PROJETO FÊNIX – Deuses Africanos

PROJETO FÊNIX – Deuses Africanos

 Nesta edição eu estava preparando um material sobre a Cultura Celta, um povo que eu adoro por sua ligação a natureza e o misticismo que envolve suas lendas, sempre me fascinaram e claro por ser um dos primeiros povos do mundo.

 Porém, como mulher negra e vários casos na mídia sobre racismo e preconceito, me fez refletir sobre realmente qual mitologia eu deveria apresentar nessa abertura da coluna Mitologias e Crônicas.

 Depois de algumas pesquisas e reflexão, resolvi trazer para minha primeira coluna: A África! A Terra mãe. A Gaia das Gaias, meu berço ancestral. Então através dessas singelas linhas, trarei histórias de lutas, de força, de conquista e sobrevivência.

 Espero que se encantem com essas histórias tanto quanto eu.

 

Mãe África

 Antes de falar dos deuses africanos e suas religiões, algumas delas cultuadas no Brasil até hoje, gostaria de trazer um pouco sobre a cultura e alguns costumes africanos.

 O povo africano em sua totalidade tem mais de 400 divindades, isso mesmo, vocês não lerão errado, mais de 400 deuses e citarei alguns deles aqui.

 O continente africano possui aproximadamente quase 3000 mil etnias diferentes, cada um com costumes e idiomas diferentes, porém a língua mais falada é o árabe.

 Em algumas tribos existia concurso de beleza para homens (achei isso incrível) onde os mais jovens se enfeitam e são julgados por mulheres de outra linhagem.

 Entre os rituais de beleza feminino em alguns povos inclui passar uma pasta a base de gordura e pigmento vermelho da terra nos cabelos, toda manhã e em outras tribos, é colocar um disco no lábio inferior, lembrando muito algumas tribos indígenas brasileiras.

 Uma de suas joias é o Rio Nilo, um dos, mas extensos do mundo, que atravessa vários países como Sudão, Etiópia e Egito. Inúmeras civilizações antigas se beneficiaram com suas aguas, tornando suas regiões ricas e prosperas durante séculos.

 Mesmo as mais conhecidas sendo as pirâmides do Egito o país com a maior concentração dessas incríveis gigantes da arquitetura é o Sudão, uma das mais antigas é a pirâmide de Meroe, que fazia parte do Reino Núbio de Kusch, que foi construída a cerca de 4600 anos atras.

 Segundo algumas evidências cientificas, a África pode ser considerada o berço da humanidade, já que os primeiros fósseis humanos foram encontrados em suas regiões e são os mais antigos já encontrados e sua biodiversidade favorece muito essas teorias.

 Assim como na cultura Celta que temos os Druidas, que contavam a historia do seu povo através da oralidade, na África temos os Griots, que através dos tempos vem contanto a história de seus povos.

 

As Mulheres africanas

 Dentre tantas histórias africanas não posso deixar de citar a historia de algumas mulheres incríveis que fez história, confesso que algumas me fez arrepiar.

 A história africana é recheada de mulheres guerreiras, rainhas e líderes espirituais que cada uma do seu jeito, tentou mudar moldar sua própria historia e de seu povo.

foto da personagem Amina

 Amina ou Aminatu, foi uma das maiores lideranças femininas, que surgiu no sec. XVI, no continente africano. Apesar de algumas controvérsias estimasse que ela nasceu no ano de 1533.

 Foi rainha de Zazau, uma das cidades-estados huaçás, no norte da Nigeria. Chegou ao poder por sucessão, após a morte de seu pai rei Bakwa Turunko, seu reinado durou três décadas e foi marcado por desenvolvimento comercial, econômico e militar.

 Como guerreira comandou o exército de Zazau, conquistando vários territórios.

 Por conta de historiadores- colonizadores e muitas histórias ser passadas através da oralidade, a controvérsias sobre a existência da Rainha Amina, no entanto ainda hoje existe restos de seu palácio e campos de treinamento e até mesmo os muros que ela mandou construir em volta das cidades conquistadas, provando a existência dessa poderosa rainha guerreira.

