PROSA POÉTICA – A Prosa Poética Edição Novembro e Dezembro 2024

PROSA POÉTICA – A Prosa Poética Edição Novembro e Dezembro 2024

Escrever prosa poética é um desafio intrínseco para prosadores e poetas, uma arte que concilia o lirismo do verso com a narrativa da prosa. Clarice Lispector, um ícone da literatura brasileira, exemplificou essa fusão de maneira magistral. Sua escrita, quase cirúrgica na precisão e repleta de nuances poéticas, capturou a essência da condição feminina com uma profundidade admirável. Ser mulher, como ela mesma nos revela, é um ato de coragem; reconhecer-se como tal é ainda mais raro e poderoso.

Para criar uma prosa poética, é fundamental que o autor compreenda os elementos essenciais da poesia. Somente então, ele poderá escrever uma prosa que se equilibre entre a narrativa e o ritmo poético. Embora a rima não seja obrigatória, a musicalidade do texto é um aspecto crucial, tornando-o mais cativante e emocionalmente ressonante. Figuras de linguagem como assonância e aliteração são ferramentas valiosas para conferir esse efeito sonoro e melódico.

Para aqueles que preferem um estilo mais direto e menos ritmado, há uma vasta gama de figuras de linguagem à disposição: analogia, antítese, comparação, eufemismo, gradação, hipérbole, ironia, metáfora, metonímia, personificação e sinestesia. Cada uma dessas ferramentas pode infundir um toque poético na prosa, enriquecendo-a e tornando-a mais evocativa. A língua portuguesa, com sua rica paleta de recursos estilísticos, oferece ao escritor uma infinidade de possibilidades para explorar.

A arte de escrever, seja em prosa ou verso, dá sentido à existência e enriquece a experiência humana. Aqueles que se dedicam a essa prática, que florescem na beleza da língua, descobrem que a escrita não apenas é um meio de expressão, mas também uma forma de viver plenamente. Assim, a prosa poética se torna uma celebração da vida e da linguagem, uma dança harmoniosa entre o contar e o cantar.

 

QUANDO CHORAR

Clarice Lispector

Há um tipo de choro bom e há outro ruim. O ruim é aquele em que as lágrimas correm sem parar e, no entanto, não dão alívio. Só esgotam e exaurem. Uma amiga perguntou-me, então, se não seria esse choro como o de uma criança com a angústia da fome. Era. Quando se está perto desse tipo de choro, é melhor procurar conter-se: não vai adiantar. É melhor tentar fazer-se de forte, e enfrentar. É difícil, mas ainda menos do que ir-se tornando exangue a ponto de empalidecer.

Mas nem sempre é necessário tornar-se forte. Temos que respeitar a nossa fraqueza. Então, são lágrimas suaves, de uma tristeza legítima à qual temos direito. Elas correm devagar e quando passam pelos lábios sente-se aquele gosto salgado, límpido, produto de nossa dor mais profunda.

Homem chorar comove. Ele, o lutador, reconheceu sua luta às vezes inútil. Respeito muito o homem que chora. Eu já vi homem chorar.

Por JEANE TERTULIANO

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Pular para o conteúdo