Carta para um outro plano
Carolina,
Eu tenho 52 anos e confesso que descobri o quanto seus escritos tornaram-se importantes
Que veio do planeta fome, conhecedora da dor periférica
Sobrevivendo como catadora alimentando-se dos livros, distraindo a barriga vazia
Seu conhecimento viajou no submundo negado por políticos
Foi árdua sua trajetória, transformou fome e dor em aprendizado
Outra vez a cultura muda a vida
Transmuta para fé no “Quarto de despejo”
Você escurece contando seu sofrimento
Seu escrito fala sobre isso: Amor e cultura no meio do lixo
Atravessando portões fechados Favelado, preto, pobre e mulheres negras
São negados ao longo da história.
Assim como eu que estou conhecendo agora algumas partes que tentaram apagar da memória do Brasil,
Sei que as novas gerações vão crescer sabendo a importância de mulheres atemporais do nosso país
E certamente terão orgulho de mulheres e homens que contribuíram para o desenvolvimento geológico da nossa árvore
Nossa raiz será compartilhada
Haverá recomeço na educação.
Carolina, quero eternizar meu respeito e tenho a certeza que de muitas outras também
Por você deixar registrado tanto ensinamento através da sua escrevivência.
Quilombos de jovens estão sendo formados
Com orgulho de conhecer sua história e do povo preto
Meus netos vão falar da potente história do mundo
Onde, se não fosse os negros e indígenas não existiria.
Carolina Maria De Jesus foi escritora, compositora e poetisa Brasileira, conhecida por sua obra Quarto de despejo. Em 1960 foi uma das primeiras mulheres negras que contou a realidade da favela no país.
Por JOSELENE NEGRA BLACK
