1. A cultura no contexto da convergência digital
O conceito de cultura no âmbito das ciências sociais é amplo. Incorpora ideias, artefatos, costumes, leis, crenças morais e ciência produzidos e partilhados através da convivência social que resulta da criação humana. A partir do século XX o debate entre a antropologia social e a sociologia faz o conceito passar por reduções o obscurantismos, mas ao longo deste processo dialogado e crítico ele se firma como um conceito chave e interdisciplinar para pensar a ciência, a arte e tecnologia. Possui um caráter transversal e perpassa diferentes campos semânticos. Autores como Geertz e Shalins afirmam o papel fundamental que a cultura desempenha na vida social, defendendo de que este conceito deva ser investigado em profundidade no âmbito das ciências sociais para esclarecer seu lugar central nas relações entre indivíduos e grupos. Bauman entende o conceito de cultura como hierárquico, ontológico e epistemológico no entendimento das estruturas socias e comporta diferentes usos na contemporaneidade. O conceito de cultura traz em si o germe dos interesses interdisciplinares em áreas como sociologia, antropologia, história, comunicação, administração, economia, entre outras. Não nos interessa, neste contexto, fazer um mapeamento da evolução do conceito de cultura nos vários campos do conhecimento, mas apontar a abertura no meu discurso para usar múltiplas clivagens para pensar a cultura digital no contexto da convergência tecnológica. O autor francês Denys Cuche, na obra “A Noção de Cultura nas Ciências Sociais traz como exemplo os usos de expressões tais como “cultura das artes”, “cultura das letras” e “cultura das ciências” que mostra que cultura faz parte dos processos civilizatórios. Aqui utilizaremos três possíveis clivagens: cultura como modos de vida, como produção da arte e da atividade intelectual e como fator de desenvolvimento humano. Atualmente o debate se situa na necessidade do alargamento do conceito de cultura, trazendo como corolário que cultura é invenção coletiva de símbolos, valores, ideias e comportamentos, ou seja, os indivíduos e grupos são seres e sujeitos culturais.
A concepção de cultura como modos de vida é uma abordagem antropológica que destaca a compreensão da cultura como um conjunto integrado de práticas, crenças, valores, normas e símbolos compartilhados por um grupo social específico. Essa perspectiva enfatiza que a cultura não é apenas um conjunto de artefatos ou ideias isoladas, mas sim um modo mais amplo e integrado de existência para um grupo de pessoas. Nesse viés, a cultura é vista como algo que permeia todos os aspectos da vida de uma comunidade, moldando suas instituições sociais, sistemas econômicos, relações familiares, rituais, linguagem e até mesmo a percepção do ambiente natural. Ela não é apenas algo tangível, como objetos materiais ou obras de arte, mas está profundamente enraizada nos comportamentos cotidianos e nas interações sociais. Essa abordagem destaca a interconexão entre diferentes elementos culturais e como eles se entrelaçam para formar um sistema complexo. Além disso, reconhece que a cultura está em constante mudança e evolução, adaptando-se às novas circunstâncias e influências externas ao longo do tempo. Ao entender a cultura como modos de vida, os antropólogos e estudiosos procuram explorar os padrões subjacentes que estruturam a vida social de um grupo e como esses padrões são transmitidos de geração em geração. Essa abordagem proporciona uma compreensão mais dinâmica da cultura, permitindo analisar como as pessoas vivem e dão significado às suas experiências dentro de um contexto cultural mais amplo.
