Assombrada pelo tempo, deito e me programo para não despertar. De olhos fechados, ouço o som do que passa sem se mover e me atropela na escuridão. Já passou da meia noite e metade da vida é tempo demais para quem não consegue descansar.
Os ponteiros do relógio se agitam e eu continuo inerte, somente o som nos é comum, o “tic-tac” dentro da máquina que nos (re)move na vida é constante e me sinto uma junção de engrenagens, nada mais. Já não funciono tão bem quanto antes, talvez eu seja, apenas, uma ampulheta esquecida, atormentada pela passagem e obsolescência ‘do tempo’, deitada no escuro, sem passado, sem futuro, apenas eu, o limbo e mais nada … Me sinto presa e o sabor das ferragens me sobe, como fogo, pela garganta e amarga o paladar; sou, agora, matéria prima, fragmento de um parentesco distante que só se usa em ocasiões, pontualmente, tristes e carrego o luto, da infância nos olhos à escuridão do tempo que corre e me atropela sem passar.
“Tic-tac”, hora de ir, todos já foram, só resta eu (…) “Tic-tic-tic…”, falta um pedaço de mim e metade da vida é tempo demais para quem não consegue descansar.
Por JÉSSICA SABRINA