É com grande prazer que apresentamos a está nova edição, trazemos algo especial para os nossos leitores. Nessa edição, trazemos um pouco da rica cultura, tradições do nosso belo país Moçambique, além de entrevista exclusiva com um artista local que está fazendo a diferença em nossa comunidade, vamos também trazer os nossos poemas traduzidos para o dialeto Changana.
O dialeto Changana é uma língua banta falada em Moçambique, especialmente na região sul do país, incluindo a província de Gaza. É um dos dialetos mais falados em Moçambique e é particularmente comum na região de Maputo, a capital do país. A língua Changana tem uma influência significativa na vida cotidiana e na cultura da região, sendo utilizada em interações diárias e em expressões artísticas, como música e poesia.
Os poemas serão traduzidos pela Filomena Sandra Nhancale.
Estamos ansiosos para compartilhar essas obras únicas e emocionantes com você e esperamos que você se sinta inspirado e envolvido em cada página, desde já “Obrigado” ou seja “Kanimambo“, no dialeto Changana.
Marrabenta
(Artigo elaborado por: Dany Amado)
Marrabenta é uma Dança e de Moçambique e, em particular na zona sul(Maputo), que surgiu no início da 2.ª metade do século XX, na época áurea colonial de Lourenço Marques (atual Maputo). Conhecida internacionalmente, a marrabenta teve origem nos meios urbanos.
A sua origem
Dada a falta de aprendizagem académica dos moçambicanos, este género surgiu de uma fusão da música europeia com os ritmos tradicionais de Moçambique. Normalmente, era tocada por um cantor masculino, acompanhado por um coro de mulheres, e tocada com instrumentos feitos de materiais improvisados, como latas de óleo, fios de pesca e pedaços de madeira.
A palavra marrabenta vem do verbo “rebentar” (“arrebentar”, em vernáculo local), numa provável referência às guitarras baratas cujas cordas rebentavam com facilidade. As letras das canções, frequentemente em dialetos locais, cantavam o amor, a vida quotidiana, a história de Moçambique e faziam também críticas sociais inerentes ao desejo de liberdade do povo moçambicano. Por esta razão, os Portugueses consideravam a marrabenta subversiva e difusora de ideais revolucionários, ordenando, muitas vezes, o encerramento de locais onde esse tipo de música era produzida.
Entretenimento
Apesar de tudo, a marrabenta animava a capital moçambicana e atraía pessoas até aí devido ao seu ritmo vivo e intenso e às suas melodias arrebatadoras. Para além desse ritmo, refira-se ainda a forma extremamente sensual da dança à qual a marrabenta está também associada. A dança marrabenta, onde participam homens e mulheres, consiste em produzir deslizamentos com os pés, no sentido lateral, e em criar fortes movimentos do corpo, no sentido ântero-posterior. É um regra, dançar a Marrabenta trajado de qualquer peça de Capulana.
Pioneiros da Marrabenta
Imagem da dança marrabenta
Nos anos 70, a marrabenta conheceu uma enorme projeção quando a Produções 1001 começou a realizar as primeiras gravações e a organizar vários concertos. A consolidação deste género musical ficou a dever-se aos músicos pioneiros Francisco Mahecuane e Dilon Djindji e a sua difusão internacional, à Orchestra Marrabenta Star, liderada por Wazimbo. Ainda dessa geração de músicos destaca-se Fany Pfumo, Alexandre Langa, Lisboa Matavele e Abílio Mandlaze.
Atualmente, este género tem influenciado músicos da nova geração, e os artistas que ainda mantêm essa dança viva são: Elvira Viegas, Stewart Sukuma, Mingas, Neyma Alfredo,Chico António, José Mucavel e o grupo Mabulu. Com o passar do tempo, a marrabenta tornou-se um símbolo cultural nacional e uma referência da identidade Moçambicano.
Imagem da dança marrabenta
A Capulana
(Artigo elaborado por: Chabir Tadeu)
A capulana é um tipo de tecido colorido e tradicionalmente usado em muitas partes de África, especialmente em Moçambique. Este tecido é conhecido por sua variedade de cores vibrantes e padrões elaborados, e desempenha um papel significativo na cultura e na moda destas regiões.
Uso Tradicional
Na cultura africana, a capulana é frequentemente utilizada como vestuário, tanto por homens quanto por mulheres. Ela pode ser usada como uma saia, envoltório de cabeça, vestido, ou até mesmo como uma manta. Além disso, a capulana é muitas vezes oferecida como presente em ocasiões especiais e é um símbolo de respeito e apreço. A capulana é também uma das peças, se não a principal nos vestes em danças tradicionais, especialmente a dança Marrabenta.
Significado Cultural
A capulana tem significados simbólicos profundos na cultura africana e especialmente moçambicana. Os padrões e cores específicos podem transmitir mensagens sobre estado civil, identidade étnica, eventos rituais, ou até mesmo expressar crenças espirituais. Cada padrão e cor pode ter um significado específico em diferentes comunidades.
Produção e Comércio
A produção da capulana envolve habilidades artesanais tradicionais, como tingimento, estampagem e tecelagem. Este processo muitas vezes é realizado por artesãos locais, e a capulana é frequentemente vendida em mercados locais e até mesmo exportada para outros países.
Modernidade
Além de seu significado tradicional, a capulana também influenciou a moda contemporânea, tanto localmente quanto internacionalmente. Designers de moda têm incorporado padrões de capulana em suas criações, trazendo visibilidade a esta forma de arte e cultura.
Peças de capulana e seus derivados
Imagem de peças de capulana
Escultura em Moçambique
A escultura em Moçambique é uma forma de expressão artística que tem sido utilizada para transmitir mensagens políticas, preservar a memória do passado colonial e promover a identidade artística individual. Durante um período de exposições coletivas, jovens artistas e aspirantes a artistas utilizavam a pintura e a escultura para abordar o passado colonial e as palavras de ordem da Revolução. Além disso, a expressão da voz individual também é evidente, como demonstrado pelo trabalho de várias artistas incluindo o entrevistado de hoje.
A escultura em Moçambique também tem sido utilizada como uma forma de promover a cultura de paz e resistência política, especialmente no contexto pós-guerra. Um exemplo disso é a escultura intitulada “Tree of Life”, que tem como objetivo promover uma cultura de paz face ao contexto pós-guerra em Moçambique, utilizando fragmentos de armas desativadas para criar pequenos animais e plantas, simbolizando uma forma de catarse e resistência política.
Imagem de expressão artística
Além disso, a escultura em Moçambique também está associada à preservação da memória e da história do povo moçambicano. Escultores em Moçambique retratam o dia-a-dia e a história do povo moçambicano em suas obras de arte em madeira, mesmo sem o apoio do governo e sem oportunidades para expor suas obras de arte. Os escultores procuram formas de expressão artística que reflete a história, a identidade e as lutas do povo moçambicano, abordando questões políticas, sociais e culturais.
Imagem 1: “Tree of life” Criada por quatro artistas, Kester , Hilario Nhatugueja, Fiel dos Santos e Adelino Serafim.
Imagem 2,3: Artes Makondes.
Por DANY AMADO E CHABIR TADEU