 Mesmo com as hipóteses de ser só um mito ou não, a Rainha Amina é homenageada com seu nome, em escolas, faculdades e até mesmo a série televisiva da década de 90, “Xena, a princesa guerreira” (que eu adoro) tem inspiração na Rainha Guerreira Africana.

Foto da personagem Nzinga

 Nzinga, também conhecida por Jinga ou Ginga, foi rainha dos reinos de Ndongo e de Matamba, situados na região atual de Angola, no século XVII.

 Nesse período, liderou a guerra contra o avanço da colonização portuguesa em seus reinos. Hábil e carismática, Nzinga comandou grupos de guerreiros e se destacou como grande negociadora, diplomata e estrategista, usando táticas de guerra e de espionagem.

Quando eu voltei (…) tudo todos tentavam

erguer bem alto,

acima das lembranças dos heróis,

Ngola Kiluanji

Rainha Ginga.

Todos tentavam erguer bem alto,

a bandeira da independência.

(Trecho do poema o Içar da Bandeira – Agostinho

Neto, poeta e 1º Presidente de Angola).

 Os reinos de Ndongo e Matamba foram importantes estados africanos existentes antes da chegada dos portugueses; uma sociedade hierarquizada e organizada, com domínio do comércio, metalurgia, agricultura. Atualmente, são parte do que hoje conhecemos como Angola.

 Após ser enviada pelo seu irmão Ngola Mbande, até então rei, Nzinga mostrou sua altivez e a soberania do seu reino aos líderes português, que diziam querer a paz, contudo acabou não cumprindo a promessa que havia feito até então embaixadora Nzinga.

 Porém como a promessa dos portugueses não foi cumprida, agora como rainha, Ginga exige que o acordo seja honrado. Nesse meio tempo não se sabe ao certo como ela se tornou rainha no lugar do seu irmão, algumas histórias apontam que ela teria envenenado o próprio irmão, outras fontes indica que ele cometeu suicídio e até mesmo falam que ela foi eleita rainha regente, pois o rei que assumiria o reino, não tinha idade para tal, entretanto, a criança morreu afogada.

 Não se sabe ao certo o que aconteceu, contudo em 1623, ginga foi coroada, assim se iniciou a “Mitologia Nzinga”, rainha enigmática, cujo nome causava terror nos portugueses, para o seu povo foi um símbolo de vitorias e liberdade. Pois lutou pelo seu povo e fazendo tratados para manter a soberania da atual Angola.

 Após sua morte em 1663, vários soldados foram enviados para o Brasil, como escravizados, e acabaram influenciando com suas táticas, a resistência a escravidão no Brasil, especificamente em Palmares.

 Nzinga, influenciou importantes figuras de resistência durante as lutas pela libertação de Angola (1961-1975) e tornou-se ícone da independência.

 No Brasil, o nome Nzinga (Ginga) é constantemente invocado em rodas de capoeira, maracatu e em congadas.

 No mundo do samba Clementina de Jesus é chamada de Rainha Ginga, por sua importância e grandeza.

Imagem das guerreiras africanas

 Há muitos séculos, criou-se o estigma de que os exércitos só poderiam ser formados por homens, porque estes seriam mais fortes e, consequentemente, mais eficientes nas batalhas. Porém, o Reino de Daomé, atual Benim, desafiou esse padrão ao utilizar um exército formado apenas por mulheres, as famosas Amazonas de Daomé, que eram duramente treinadas desde a infância e inspiraram as “Dora Milaje” do filme Pantera Negra.

 Essas guerreiras compuseram o único exército feminino documentado na história moderna e tinham, inicialmente, o papel de defender o rei e, posteriormente, todo o reino. O nome “Amazonas” foi dado por europeus devido à semelhança com as guerreiras Amazonas da mitologia grega, também fortes e muito habilidosas com armas. Existem várias teorias sobre a origem do batalhão.

 Uma delas aponta que um grupo chamado gbeto, composto de mulheres caçadoras de elefantes, ganhou o reconhecimento do terceiro rei de Daomé, Houegbadja, e foram incorporadas ao exército real.