A concepção de cultura como produção da arte e de atividade intelectual destaca a importância das expressões artísticas, criativas e intelectuais na formação e transmissão cultural. Essa perspectiva reconhece que a produção artística e intelectual desempenha um papel fundamental na construção e representação das identidades culturais. A cultura é vista como um conjunto de realizações humanas que incluem obras de arte, literatura, música, filosofia, ciência e outras formas de expressão intelectual. Essas produções não são apenas reflexos da cultura, mas também contribuem para moldar e influenciar a forma como as pessoas pensam, percebem o mundo ao seu redor e se relacionam entre si. A arte e a atividade intelectual são consideradas formas de conhecimento e reflexão que transcendem as necessidades práticas do cotidiano. Elas proporcionam meios de expressar emoções, explorar questões filosóficas, transmitir valores culturais e desafiar as normas estabelecidas. Dessa forma, a cultura é enriquecida por meio da criação artística e intelectual, que oferece novas perspectivas e maneiras de interpretar a realidade. Reconhece que os artistas e intelectuais desempenham papéis importantes como agentes culturais, influenciando o pensamento e a sensibilidade de suas sociedades. Suas criações podem provocar mudanças sociais, questionar valores estabelecidos e inspirar novas formas de compreender o mundo. Importante salientar que esse processo de produção cultural não exclui outros aspectos da cultura, como práticas cotidianas, rituais, tradições e sistemas sociais. Ela destaca a interação dinâmica entre a produção artística e intelectual e outros elementos culturais, reconhecendo a complexidade e a diversidade do fenômeno cultural.
A concepção da cultura como um fator de desenvolvimento social ressalta os diversos papéis que ela pode assumir. Sob esta ótica, as atividades culturais são realizadas com intuitos socio-educativos diversos: para estimular atitudes críticas e o desejo de atuar politicamente; no apoio ao desenvolvimento cognitivo de portadores de necessidades especiais ou em atividades terapeutas para pessoas com problemas de saúde; como ferramenta do sistema educacional a fim de incitar o interesse dos alunos; no auxílio ao enfrentamento de problemas sociais, como os altos índices de violência, a depredação urbana, a ressocialização de presos ou de jovens infratores. Embora muitos pesquisadores e artistas critiquem esta visão como sendo utilitária, pois acreditam no valor da arte em si mesma, é fato que a cultura pode e deve exercer um papel na formação política e social dos indivíduos.
2. As Mefamorfoses das Culturas no Contexto da Convergência Digital
- – A concepção de ciberespaço e cibercultura
A evolução tecnológica nas últimas quatro décadas trouxe em si elementos que provocaram mudanças radicais na forma como utilizamos a cultura como modos de vida, como produção da arte e da atividade intelectual, como um fator de desenvolvimento social. Emerge o conceito de ciberespaço como um espaço virtual ou ambiente digital onde a comunicação, a informação, as transações e as interações ocorrem por meio de redes de computadores. O termo foi popularizado por William Gibson em seu romance de ficção científica “Neuromancer”, publicado em 1984. Desde então, o termo evoluiu para descrever o domínio virtual criado pela interconexão global de sistemas de computadores e redes. O filósofo francês Pierre Lévy contribuiu significativamente para a compreensão do que pode significar ciberespaço e cibercultura. Para o autor o ciberespaço é o horizonte comunicativo que surge da interconexão mundial dos computadores e de suas memórias e diz respeito à infraestrutura material da comunicação digital, bem como ao universo de informações que abriga e aos indivíduos que navegam interativamente por esse universo. É o espaço móvel das interações entre conhecimentos e conhecedores de coletivos inteligentes desterritorializados. Seus trabalhos mais importantes sobre o tema são os livros “As Tecnologias da Inteligência: O Futuro do Pensamento na Era da Informática”, e Cibercultura publicados na década na última década do século XX. Neles, Lévy desenvolve conceitos-chave relacionados à cibercultura, cujos pontos centrais são resumidos: cibercultura como cultura da inteligência coletiva. Destaca a ideia de que a cibercultura não é apenas sobre tecnologias digitais, mas sobre a transformação da cultura em direção a uma inteligência coletiva. Ele sugere que as tecnologias da informação podem ser meios para ampliar e potencializar a inteligência humana, permitindo a criação de conhecimento de forma colaborativa; Cibercultura como interação de pessoas com máquinas cognitivas. Argumenta que a cibercultura é caracterizada pela interação intensiva entre seres humanos e máquinas cognitivas. Ele examina como as tecnologias de comunicação e informação alteram a forma como pensamos e como nos relacionamos com o conhecimento; o conceito de inteligência coletiva. Destaca a noção de inteligência coletiva como um fenômeno que emerge da interconexão de mentes individuais por meio de redes de comunicação. Explora a virtualidade como um espaço no qual a inteligência coletiva pode prosperar, transcendendo as limitações do espaço físico e superação de barreiras geográficas e culturais; descentralização e democratização do conhecimento. A cibercultura descentraliza o acesso ao conhecimento e a capacidade de produzi-lo. Ele vê nas tecnologias digitais a oportunidade de uma democratização do saber, permitindo que uma gama mais ampla de pessoas participe na construção e disseminação do conhecimento.
