Numa sala branca uma mulher observa atentamente
o jovem exibindo todos os sinais de um ansioso.
Ele estala seus dedos.
Não consegue prestar atenção.
Suas pernas tremem.
Ela mira o jovem e nada.
Silêncio.
Era sua vez de falar,
Ela anteviu,
“Como você se imagina em dez anos?”
A resposta primeira e sarcástica seria
– Morto.
A sombra de um riso tomou seu rosto.
Não disse nada.
“Gostaria que eu reformulasse a pergunta?”.
Não ajudaria.
Pois a infeliz resposta é a mesma há muito tempo.
Cinco anos atrás estaria morto.
Dez anos e ele continuaria morto.
Quinze? No entanto, seria feliz.
Na realidade, a resposta seria ser um artista
– mas a felicidade era subentendida.
Tosses e cochichos tomaram a roda;
Precisava falar algo!
Coçou a cabeça.
“Daqui dez anos?”
Olhou seus pés.
Colocou a mão no ombro.
“Bom, espero estar bem e formado”.
A segunda resposta, foi a clínica.
A socialmente aceita.
Porém, igualmente ilusória.
A mulher lhe encarou e levantou a sobrancelha.
Não fora convencida da resposta.
Nem ele.
Mesmo assim, ela passou a palavra a outro rapaz.
Mas a terceira e verdadeira resposta?
Em dez anos?
Estalo os dedos.
Reformulo o texto.
Sintetizo as ideias.
Em dez anos eu responderei,
com outro poema.
Por MIGUEL MORENO
Botucatu – São Paulo, Brasil