 Já no reino do rei Ghezo (1818-1858), as Amazonas foram oficialmente integradas ao exército de Daomé, e se tornam as verdadeiras guerreiras destemidas descritas neste texto.

 

A história dos Orixás

 Para o meu deleite consegui uma entrevista com uma Mãe de Santo, nada melhor que ouvir e consultar a sabedoria popular, quem vive todos os dias a sua cultura matriz.

 Todas as explicações, curiosidades a seguir vem desse conhecimento, para mim foi uma alegria descobrir tanta riqueza que origina do meu povo, espero que também gostem.

 Eloiza Elena dos Santos é a Mãe de Santo Nanguesurê, tem 18 anos no Candomblé, uma das veias religiosas vindas da África, através das pessoas escravizadas, e 8 anos atua como Mãe de Santo na Casa Elê Omo Nanã e Oxóssi.

 A hierarquia é muito importante para eles e o respeito aos mais velhos, então seguirei a ordem de acordo com os costumes dos mais velhos, de acordo com a tradição.

 Segundo a mitologia iorubá, Olodumaré, também conhecido como Olorum, é o deus supremo e inacessível. Ele criou o mundo e os orixás para governá-lo e servirem de intermediários entre ele e os humanos.

 Olodumaré não aceita oferendas, pois como é o criador de tudo tem poder sobre tudo e não há nada que ele não possua.

 Os orixás representam os elementos da natureza e Olodumaré é a junção de todas essas energias. Os orixás não são deuses, portanto as religiões que cultuam os orixás são monoteístas.

 Durante a colonização do Brasil, muitos dos negros trazidos da África para serem escravizados eram da região de iorubá e trouxeram consigo suas crenças e tradições religiosas.

 O Candomblé foi a religião que passou a ser praticada por esses povos escravizados no Brasil, seguindo as tradições e cultos africanos e cultuando os orixás da mitologia iorubá.

 • Exu – O orixá mensageiro, apesar de que para muitos que não conheci a cultura é dado como uma entidade maléfica, contudo ele é um comandado dos orixás, executando suas tarefas independente das consequências.

 • Ogum – Abri os caminhos, também conhecido como guerreiro das batalhas, vencedor das demandas. Ele luta à frente de todos com a sua espada para proteger os filhos de fé. sua cor é o azul escuro ou vermelho.

 • Oxóssi – Senhor das matas, caçador e fartura. Sua cor é azul turquesa e seu animal principal é o coelho e comida preferida é o milho.

 • Logunedé – filho de Oxóssi e Oxum, herdando a face de caça do pai e a beleza da mãe. Seu animal é o faisão.

 • Ossaim – Dono das ervas e ervas de cura através dela, ou seja, ele usa as plantas para curar os enfermos. Também reverenciado por promover o alcance ao sucesso e bens materiais.

 • Omolu – Cuida da doença, ou seja, é o orixá protetor dos pobres doentes, um dos mais nobres entre os Orixás. Também conhecido por libertar as pessoas de seu sofrimento através da cura.

 • Xangô – O representante da justiça, espírito guerreiro, reza a lenda que por causa de sua beleza foi disputado pelas mais poderosas orixás, suas cores é o marrom e branco ou vermelho e branco. Sua comida favorita é a Amala, quiabo com camarão. Seu animal é o cágado.

 • Iansã – Guerreira, a forca feminina dos ventos e das tempestades. Comida favorita é o acarajé e seu animal é o búfalo.

 • Oxum – Dona do amor, deusa da fecundidade, ela mantem o equilíbrio na natureza e protege seus filhos com seu instinto maternal. Comida favorita é o feijão fradinho.

 • Iemanjá – A mãe de todos. Dona do Ory (cabeça) – para ela é feito oferendas quando a pessoa está “desiquilibrada”. Uma das entidades mais amada no Brasil é considerada rainha do Mar. Seu alimento favorito é o peixe.

 • Nanã – Dona da vida e da morte. Uma das mais velhas e respeitadas orixás, pois é a rainha da lama de onde surgiu o homem. Conhecida por mãe ou avó dependendo do filho de fé. Reverenciada por sua sabedoria ela é a protetora dos idosos e maternidade. – Sua comida favorita é a rã. Comida favorita é canjiquinha e é representada pelas cores roxo ou azul.