A cibercultura se caracteriza por transformações culturais e sociais resultantes da interação humana com as tecnologias digitais. Ela gera perturbações civilizatórias que, refletidas na relação com o saber, demanda uma reformulação da forma como concebemos os fundamentos da aprendizagem, centro de qualquer projeto de nação. Gradativo e célere o acesso à internet e as funções computacionais que conectam pessoas entre si, em tempo real e sem fronteiras geográficas o fenômeno da cibercultura se globalizou. Das muitas constatações possíveis a esse respeito, destacam-se a preeminência do digital sobre o analógico, o boom das redes sociais, o fluxo/trânsito contínuo e célere das informações e as vias interativas que não só conectam pessoas entre si, mas também pessoas e objetos (IoT – Internet of Things). O ciberespaço não é apenas uma infraestrutura técnica, mas também um contexto cultural. A cultura digital e a cibercultura emergiram, influenciando a forma como as pessoas se relacionam, consomem informações, colaboram e expressam sua criatividade online.
Assumindo cada vez mais o espaço digital, a experiência humana no mundo da (ciber)cultura assume contornos fluidos, voláteis, de territoriais e interativos, já que a quantidade de interconexões possíveis que os seres humanos e as maquinas (coisas) podem estabelecer entre si hiperdimensionam os próprios limites da cultura que conhecemos, especialmente pelo fato de que, diante do intenso fluxo de compartilhamentos de dados e interações comunicativas, a própria concepção de cibercultura se entende melhor com um olhar no presente e outro no futuro, porque não dizer de um modo escatológico.
A emergência de novos estilos de experiência do pensamento, como por exemplo, as memórias dinâmicas objetivadas pelos documentos digitais e programas disponíveis em rede, aumentam o potencial da inteligência coletiva, dando origem e densidade ao movimento da cibercultura. A partir dos anos 80 as tecnologias digitais redesenharam novos contornos nos movimentos socioculturais, perdendo o significado de técnica, fundindo-se com produtos culturais como o cinema, a música, a televisão. Engenheiros, matemáticos, linguistas, textos, máquinas, programas, softwares, hardware, imagens digitalizadas, compõem novas realidades, redimensionando as formas e as qualidades da informação com implicações culturais multifacetadas. O ciberespaço contém à distância o telefone, o correio, a imprensa, a edição de livros, de música, de vídeos, de jogos interativos, o rádio, a televisão. Estas “antigas” mídias são utilizadas de formas variadas. Não mais pelo princípio do horário rígido, mas pela exploração de possibilidades de interatividade. Não mais pelo controle de intermediários institucionais já que aglutina produção de amadores, jornalistas alternativos, atores políticos e sociais diversos. Hoje se pode publicar um texto fora dos esquemas editoras e/ou jornalísticos. Este espaço, não se reduz à interconexão de informações, mas redesenha uma consolidação de metarrelatos (religiosos, filosóficos e políticos) com dimensões tecnológicas, socioculturais, políticas e econômicas acenando para a revisão de conceitos e esquemas teóricos para análise de fatos e processos. O imbricamento das formas de existir permite dizer que o campo está sendo contaminado pelo urbano com todas as suas nuances. O território não mais se define por pertencimentos. As identidades organizam-se em torno de imagens dinâmicas, tomando uma dimensão nômade, lacunar no que se refere as singularidades. A hipermídia interativa, o hipertexto, o videogame, a telepresença, são dispositivos que permitem considerar o ciberespaço como uma via aberta para fazer emergir maneiras de pensar, trabalhar, sentir, perceber. É necessário reconhecer suas ambiguidades e limitações para possibilitar a exploração de suas possíveis possibilidades ricas, sutis. Sua inserção conflituosa nos universos culturais não isola a exploração do seu potencial no processo de (re)construção dos atores. Uma nova ecologia cognitiva (contexto concreto de produção cultural). Os nós da rede ainda estão sendo formados abrindo inúmeras possibilidades de (des)construção.
