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Tenho observado, há algum tempo, a perda do interesse dos jovens pela escrita, fato que decorre de um desinteresse pretérito: a escassez do hábito de leitura.
Vejo tantos erros gramaticais e de interpretação tidos como simples, mas reiteradamente cometidos por jovens pela falta do costume de ler. Essa “juventude digital” acaba por se tornar cada vez mais simplória: submete o pensar à própria tecnologia e se esquiva de apreender novos ensinamentos e descobertas que somente poderão ser alcançados através do contato estreito com a literatura.
Surpreende-me que algumas pessoas sequer entendam o contexto, por exemplo, da troca de cartas. Talvez nunca possam usufruir da magnitude presente na leitura do coração alheio enquanto, simultaneamente, maravilham-se com os traços da escrita; situação que desperta fortes encantos e emoções. De igual modo, é possível que nunca descubram o quão é prazeroso se dispor a escrever, de próprio punho, os sentimentos a serem remetidos a um outro alguém que anseia por desvendá-los.
Entre as minhas indagações, pergunto-me: o que aconteceu para que a juventude perdesse o interesse por conhecer romances epistolares, sobretudo os clássicos que enfatizam a riqueza da troca de cartas/recados, tais quais “Hamlet” (Shakespeare), ou “Os Sofrimentos do Jovem Werther” (Goethe), ou, até mesmo, Drácula (Bram Stoker) …?
Ouso assimilar que vivemos um tempo em que a prioridade é o rápido acesso à informação, mesmo que sem qualidade, em detrimento de leituras mais profundas e interpretativas. Ainda assim, teço outros questionamentos: onde foi parar o interesse pelos clássicos da literatura? Onde está a paixão pela poesia de outrora? Será que o amor pela leitura – e, consequentemente, pela escrita – está fadado a ser cultivado pela geração mais antiga e se tornará algo que ficará apenas na lembrança? Quanto a este último questionamento, tenho as minhas ressalvas.
Há sempre quem “resista” perante uma época de não valorização da leitura e da escrita. Orgulha-me conhecer alguns jovens tidos como valorosas exceções àquilo que, para mim, ainda é uma triste regra.
Vejo novos talentos surgindo, muitos provenientes de pessoas de pouca idade, como é o caso do convidado da coluna desta edição: o escritor Felipe Rocha (20 anos).
Ora, ainda há aqueles jovens que aprenderam a valorizar a arte da escrita após um contato íntimo com a leitura. Alguns contam/contaram com bons exemplos na escola a partir de professores que despertam/despertaram neles o interesse a esta arte. Outros se inspiram/inspiraram no próprio lar ao verem os hábitos de leitura cultivados por seus ascendentes. Eu mesma tenho a sorte de ter um bisavô poeta que muito me inspira, sendo, inclusive, colaborador fixo desta coluna no quadro “O Semeador de Margaridas”. Arnaldo Júlio Barbosa, o poeta centenário, ensina constantemente sobre a magia da literatura em nossas vidas, o que me torna privilegiada por carregar essa herança literária que permite enxergar o mundo com o profundo olhar que a poesia propicia.
Apesar de estarmos em tempos de inconsciente coletivo que determina um padrão não atinente à importância da leitura e da escrita, busco garimpar por novos talentos que nadam contra a corrente e fortificam a perpetuidade da literatura em nossas vidas. E, quando encontro – não tenham dúvidas – renovo as minhas esperanças sobre a prevalência da arte da escrita alicerçada não apenas por mãos experientes, mas por jovens que entendem a importância de construirmos solidamente este universo ilimitado de palavras, anseios, emoções e significados que, com resiliência, serão passados adiante.
Por LILIAN BARBOSA