Queria beijar meu eu do passado.
Gastaria meu desejo que namora o absurdo acalmando constantes tempestades,
depois diria para mim:
vossa intensidade virará maturidade; se puder, acalme-se.
Coloque alma em cada etapa.
Tente aprender na dor, crescer no amor: viver deve ser isso, tomara.
Olharia com cuidado para cada parte daquele esguio corpo:
trataria arestas sem a crueldade que a adolescência promovia.
Entenderia cada decisão:
errar é tão caminho quanto o acerto, gosto da pureza de cada equívoco.
Beijaria meu avô demoradamente, pediria que deixasse a vergonha no sofá.
Rodopiaríamos no meio da sala,
antes que seu perfume memória virasse
e aquela piscina parecesse ter existido em outra vida.
Entenderia o mosaico imperfeito de viver e voltaria para o meu de hoje.
Perdoando cicatrizes e a falta de colágeno.
Vida é breve e brisa parece: evaporamos de repente.
Perdoo o passado para o futuro leve ficar.
Perdoe-se também.
Por ANDRÉ MACHADO DE AZEVEDO
Rio de Janeiro – RJ, Brasil