês não permito nem olhar
Por JOSÉ MANUEL DA SILVA
Rio de Janeiro – RJ, Brasil
