PROSA – Entre a permanência e o transitório por Joaquim Cesário de Melo

PROSA – Entre a permanência e o transitório por Joaquim Cesário de Melo

Todos vivemos entre a transitoriedade e a permanência,

no meio daquilo que sempre passa e daquilo que sempre fica.

Mas o nosso tempo não é o tempo dos relógios,

onde os segundos, os minutos, as horas e os dias,

se escoam na liquidez invisível dos números

 – O tempo que vivemos se solidifica e se enraíza

   no compactar pedregulho das lembranças assentadas.

 

Tempo é vida, e a vida é movimento,

por isso o tempo se move do passageiro instante

ao permanente internalizado da memória.

O tempo busca nossa memória para se prolongar,

pois sem ela o tempo não existiria, e até o tempo

deseja, como deseja os deuses, ser perene, durável e imortal.

 

O tempo necessita das coisas que se lembram para durar,

e é neste passado que nos forma quem devora o presente,

transformando os hojes em ontens, no conservar do que nos é breve.

Porém o passado não reside no passado,

ele está no presente de quem vive o presente a partir do ontem,

pelas paredes porosas da memória do pensar, do sentir e do agir.

 

Sem o passado, que é o hoje tornado ontem,

todo hoje seria apenas um hoje sem sentido e apressado,

mas é do ontem que viemos ao hoje, pressionando seguir ao amanhã.

 

Todos vivemos entre a transitoriedade e a permanência,

esse fio em que se equilibra a alma no caminhar da vida,

e onde se entrelaça e confabulam o impermanente e indelével,

 

O que seria do amanhã sem o hoje

e o hoje sem o ontem de que é feita a memória?

Por JOAQUIM CESÁRIO DE MELO

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