- – A convergência digital
O conceito de convergência digital refere-se à integração e interação entre diferentes tecnologias, dispositivos e serviços que anteriormente operavam de forma independente. Alguns aspectos chave do fenômeno podem ser assim sintetizados: a fusão de diferentes tecnologias, como computação, telecomunicações, transmissão de dados, mídia e entretenimento; acesso ubíquo que possibilita o acesso a informações e serviços em qualquer lugar, a qualquer momento e através de diversos dispositivos; impacto significativo na indústria de mídia em áudio, vídeo, texto e imagens que podem ser facilmente distribuídos em uma variedade de plataformas digitais; serviços multifuncionais através de dispositivos digitais modernos a exemplo dos smartphones que não são não apenas telefones, mas também câmeras, reprodutores de música, navegadores da web, etc. Da mesma forma, televisores inteligentes podem acessar a internet e executar aplicativos; redes sociais, plataformas de colaboração e ferramentas de comunicação online são exemplos de como a tecnologia digital tem integrado as interações sociais; facilita, pela computação em nuvem, o armazenamento e o acesso a dados e aplicativos de forma flexível e escalável.
- O conceito de cultura na convergência digital
Esse processo refere-se à interseção entre a cultura contemporânea e as tecnologias digitais em constante evolução. A convergência digital representa a fusão de diferentes formas de mídia, como texto, áudio, vídeo e imagens, em plataformas digitais comuns. Esse fenômeno tem impactado profundamente a maneira como as pessoas consomem, produzem e compartilham informações, arte, entretenimento e experiências culturais. Tem provocado mudanças na forma como as pessoas criam, consomem e interagem com a cultura em um ambiente digitalmente interconectado. Essa interseção entre cultura e tecnologia molda a sociedade contemporânea, influenciando normas, valores e experiências culturais.
A denominada cultura na convergência digital abrange uma variedade de aspectos, incluindo: maior acesso à informação: facilitando o acesso instantâneo e generalizado à informação. As pessoas podem explorar uma vasta gama de conteúdos culturais, desde notícias e literatura até música e filmes, com apenas alguns cliques; Produção participativa que permitem que os usuários não apenas consumam, mas também produzam conteúdo. Isso resulta em uma cultura mais participativa, onde as pessoas contribuem ativamente para a criação e disseminação de conteúdo; mudanças nas formas de narrativas, permitindo experiências mais interativas e imersivas. Narrativas transmídia, por exemplo, podem se desdobrar através de diferentes plataformas, como redes sociais, blogs, vídeos online e jogos; globalização cultural em função da digitalização e a conectividade que facilitam a disseminação de culturas em escala global. As pessoas podem se envolver com manifestações culturais de diferentes partes do mundo, promovendo uma compreensão mais ampla e interconectada; economia da atenção gerada pela competição por atenção online que influencia as formas como a cultura é apresentada e consumida. Conteúdos são frequentemente projetados para atrair e manter a atenção do público em meio a uma abundância de opções; desafios éticos e legais relacionados à propriedade intelectual, privacidade, segurança e desinformação bem como os desafios em relação à diversidade, inclusão e representação; Transformação das indústrias criativas de setores como música, cinema, televisão, publicação e arte têm passado por transformações significativas devido à convergência digital.
Assim, o conceito de cultura digital reflete estas transformações profundas nas práticas culturais e sociais à medida que a tecnologia digital se torna uma parte integrante da vida cotidiana. Ela também traz questões sobre ética, privacidade, segurança cibernética e igualdade de acesso à tecnologia, destacando a importância de uma abordagem crítica e responsável em relação às inovações digitais. E na última década deste século aglutina transformações com o avanço do uso da Inteligência Artificial – IA na produção cultural.Parte superior do formulárioParte inferior do formulário.
