PROSA POÉTICA – Se o tédio falasse por Mari Ventura

PROSA POÉTICA – Se o tédio falasse por Mari Ventura

 Enquanto me tratares como inimigo ou me associar a enfermidade, se sentirá num purgatório de alma viva. Enquanto não me aceitar, terás soluços e nós na garganta. Enquanto não me compreender como um pássaro e perceber que venho e volto, não se libertará, as vezes os voos são longos e você pode até pensar que não existo, mas sempre voltarei. Se permita sentir, experimente passar um minuto sem se distrair. Tente ao menos 10 minutos, pois mesmo que você queira me invalidar, estarei ali. Se o tédio falasse ele diria: não sou o contrário de alegria, sou tão insuficiente quanto. A felicidade não me elimina, nela estou contido. Experimente passar horas pulando, rindo, tomando goles de endorfina, logo estarei com você.

 Sou parte da condição humana, sou parte da insuficiência do ser. Se o tédio falasse ele diria: mesmo que tente me eliminar com guloseimas, voltarei na última mordida, no último pedaço da casquinha de sorvete. Não sou sinônimo de tristeza, sou o intervalo que existe entre a coragem e o medo, sou aquilo que fica entre a chegada e a partida entre uma viagem e outra. Sou o pós-orgasmo dos amantes. Sou a ressaca da sensatez Sou o tempo entre um dose e outra Sou um espaço entre loucura e lucidez Sou o final de festa Sou a euforia entre o noivado e o casamento Entre o um sorriso e outro estará a melancolia. O tédio estará ali, onde nascem os poemas.

 Por MARI VENTURA

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