De repente
a rede cortando passos
vozes e gritos ululando
nas asas do vento.
Os grilhões nos tornozelos
e a mata no pensamento.
O navio
dançando… dançando
nas ondas do mar.
Zoeira de muitos,
estar mal, mal estar
mal do mar.
A chibatava cortando ar
marcando a alma e a pele.
O lar ficou na distância…
A estrela cadente
alumiando a noite escura.
Quantas luas já passaram?
Nas brumas do mar se esfuma
a esperança de voltar.
Cadê filhos e mulher?
Em vão esperam que volte.
O navio singrando as águas
navega lonjuras, leva mágoas
na carga de gente a chorar…
No Valongo
estranhas vozes,
numa disputa acirrada.
Apalpam corpos,
olham os dentes,
fazem a prata tinir
fecham negócios
e traçam destinos.
Depois…
a viagem rumo ao sul
sempre levando nos tentos
a esperança de voltar…
No pampa, se aclimatou,
aprendeu ofício de campo
– Montar, domar e laçar-
Ergueu rancho para a prole
que um dia iria chegar.
Na quincha do rancho
o minuano assoviava
e sumia na distância
estendendo o manto gelado
sobre o verde das coxilhas.
Melodia natural
do tempo que vai findando.
Viu os dias escoarem nos dedos
calejados pela lida
sonhando com outra vida
sem jamais poder voltar.
Por EGIZELDA CHARÃO
Cacequi – Rio Grande do Sul, Brasil