3. A Inteligência Artificial Modifica a Apropriação Cultural?
A relação entre inteligência artificial (IA) e a apropriação cultural é um tema complexo e em constante evolução. A apropriação cultural refere-se à adoção, muitas vezes descontextualizada, de elementos de uma cultura por outra. Quando se trata de inteligência artificial, a tecnologia pode ter implicações na forma como as culturas interagem, mas as questões éticas em torno da apropriação cultural geralmente são mais diretamente associadas a ações humanas. A inteligência artificial pode influenciar ou modificar a apropriação cultural em vários aspectos. O primeiro deles é o processamento de linguagem natural (PNL) que ao ser projetado para compreender e gerar linguagem pode levar a desafios relacionados à interpretação cultural, especialmente quando esses sistemas são treinados predominantemente em dados de uma única cultura, o que pode resultar em falta de sensibilidade a nuances culturais. Outro aspecto a ser considerado são os vieses de dados e algoritmos de IA que são tão bons quanto os dados com os quais são treinados. Se esses dados incorporam viés cultural, a IA pode perpetuar estereótipos e padrões culturais prejudiciais. Isso pode contribuir indiretamente para a apropriação cultural se não houver cuidado na seleção e no treinamento de dados. Outro questão a ser considerada é a criação cultural por IA que têm como objetivo criar música, arte ou outros tipos de conteúdo cultural. A questão da apropriação cultural pode surgir se a IA gera obras que imitam ou incorporam elementos de uma cultura sem compreensão ou respeito adequado. Por fim o uso da robótica na produção cultural onde a IA pode influenciar a forma como as pessoas percebem a representação cultural nas interações robóticas que pode levar a interpretações errôneas e, potencialmente, à apropriação cultural inadvertida.
4. Considerações Finais
A inteligência artificial (IA) tem desempenhado um papel significativo na produção cultural, impactando várias áreas, como música, cinema, literatura, arte e entretenimento. Aqui estão algumas maneiras pelas quais a inteligência artificial tem influenciado a produção cultural: Composição Musical; algoritmos de IA são capazes de analisar padrões musicais e criar composições originais. Músicos e compositores estão explorando o potencial da IA para auxiliar na criação de músicas, gerando novas melodias e harmonias; Roteiro e produção cinematográfica: a IA é usada na análise de scripts e na previsão de sucesso de filmes. Além disso, existem experimentos de roteiros gerados por IA e até mesmo assistentes virtuais que auxiliam na produção cinematográfica; Arte generativa: artistas estão utilizando algoritmos de IA para criar arte generativa, onde as máquinas contribuem ativamente para o processo criativo. Isso pode envolver a geração de imagens, padrões e até mesmo esculturas; edição de vídeo e animação: algoritmos de IA são aplicados na edição de vídeo, facilitando tarefas como corte, montagem e até mesmo a geração automática de efeitos visuais. Além disso, há ferramentas que utilizam IA para criar animações de forma mais eficiente. Muitos outros exemplos podem ser também considerados como a criação literária e a personalização de conteúdo. Assim , não é mais possível pensar a produção cultural contemporânea sem discutir e considerar as meios digitais. Eles tem influenciado as tradicionais atividades culturais, como literatura, artes visuais, teatro, música, dança, audiovisual, arquitetura e artesanato.
Atualmente, as indústrias criativas também abarcam outros setores como moda, designer, marketing e propaganda, decoração, esportes, turismo, aparelhos eletrônicos, tecnologia, telefonia, internet, brinquedos e jogos eletrônicos. Na relação entre cultura e mercado, acontecem dois processos distintos: a mercantilização da cultura, quando as atividades culturais passam a ser concebidas visando à distribuição em massa e, consequentemente, a geração de lucro comercial; e a culturalização da mercadoria, que ocorre através da atribuição de valor simbólico a objetos do uso cotidiano. Até mesmo as características culturais de um determinado local ou povo podem ser transformadas em bens vendáveis para o turismo ou como lócus para a produção audiovisual.
A emergência paradoxal das tecnologias digitais nesses novos processos de produção cultural coloca a necessidade de repensar seus fundamentos do conceito tradicional de cultura. Como processos sociais em constante mudanças estas dimensões estabelecem entre si um conjunto de conexões simbólicas, dando forma a novos processos de comunicação, seja dentro do ciberespaço das redes digitais ou no espaço de comunicação não-midiático, isto é, das relações humanas propriamente ditas.
Por EDNA BRENNAND