VOZES DO UMBRAL – Horror na Amazônia (parte 2)

VOZES DO UMBRAL – Horror na Amazônia (parte 2)

 A criatura que há séculos assombra a maior floresta do mundo

 “É possível que um grande macaco antropóide possa existir, ainda que não conhecido pelos zoólogos. Nas cataratas do Alto Orinoco (Amazonas), Humboldt ouviu relatos de um “homem peludo da floresta”, que construía cabanas, sequestrava mulheres e comia carne humana (…) Tanto índios como missionários acreditam fortemente na existência dessa criatura amaldiçoada, que eles chamam de vasitri, ou “o grande diabo”.

P. H. Goose, “The Romance of Natural History” (1861)

 Mapinguari, criatura mítica temida há séculos por caçadores, ribeirinhos e homens da selva. Descrita de forma similar por tribos indígenas separadas por milhares de quilômetros de distância. A busca por esse ser a histórias estranhas, algumas delas difíceis de serem colocadas na prateleira da crendice e da superstição.

 Principalmente, quando elas não vêm de homens simples, imersos em culturas repletas de mitos e mistérios, mas de um pesquisador viajado que estava entre os expoentes de seu campo, na sua época.

 François Fernand de Loys, foi um geólogo suíço, pioneiro da exploração petrolífera em quatro continentes, foi enviado à Amazônia Venezuelana, em 1917, em busca de campos de petróleo. Sua expedição de 20 homens fazia trabalho de campo nas montanhas da Sierra de Perijá, perto da fronteira com a Colômbia, quando desapareceu. É uma região de selva fechada, repleta de grandes predadores, parasitas e doenças e habitada pelos perigosos índios Motilones, que tinham histórico de entrar em conflitos com o homem branco – e se sair bem – desde a chegada dos espanhóis.

 Esperava-se ter sido o fim da expedição, mas, 3 anos depois, em 1920, os únicos 4 sobreviventes – entre eles, de Loys – encontraram o Rio Tarra, que sabiam que poderiam seguir para chegar à civilização. Acompanhando a margem do rio, a equipe foi emboscada por dois macacos grandes, de pelo avermelhado, sem rabo e que andavam em pé. Eles arrancaram galhos e se aproximaram da expedição, gritando, sacudindo os braços e brandindo os galhos como se fossem armas. Os homens aterrorizados atiraram, matando o que parecia ser a fêmea. O outro desapareceu na mata. O macaco alvejado foi colocado sentado em uma caixa, com uma vara para segurar seu queixo. Estima-se, pelo tamanho das caixas da expedição, que eram padronizadas, que ele tivesse em torno de 1,70m. De Loys afirmou que após a foto, o macaco foi dissecado e seus ossos removidos. No caminho de volta, no entanto, uma canoa virou, perdendo-se o esqueleto e grande parte do material. Tudo o que restou da criatura foi essa estranha foto.

 Outros relatos levam a suspeitas de que a lenda do Mapinguari possa ter se originado de encontros reais com algum animal desconhecido da ciência.

 Ou que se pensava extinto.

 David Oren – biólogo americano residente em Belém há mais de 30 anos e pesquisador do Museu Paraense Emílio Goeldi – conheceu, numa viagem ao Acre, na década de 90, um homem que disse ter visto uma fêmea de Mapinguari com filhotes.

 “Eu estava diante de uma pessoa que claramente não estava mentindo. A luz acendeu: o que esse homem estava descrevendo só podia ser uma preguiça-gigante.”

 Essa hipótese ousada não é nova nem está restrita à Amazônia.

 No final do século XIX, Ramon Lista, explorador argentino e governador da província de Santa Cruz, caçava na Patagônia quando se deparou com um animal desconhecido, que atingiu com tiros, que não fizeram efeito.

 O paleontólogo argentino Florentino Ameghino fez conexão entre esse relato, os relatos do Mapinguari, usualmente descrito como invulnerável a flechas e balas, e o fato de que as preguiças gigantes tinham ossículos em suas peles que formavam uma espécie de carapaça, e publicou um artigo na revista Nature de outubro de 1898.

 “A pele evidentemente pertencia a um animal até então desconhecido da ciência, e, apesar da ausência dos membros, a presença de ossículos parece dar evidência decisiva que indica um pequeno representante das preguiças de chão, mais ou menos intimamente relacionada…”

 Seria possível que preguiças gigantes tivessem sobrevivido, ocultas no interior da maior floresta do mundo?

