PROSA – Eu nunca morri por Joaquim Cesário

PROSA – Eu nunca morri por Joaquim Cesário

A morte tem um sabor doce que não conheço, nenhuma vez da sua boca ainda beijei.

Dela apenas sei os seus cheiros, respirados nos velórios que frequentei, odores de rosas arrancadas dos galhos, como espíritos órfãos de terra e de corpo. A morte é o tempo retirado da vida, e uma vida sem datas e tempo é uma morte não mais vindoura.

Nunca mais haverá horários.

Nunca mais acontecerá adiamentos.

Nunca mais se terá saudades.

Nunca mais existirá medos, pois a vida nunca mais me será perigo.

(Talvez morrer seja abandonar o sempre transitório, para se ocultar no nunca e no nada, continuamente).

Há quem diga que a morte tarda, mas a morte não é lenta nem se atrasa, ela apenas nos chega ligeira como se fosse o último minuto de uma madrugada logo abreviada.

Quando a morte me bater à porta, na mais certa das horas incertas, o tempo irá de mim embora, e eu jamais saberei quando foi o exato segundo da última hora.

Por JOAQUIM CESÁRIO

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