 • Oxumarê – Lembrado como orixá das riquezas, do ciclo da vida e como caminho da felicidade. Na natureza ele é representado pela cobra arco íris, quem tem esse orixá protegendo encontra prosperidade, abundância e riqueza para o seu povo. Sua comida favorita é a batata doce.

 • Iroko – Conhecido como o senhor do tempo. Regido pela ancestralidade, é conhecido como a arvore da vida da terra, por onde todos os orixás encontraram meios de manifestar no mundo. Lider dos espíritos sagrados. Sua presença pode ser cultuada também pela árvore figueira branca.

 • Obá – Representa o poder dos ventos, assim como Iansã. Obá é senhora dos redemoinhos e uma das mais poderosas guerreiras, entre as entidades. Ela sempre está com a espada e o escudo na mão para proteger quem pede seu socorro e busca por força.

 Ela luta pelo que acredita e todas as mulheres que buscam por força recorrem a essa orixá. Ela é considerada a mãe dos corações femininos.

 • Eres – São representados pelas crianças, são amigos de todos e muito divertidos, amam doces e brincadeiras. Representado por gêmeos são protetores das crianças e simbolizam o nascimento da vida.

 • Oxalá – O pai de todos, força suprema dentro do candomblé, o mais conhecido de todos os orixás. Criador da humanidade, pai dos homens e benevolente, ele é o responsável por guiar os filhos de fé para a vitória. – Sua comida favorita é o carneiro.

 • Oxalufan – Representa o velho, o princípio da criação, o vazio, o branco, a luz, o espaço onde tudo pode ser criado.

 • Oxaguian – Representa o novo. Oxaguian é uma das qualidades do orixá mais poderoso que existe, Oxalá. Ou seja, entre as características de Oxaguian está toda a força e toda a perseverança de um jovem guerreiro, como é a figura que ele incorpora.

 Dentro do candomblé, que é o foco nessa narrativa, temos as Mães de Santo, as Iyalorixá e os Pais de Santo Babalorixá, eles ocupam o posto mais elevado da casa, tem como função de iniciar e completar o ato de iniciação dos Olorixás. E atualmente temos mais Babalorixá do que Iylas.

 Dentro dos costumes do candomblé, a mulher vem como filha de santo IyaKekerê, mãe pequena e zeladora. Dentro de suas convicções, algumas funções só podem ser executadas pelas mulheres, as Iylas. Nas tradições mais antigas só as Iylas podiam cozinhar para os orixás, cuidar os Olorixás quando recolhidos para iniciar no candomblé.

 Outra mudança que vem ocorrendo é o uso do torço (pano na cabeça) que só as mulheres podiam usar e o uso de saias por homossexuais.

 Infelizmente segundo a mãe de santo Nanaguesurê, existe uma diferença no tratamento entre as mães de santo e os pais de santo, não sei dizer se é uma tradição ou uma questão da atualidade.

 Assim como os deuses gregos, que tinha seus templos para adoração na África cada orixá tem a sua casa. E cada casa tem o nome do orixá.

 

Curiosidades do Candomblé

 Qualquer pessoa é aceita na casa do orixá, desde que respeite as regras. Se não se adaptar o orixá da casa o encaminha para outra.

 Todos os orixás são iguais, o que determina qual orixá vem primeiro é a idade do pai/mãe de santo da casa.

 Cada orixá tem sua cantiga, cor, saudação de dia da semana específicos de acordo com suas atribuições.

 A essência do candomblé é a vida. Os orixás são forças da natureza. Outra característica importante é que as roupas dos orixás é uma escolha do homem, eles não se importam com o luxo, prova disso é que veem com os pés descalços

 Também vou disponibilizar alguns links para quem quiser conhecer as cantigas de alguns orixás.

Clique aqui para assistir

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Orixás

Exu
Ogum
Oxossi
Logumedé
Ossaim
Omolu
Xangô
Iansã
Oxum
Iemanjá
Nanã
Oxumarê
Iroko
Obá
Eres
Oxalá
Oxalufan
Oxaguian

Por LADYLENE APARECIDA

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