PROSA POÉTICA – Cartas para Ninguém por Natália Tamara

PROSA POÉTICA – Cartas para Ninguém por Natália Tamara

 Abriu a porta lentamente, dirigiu-se para o quarto, tomou em suas mãos seu livro favorito, leu algumas páginas, escondeu o rosto entre as mãos e derreteu-se em lagrimas. Recordou cada beijo nostálgico e permitiu-se um breve sorriso abrasivo e fervido. Com a alma e o corpo trêmulo vestiu-se plangentemente com sua túnica imprópria de Fantasma da Ópera, e jurou a si mesmo não voltar a amar. Que estupidez! Como não amar? Se seu espírito és devoto desse sentimento avassalador.

 – Não quero mais que meu coração seja guiado, encorajado, ou estimulado por uma paixão, ele sozinho já se inflama bastante; pois não há nada mais volúvel e inconstante que este órgão tão pulsante e quisás sofredor. Porém, afirmo melodramaticamente que não posso me ausentar deste mar imensurável, deste bravio sentimento, tão verdadeiro, tão audaz e misterioso.

 Olhou por instantes no espelho das lembranças, e pode ver-se refletido numa imagem contraditória, perdeu o equilíbrio, perdeu a sensatez, perdeu as forças e pôs-se em lágrimas novamente… Esse amor, essa paixão não é, portanto, nenhuma invenção poética, vai além do entendimento pessoal, questiona todas as leis do sociável, quebra regras, acusando e condenando os princípios que existe no outrem e em te. Tomou de posse o mesmo livro, resignou-se aos sentimentos, lamentou a ausência dela, cativou presenças novas, emoções novas, mas, guarda consigo a lembrança calorosa daquele velho novo amor. Fechou a porta do quarto, degustou a antiga safra de um Cabernet Sauvignon, em dó maior ouviu “March With Me” sussurrou algumas palavras na inútil tentativa de alcançar a tenor Montserrat Caballé, mais uma teça de vinho, não ouviu a marcha, não teve uma voz dizendo, vamos tentar outra vez, então deitou-se na cama e clamou por dormir, apenas dormir e sonhar!

 Foi tudo que pude lhe escrever hoje meu nobre amigo, nada mais tenho a dizer, além de um até breve.

Por NATÁLIA TAMARA

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