DESNUDA EM PALAVRAS – Grandes autores eróticos – Hilda de Almeida Prado Hilst

DESNUDA EM PALAVRAS – Grandes autores eróticos – Hilda de Almeida Prado Hilst

GRANDES AUTORES ERÓTICOS

 

 

   

Hilda de Almeida Prado Hilst

   Hilda Nasceu em Jaú, São Paulo no dia 21 de abril de 1930. Foi uma poeta, ficcionista, cronista e dramaturga brasileira. É considerada pela crítica especializada como uma das maiores escritoras em língua portuguesa do século XX.

    Seu trabalho aborda temas como misticismo, insanidade, erotismo e libertação sexual feminina. Da poesia reúne cerca de 20 livros e material inédito da autora que também se dedicou a prosa e o teatro.

    Filha de Apolônio de Almeida Prado Hilst, Fazendeiro de café, jornalista, poeta e ensaísta, e de Bedecilda Vaz Cardoso, imigrante portuguesa. Em 1932 após a separação dos pais mudou-se coma mãe para São Paulo em 1932, na cidade de Santos, mudando em 1937 para São Paulo, capital. Estudou e em 1948, ingressa na faculdade de Direito da Universidade de São Paulo.

    A poesia de Hilda Hilst, que ganha forma em cantigas, baladas, sonetos e poemas de verso livre explora a morte, a solidão o amor erótico, a loucura e o misticismo.

    Ao fundir o sagrado e o profano, a poeta se formou como uma das vozes mais transgressoras da literatura brasileira do século XX.

     Hilst foi fortemente influenciada por James Joyce e Samuel Beckett, e essa influência aparece em temas e técnicas recorrentes em seus trabalhos, como fluxo de consciência e realidade fraturada.

    Estreou na literatura com a publicação do seu primeiro livro de poesias, intitulado “Pressagio (1950). Em 1951 publicou “Balada de Alzira”.

   Nesse mesmo ano foi nomeada curadora de seu pai. Concluiu o curso de Direito no ano de 1952. A partir de 1954, passou a se dedicar exclusivamente à produção literária. Entre 1955 e 1962, publicou diversas obras de poesias entre elas, “Balada do Festival” (1955) e “Ode Fragmentaria” (1961).

     Seu pai morreu em 1966, após ser diagnosticado com esquizofrenia, esteve internado em várias clinicas. Esses episódios tornaram-se motivos recorrentes na sua obra. Mudou-se no ano de1965 para Campinas, onde passou a morar na “Casa do Sol”, em uma chácara planejada pela escritora, próxima à fazenda de sua mãe, e que foi frequentada por diversos amigos.

     Em 1966, Hilda casa-se com Dante Casarini. Nesse mesmo ano escreve as peças teatrais: “O Visitante e o Novo Sistema”. Em 1970 se inicia na ficção com o livro “Fluxo Floema”. Em 1982 escreve “Senhora D”, que foi posteriormente adaptada para o teatro. Divorcia-se do marido, e no ano de 1990, com a publicação de “O Caderno Rosa de Lori Lamby”, anuncia que vai aderir à literatura pornográfica. Em 1992 publica “Bufólicas”, poesias satíricas.

 

CARACTERÍSTICAS LITERARIAS

 

 

    Hilda Hilst era culta, de personalidade marcante e temperamento transgressor que ia de encontro aos costumes da época. Faz parte da geração da poesia brasileira que foi denominada “Geração de 45”, que reagiu contra o prosaico e o supérfluo. Entendiam os poetas que as conquistas dos modernistas de 22 deveriam ser abandonadas.

     Hilda rompe com o bom tom clássico Literário, uma vez que nada é capaz de surpreender o leitor. A escritora faleceu em Campinas São Paulo, no dia 4 de fevereiro de 2004.

    Termino com um de seus poemas, retirado do livro “Do desejo”, que evidencia, de modo transparente, o quanto o desejo é uma das forças motrizes da humanidade, e outro retirado do site pensador com o título: Tenta-me de novo, que está reunido na antologia do desejo, e traz como temática o amor carnal. É curioso como um poema profundamente sensual é ligado aos prazeres do corpo também faça uma alusão a valores espirituais e transcendentes. É de se destacar, por exemplo, a palavra usada pelo eu-lírico na pergunta feita, ao invés de perguntar se o amado gostaria de ter o seu corpo na cama, a expressão usada é a “alma”. Outra palavra ligada ao sublime que se mistura a meio de um poema tão terreno é “jubila-te, em geral usados em contextos religiosos.

    Os versos tem assinatura de Hilda Hilst e carregam o seu tom obsceno e provocador. O poema se encerra quase com um desafio dirigido ao amado. Note que se encerra quase com um desafio dirigido ao amado. Note que a palavra “tenta-me”, usada no último verso, possui múltiplas interpretações possíveis. Hilst no encerramento da poesia brinca com as duas acepções da palavra.

    É muito interessante como um poema profundamente sensual e ligado aos prazeres do corpo, também faz uma alusão a valores espirituais e transcendentes. Por exemplo, se destaca a palavra usada pelo eu-lírico na pergunta feita; ao invés de perguntar se o amado gostaria de ter o seu corpo na cama, a expressão usada é a “alma”. Outra palavra ligada ao sublime que se mistura a meio de um poema tão terreno é “jubila-te”, em geral usada em contextos religiosos.

 

 

 

       Porque a Desejo em Mim

Porque há desejo em mim, é tudo cintilância. 
Antes, o cotidiano era um pensar alturas 
Buscando Aquele Outro decantado 
Surdo à minha humana ladradura. 
Visgo e suor, pois nunca se faziam. 
Hoje, de carne e osso, laborioso, lascivo 
Tomas-me o corpo. E que descanso me dás 
Depois das lidas. Sonhei penhascos 
Quando havia o jardim aqui ao lado. 
Pensei subidas onde não havia rastros. 
Extasiada, fodo contigo 
Ao invés de ganir diante do Nada. 

 

Hilda Hilst 

E Por que haveria de querer minha alma

Na tua cama?

Disse palavras líquidas, deleitosas, ásperas

Obscenas, porque era assim que gostávamos.

Mas não menti gozo, prazer, lascívia.

Nem omiti que a alma está além, buscando

Aquele outro. E te repito: por que haverias

De querer minha alma na tua cama?

Jubila-te da memória de coitos e acertos.

Ou tenta-me de novo. Obriga-me.

 

Por TÔNIA LAVÍNIA

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