CRÔNICAS – Papai-Titio: Memórias de Amor e Cuidado por Jefferson Costa Machado

CRÔNICAS – Papai-Titio: Memórias de Amor e Cuidado por Jefferson Costa Machado

Certo dia, estava olhando algumas fotos de família quando me deparei com uma fotografia do meu tio, que tinha um carinho como de um pai. Ao mesmo tempo que olhava cada detalhe daquele retrato me vinham lembranças de momentos que passamos juntos.

Sempre dizia tenho dois pais, um deles eu chamava de papai-titio. Era comum fazer suas caldeiradas com cheiro-verde e tucupi. Certa vez, cozinhou um tamatá, peixe típico da Amazônia, no caldo do tucupi. Me colocava no colo e me servia.

Quando meu cabelo estava grande era ele que cortava. É bem verdade que, muito das vezes, um pedaço da minha orelha ia junto, mas logo passava um pouco de pó de café, que me acalmava. Lembro até hoje do seu olhar atento e de sua tesoura brilhando cortando meus cabelos no quintal de casa.

Um de seus passatempos, se posso dizer assim, era a marcenaria. Adorava fabricar cadeiras, bancos e os fazia com perfeição tal qual, um verdadeiro, artesão. Titio sempre foi muito presente na minha infância. Lembro de brigar com mamãe para não me bater quando eu fazia alguma peraltice. Defendia-me quando alguém me tratava mal.

Quando papai se acidentou foi ele que cuidou de mim e de meu irmão. Com seu jeito singular, austero e duro, nos colocou “na linha” como dizem por aí. Uma vez, passei muito mal. Perdi a consciência, por uns minutos, e quando a retomei. Lá estava, ao meu lado, segurando minhas mãos.

Podiam lhe chamar de grosso e ignorante, mas com seus sobrinhos e netos era um verdadeiro pai. Não suportava que estacionassem carro na frente da sua casa, apesar de não possuir nenhum carro, mas afinal quem gosta que façam isso, sem sua permissão?

Titio era um homem baixo, com um bigode branco, que às vezes lhe cobria a boca, e seus cabelos lisos, que atribuía à casca da melancia, para lhe deixarem soltos. Pois, sempre que comia uma, a usava como pente em suas mechas. Ele era um homem forte, cheio de vigor, que não cansava de contar suas histórias de quando trabalhou numa empresa de construção civil chamada “Estacon”. Falava sobre os seus amigos, como um tal de “belisca lua”, que por esse apelido, devia ser um homem alto. Falante adorava contar, os “causos”, suas histórias de vida. Dizia de uma Belém, antiga, saudosista da época de Magalhães Barata, coronel que governou a cidade.

Faz 15 anos que ele se foi. Que a doença o tomou deste mundo. Escrevo com lágrimas estas lembranças. Mas afinal, o que somos senão lembranças queridas e eternas memórias. É verdade que o tempo o levou, mas será eternamente lembrado, por aqueles que um dia o amaram.

Para sempre papai-titio!

Por JEFFERSON COSTA MACHADO

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