 Vejamos a descrição do Segamai, um animal descrito e temido pela tribo Machiguenga, da Amazônia Peruana:

 “O Segamai é descrito como sendo um animal do tamanho de uma vaca, que pode andar de quatro ou ereto. Ele é descrito como tendo pelo manchado e um focinho similar ao do tamanduá gigante. Diz-se que ele vive em cavernas e florestas remotas no sopé das montanhas, onde se alimenta do palmito das palmeiras. Um homem afirmou tê-lo visto há 25 anos atrás e os Machiguenga dizem que a criatura existe até hoje em alguns lugares. Os Machiguenga têm muito medo do Segamai. Dizem que ele é altamente agressivo, emite um rugido assustador, é imune às armas e emana um odor forte, que deixa os homens desorientados.”

 Glen Sheppard, Recursos e ecologia dos Machiguenga na Cordilheira Vilcabamba

 David Oren, defensor incansável dessa hipótese, já organizou diversas expedições em busca desses animais ao longo de 20 anos, mas, jamais obteve resultados conclusivos naquela que viria a ser a “mais espetacular descoberta zoológica do século” Recolheu pelos e fezes que, analisados, mostraram ser de animais comuns. Sua maior evidência, que ele mesmo admite que poderia facilmente ser forjada, é um molde de pegada bastante consistente com o de uma preguiça gigante.

 Pessoalmente, jamais entendi a dificuldade que algumas pessoas têm em acreditar na existência de animais desconhecidos ou que se julgavam extintos. Não há nada de sobrenatural neles, são apenas bichos.

 A Universidade de Queensland, na Austrália, fez uma pesquisa que mostrou que, dos 187 mamíferos dados como extintos desde 1500, um terço foi visto novamente. O celacanto, cujo fóssil mais “jovem” tinha 65 milhões de anos, foi encontrado vivo em 1938. O lagarto gigante de La Gomera, considerado extinto há mais de 500 anos, foi encontrado em junho de 1999 nas Ilhas Canárias.

 Pode ser. Pode ser, até mesmo, que antepassados dos indígenas atuais tenham encontrado tais animais, e que seus relatos tenham virado lendas, passadas de boca a ouvido, geração a geração.

 Enquanto não se chega a uma conclusão, alguns relatos seguem desfiando nosso entendimento.

 No Rio Jamari, a 85 km de Porto Velho, Rondônia, existe uma Vila de Pescadores com cerca de 30 famílias, todas sobreviventes da pesca e da extração do açaí. Em 7 de outubro de 2014, o jornal News Rondônia publicou uma notícia sobre um encontro que um grupo de catadores tivera, em uma região remota da floresta, e que havia deixado a comunidade local apavorada. A viagem até o lugar, 5 horas de barco a motor, seria muito perigosa.

 “Na Reserva Sumaúma é onde está a maior quantidade de açaí silvestre, mas por ser uma mata onde ninguém adentrou, ficamos expostos a vários riscos, entre os quais, inúmeras espécies de cobras e onças”, afirmou um dos extrativistas.

 Para outro catador que fazia parte do grupo, tudo teria começado quando eles ouviram um grito floresta a dentro.

 “Comecei a imitar o grito e percebi que o som se aproximava de nós. Foi quando começamos a ouvir um forte estralo e de maneira intermitente. Nesse momento, apareceu uma criatura de cor escura e de aproximadamente dois metros de altura, com apenas um olho avermelhado como chamas”.

 Assustados, todos deixaram o açaí que tinham colhido e correram para a beira do rio, pegaram o Rabeta e voltaram para uma barraca improvisada que eles tinham feito. Mas ao chegar próximo da barraca, o medo foi ainda maior, quando viram novamente a criatura próximo da barraca. Na mesma hora, todos retornaram para a canoa, ligaram o Rabeta rapidamente e voltaram atemorizados em direção a Vila.

 “Já estava escuro quando saímos da reserva, sem lanterna e deixamos tudo para trás. A viagem de volta foi mais perigosa, pois não enxergávamos quase nada”, disse um deles.

O susto foi tão grande que alguns deles não conseguiram dormir por alguns dias. A notícia logo se espalhou na Vila e devido ao ocorrido, nenhum extrativista se arrisca a ir mais naquela reserva.

 Esse é um rio da Amazônia à noite e esses olhos brilhantes são jacarés, alguns dos quais podem ter mais de 5 metros. Antes de rir das histórias do Mapinguari, lembre que isso é um dia de trabalho normal para essas pessoas. Não queira saber do que elas correm de medo.

Por JORGE ALEXANDRE

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