Todos vivemos entre a transitoriedade e a permanência,
no meio daquilo que sempre passa e daquilo que sempre fica.
Mas o nosso tempo não é o tempo dos relógios,
onde os segundos, os minutos, as horas e os dias,
se escoam na liquidez invisível dos números
– O tempo que vivemos se solidifica e se enraíza
no compactar pedregulho das lembranças assentadas.
Tempo é vida, e a vida é movimento,
por isso o tempo se move do passageiro instante
ao permanente internalizado da memória.
O tempo busca nossa memória para se prolongar,
pois sem ela o tempo não existiria, e até o tempo
deseja, como deseja os deuses, ser perene, durável e imortal.
O tempo necessita das coisas que se lembram para durar,
e é neste passado que nos forma quem devora o presente,
transformando os hojes em ontens, no conservar do que nos é breve.
Porém o passado não reside no passado,
ele está no presente de quem vive o presente a partir do ontem,
pelas paredes porosas da memória do pensar, do sentir e do agir.
Sem o passado, que é o hoje tornado ontem,
todo hoje seria apenas um hoje sem sentido e apressado,
mas é do ontem que viemos ao hoje, pressionando seguir ao amanhã.
Todos vivemos entre a transitoriedade e a permanência,
esse fio em que se equilibra a alma no caminhar da vida,
e onde se entrelaça e confabulam o impermanente e indelével,
O que seria do amanhã sem o hoje
e o hoje sem o ontem de que é feita a memória?
Por JOAQUIM CESÁRIO DE MELO