A ironia de um palhaço triste é a representação perfeita de um ser que obrigou seu corpo a assumir as vestes que dele se esperavam mas não conseguiu impor o mesmo dever à alma.
Um ser que por inerência de suas funções fez-se presente com as cores correspondentes à ocasião mas a alma em completa desassociação. Um palhaço triste, é um ser tentando fazer o mundo sorrir, o mesmo mundo que provavelmente acabará de o ferir. Ele compreende, que a vida segue, o espetáculo deve continuar, não é “pago” para ter sentimentos. Espera-se dele apenas profissionalismo, entrega e total submissão ao desejo de entretenimento de quem lhe faz o favor de emprestar a sua atenção para por míseros segundos dar razão de existência às cenas que levaram anos a construir. Um palhaço triste, é um ser cuja alma emite gritos de socorro que ecoam contra sua vontade e contrariam sua boa educação de não querer incomodar.
É um ser em constante e eterno desassossego. Aquele a quem ninguém repara e todo mundo chuta. Aquele de quem o mundo espera que engula sua dor, pinte seu rosto, desumanize sua aparência e maqueie seus sentimentos. Ele só existe se estiver a dançar, e a dança só é agradável se a música for de quem aplaude. Não tem direito à querer chorar, não tem direito à ser.
A tristeza que transcende o disfarce é o único protesto que alguma vez será capaz de exercer.
Por POETA SEM CURA