Sempre tive problemas com homens, e acreditem, desde criança sempre fui muito intensa e me atraía por homem de personalidade forte. Eu sempre via algo que ninguém via, muitas vezes no primeiro contato visual eles identificavam algo em mim. Uns enxergavam fraqueza, outros notavam solidão.
A observação deles era inevitável, mas eles não se intimidavam com a minha presença e não demorava muito para que me procurassem, seja para reclamar da vida ou até mesmo para conversar coisas corriqueiras do dia a dia. Eu, com muito carinho e destemida, não me intimidava com absolutamente nada.
Uns queriam a minha companhia para fazer perguntas íntimas porque só assim eles saberiam que poderiam confiar em mim. Outros me tratavam bem quando estávamos sós, seja na rua, na porta de suas casas ou pátio da escola e sempre observando para garantir que ninguém estivesse olhando. Com toda paciência eu realmente tinha um sorriso no canto da bochecha. Quanto mais eles me conheciam, mais eles se abriam para mim.
Cada gesto eu dava uma cura, cada cura os aliviava. Eu me sentia tão incrível de ser procurada todos os dias. Cada mocinho que passou pela minha vida eu me apaixonei profundamente, mas sabia no meu íntimo que estava participando de um processo de cura, sim…
Uns não tinham mãe, outros não tinham pai, alguns tentavam se encaixar na família e até mesmo apanhavam dos pais. Uma pena descobrir isso ao longo da jornada porque eu também tinha minhas questões de solidão. Não demorava muito para eles se atraírem por uma menina cis, afinal, era o “normal”.
Eu que estava ali participando em todos os momentos de angústias e sofrimentos, não poderia ocupar aqueles espaços em seus corações. E simplesmente, em questão de minutos, eu já não era mais importante para eles. Percebi que eles já estavam prontos para seguir a sua jornada de vida, curados e firmes.
É com muita sinceridade que venho relatar: eles vieram para eu curar!
Por PAULA SOUZA
