Todas as vezes que me calei, me sufoquei. Mesmo assim, quase sem querer, repeti o silêncio inúmeras vezes mesmo quando queria vorazmente explicar, detalhadamente, cada virgula do meu pensamento e sentimento, como se o outro fosse capaz de compreender. Era desejo de meta-momento, como se o receptor estivesse pronto, mas a escuta não é sinônimo de entendimento ou receptividade.
Notei nas linhas de uns tempos atrás o discurso quase obsessivo por encontrar o que nunca foi perdido, como se a vida jamais fosse seguir sendo altamente feliz caso presunçosamente eu não chegasse aonde queria.
Por anos numa busca incessante por me reconhecer na simplicidade do dia a dia, no corpo e vida em que habito, aprendi como a gente se distrai e perde tempo deixando de ser feliz, de aprender, se desenvolver, compartilhar.
A busca nunca vai deixar de existir, mas aos poucos a gente vai reconhecendo que a jornada pode ser mais simples. Deixar vir para a superfície os sentimentos, dar vazão a tudo que por alguma razão o inconsciente traz, faz com que a gente se conecte cada vez mais com quem nós somos.
Momentos tristes, melancólicos, carentes, definitivamente não são sinônimo de uma vida triste, melancólica ou carente. Hoje aceito melhor meu vazio e minha angústia porque entendi que não preciso lutar contra isso ou ficar procurando o porquê o tempo todo. E justo eu, tão emotiva, aprendi que precisava só sentir. Você já pensou sobre o quanto você foge das suas próprias emoções?
Acho que por mais provações que estejamos vivenciando por alguma razão, e algumas delas doem muito, quando a gente se abre para perceber com o coração aquilo que a gente está vivendo, cedo ou tarde o caminho se abre para a gente também.
Que nós sejamos sensíveis para reconhecer os sinais e não perder tempo. Que tenhamos coragem para assumir os desejos do nosso coração sem vergonha, que não renunciemos à vida que queremos viver ainda que a felicidade pareça pequena demais aos olhos de quem não vê para além de si mesmo. A gente tem pouco tempo. Perder tempo seria se perder. E eu estou a vida inteira tentando me encontrar.
Onde você está nesta caminhada?
Alguém me disse um dia o quanto era difícil atravessar… Às vezes, a gente precisa parar de falar, recuperar o fôlego e caminhar sem querer calcular cada metragem da rota. A vida tem te surpreendido ou te assustado?
Vivemos em um época onde nós não estamos dispostos a lidar com nenhum tipo de desconforto. A preguiça nos vence muito facilmente e nos sentimos confortáveis no lugar incômodo. Fazemos vista grossa para coisas importantes, queremos reparar poucas coisas e nos falta interesse em habitar o novo que a vida nos dispõe diariamente, assim como abrir novos espaços dentro de nós.
Tenho a impressão que muitos de nós cultivamos as mesmas dores com a certeza de que são incuráveis e ainda sentamos para apreciá-las.
Se a jornada está pesada, deixa o que não serve pelo caminho. É preciso se libertar das regras impostas por nós mesmos e deixar ir coisas, pessoas, situações. Não podemos permitir que sigamos com o coração sobrecarregado, precisamos nos libertar de padrões antigos que nos adoecem.
O caminho se faz caminhando e por vezes, precisaremos seguir nossa caminhada com os pés calejados mesmo até que a ferida se cicatrize. Em momentos como esse, podemos mudar o foco, redirecionarmos a energia, apreciarmos o silêncio e aceitarmos a vida tal como ela é.
Não quero dizer que precisamos estar equilibrados o tempo todo, somos cíclicos, a vida é! Entretanto, não estamos fadados a choramingar por cada pedra no sapato quando podemos retirar os calçados e remover a pedra de lá. Sofremos por nao saber e, por não saber, buscamos incessantemente pelo que desconhecemos e flutuamos por caminhos que não nos leva a lugar algum.
Que sejamos consistentes e honestos durante o itinerário. Ocasionalmente haverá algo vibrante mas também muitos fragmentos de auto-piedade e reclamações infantis que não nos damos conta quando não sabemos onde querermos chegar.
Esqueça a caminhada cheia de pressa e a passos largos. Desfrute dos pequenos tropeços e passe a testemunhar os seus próprios milagres. Desenvolva a capacidade de esperar, não some o medo dos outros ao seu próprio medo e se apaixone por cada salto que der, ainda que seja no escuro, ainda que tenha que suportar seus arranhões.
Mesmo quando seguimos nosso coração, nos colocamos em um lugar de risco e isso também tem um preço. De qualquer modo, entendemos que o desfecho, bom ou não, era parte de uma escolha consciente e importante para nós, assim aceitamos que alguns processos simplemente precisam ser vividos.
Revisite seus sonhos, recalcule a rota se necessário for, crie suas proprias pontes mas não inviabilize sua caminhada. De passo em passo é que se chega lá.
Por THAIS DE MIRANDA