PROSA – Em Nós-Talgias por Arely Soares

PROSA – Em Nós-Talgias por Arely Soares

Afogar-se em plena luz do dia, antes do espetáculo do sol. É como submergir em águas claras, jogar o peito e não permitir o coração se afogar. Se entregar por inteiro desde a primeira xícara de café onde o vapor que sobe aquece muito além da vista. Embaçados pensamentos que se acendem e vai adormecendo os olhos pelas lágrimas que caem sobre a mesa. No deitar-se das horas que se passam vagarosamente, como se estivessem sonolentas de paixões da vida, parecem dias eternos que repentinamente se revoltam pela mente numa insistência incomum.

Quem sabe dizer por que existem, por que voltam e por que não se vão? É uma visita repentina de memórias que batem a porta. Agora mesmo são três da tarde, e já escutei o toc-toc soando pela porta velha de madeira. E em minha própria defesa sempre fecho bem com cadeados. Mas não tem jeito! Suas pisadas são marcantes, seus olhares me percebem de longe, seus desejos sempre mais aguçados do que a vontade de deixar passar desapercebida. Mar tempestuoso há no peito!

 Essa saudade que arrodeia a alma. Quando a lua anda pelo imenso céu; quando as estrelas brilham na rua e os pássaros param de cantar e dormem, derrama-se em meu ser tantas ebulições de sentimentos como tintas de todas as cores que se misturam e pincela uma parede só. Essa nostalgia é uma saudade que se vestiu de sonho, tantas vezes estou a sonhar acordada, estou a sorrir entre os dias de primavera e a me esquentar no inverno com minhas lágrimas gotejantes.

A saudade é tão minha quanto uma roupa favorita que não se empresta ou não serve mais. Para quê esquecer as lembranças? Se as histórias mais bem vividas são trazidas de volta pela melodia de uma canção. Se o rádio toca, elas tocam no coração a canção eterna do passado. Sempre permanecerão em nós aquilo que nunca poderá ir; sempre irão embora coisas que não podem ficar.

Ah! Esta saudade é um perfume aberto derramado na alma, nos faz lembrar de quem realmente fomos e em quem nos tornamos. Uma essência jamais perdida e eternamente sentida.

Por ARELY SOARES

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