- Considerações Iniciais
Estudos recentes apontam uma visão ampla e inovadora no ensino dos idiomas, dando destaque ao componente semântico e retirando os holofotes de aspectos estruturais (antes, supervalorizados).
Para uma leitura eficaz é necessário que cada vocábulo seja observado mediante sua posição dentro do contexto. Não resta dúvida de que as palavras exercem uma atitude camaleônica, mudando de cor conforme a situação em que estão inseridas.
É considerando esse viés que convém salientar a presença peculiar de fraseologias, ou seja, o estudo de expressões idiomáticas, provérbios, locuções e unidades fraseológicas, em geral, que implicam combinações fixas, formando um bloco vocabular significativo memorizado pelos falantes. Ocorre, em tais expressões, a transgressão do sentido literal em benefício de um novo significado, o que resulta em expressões trajadas com as cores do ambiente, revelando indícios de traços culturais.
As fraseologias — expressões cristalizadas pela sociedade — sinalizam a polissemia que caracteriza e particulariza o sistema lexical de cada idioma, exaltando a riqueza verbal que se desdobra e surpreende em derivações inusitadas…
Sobre o leque de significados (polissemia), vale um recorte do que diz Possenti, em “Os limites do Discurso”: “O sentido nunca é o sentido de uma palavra, mas de uma família de palavras que estão em relação metafórica, o sentido de uma palavra é um conjunto de outras palavras que mantêm com ela uma certa relação”. (POSSENTI, 2004).
Como sugere Possenti, o bom leitor não lê palavras, lê sentidos… O todo não resulta da soma das partes, como ocorre na linguagem matemática; o “todo”, na fraseologia, transcende qualquer soma, e essa grandeza incita o pensamento e nos aponta variadas dimensões na compreensão da linguagem.
A fraseologia rasga a camada superficial do texto e, nesse plano, as palavras dançam… parece que se movimentam dentro da frase conforme a melodia que escutam em cada circunstância…
Esses discursos que se instalam em “vias paralelas”, esgueirando-se das linhas para as entrelinhas, dizem muito das crenças e hábitos de cada comunidade, estão, portanto, impregnados de regionalismos e traços culturais de suas respectivas localidades.
Ao examinar o repertório musical endereçado à infância, é fácil constatar que, desde muito cedo, as crianças convivem com fraseologias e (aqui convém destacar) que a interação com tais expressões idiomáticas aguçam e instigam a sensibilidade e agilidade mental dos pequenos.
- Isto e aquilo — um mosaico de acepções…
Nossa grande poetisa Cecília Meireles, em poema que dá título à sua obra infantil “Ou isto OU aquilo”, apresenta às crianças a importância do ato de escolher — ação determinante, ao longo de nossa vida… Nesse breve artigo, com clara intenção de propor uma paródia, é possível apontar, oportunamente, o efeito “isto E aquilo”, ao voltar nosso olhar para as fraseologias. Elas significam “isto” mais também “aquilo”, porque partimos do nascedouro para fazer valer o novo, ou seja, o ressignificado, sempre repleto de intenções.
Parece que, desde os tempos mais remotos, os animais servem de exemplo ao ser humano. Ao simular nossa sociedade, os bichos exaltam os vícios e as virtudes humanas, fazendo desfilar sem melindres o comportamento típico de nossa espécie. Temos notícias do fabulário de Esopo (escravo grego que viveu no século IV a.C) servindo de referência ética e moral, ao denunciar desvios de conduta e atitudes nobres que sempre permearam a raça humana.
De maneira recorrente, uma fatia expressiva de fraseologias fazem referência aos animais, apresentando um verdadeiro painel, em que reina soberano o zoomorfismo, tão significativo é o conjunto de fraseologias que apelam para os animais com o intuito de estabelecer suas devidas relações de equivalência.
A canção BICHARIA, de autoria dos italianos Luiz Enriquez Bacalov e Sergio Bardotti, ao ser adaptada por Chico Buarque, recebe, na versão brasileira, uma nova letra que prima por fraseologias com foco nos animais, elencando várias expressões idiomáticas que ilustram o zoomorfismo. Segue a letra (texto verbal) de BICHARIA, destacando, em negrito, tais expressões:
Au, au, au, hi-hó, hi-hó.
Miau, miau, miau, cocorocó.
Au, au, au, hi-hó, hi-hó.
Miau, miau, miau, cocorocó.
Au, au, au, hi-hó, hi-hó.
Miau, miau, miau, cocorocó.
O animal é tão bacana,
Mas também não é nenhum banana.
Au, au, au, hi-hó, hi-hó.
Miau, miau, miau, cocorocó.
Quando a porca torce o rabo,
Pode ser o diabo, e ora vejam só!
Au, au, au, cocorocó…
Era uma vez (e é ainda)
Certo país (e é ainda)
Onde os animais eram tratados como bestas
São ainda, são ainda.
Tinha um barão (tem ainda)
Espertalhão (tem ainda)
Nunca trabalhava, então achava a vida linda
E acha ainda, e acha ainda.
Au, au, au, hi-hó, hi-hó.
Miau, miau, miau, cocorocó.
O animal é paciente,
Mas também não é nenhum demente.
Au, au, au, hi-hó, hi-hó.
Miau, miau, miau, cocorocó.
Quando o homem exagera,
Bicho vira fera, e ora, vejam só!
Au, au, au, cocorocó…
Puxa, jumento (só puxava),
Choca, galinha (só chocava).
Rápido, cachorro, guarda a casa, corre e volta
Só corria, só voltava.
Mas chega um dia (chega um dia)
Que o bicho chia (bicho chia).
Bota pra quebrar, e eu quero ver quem paga o pato
Pois vai ser um saco de gatos.
Au, au, au, hi-hó, hi-hó.
Miau, miau, miau, cocorocó.
O animal é tão bacana
Mas também não é nenhum banana.
Au, au, au, hi-hó, hi-hó.
Miau, miau, miau, cocorocó.
Quando a porca torce o rabo,
Pode ser o diabo, ora, vejam só!
Au, au, au, cocorocó.
Au, au, au, cocorocó
Au, au, au, cocorocó (hi-hó).
Antes de elucidar o uso das expressões que permeiam o texto verbal da melodia em questão, convém situar o panorama geral que inclui a canção Bicharia. Tal cantiga faz parte do musical “Os saltimbancos”, baseado no conto do folclore alemão “Os músicos de Bremen”, coletado pelos irmãos Grimm, no século XIX.
Seguindo o padrão de toda fábula, os animais — jumento, cão, gato e galo — simulam a sociedade humana e, como tal, representam a classe operária. Seus donos, por sua vez, cumprem o papel de patrões impiedosos, visando unicamente os lucros e esquivando-se de qualquer responsabilidade ou zelo, em prol do bem-estar dos funcionários.
Dentro desse contexto, Chico Buarque escolhe, criteriosamente, os ditos populares a serem inseridos na canção Bicharia. O intuito é criar uma dupla alusão, remetendo as expressões à identificação natural com os personagens (já que são todos animais) e ao sentido que adquiriram tais fraseologias cristalizadas pelo tempo no linguajar do povo. Vejamos a listagem de todas elas com seus respectivos significados:
- …não é nenhum banana: não é tolo ou pessoa intimidada.
- Quando a porca torce o rabo: quando a situação se complica e tudo se torna mais difícil.
- Bicho vira fera: virar fera significa externar a fúria, a ira desmedida.
- …bicho chia: chiar significa reclamar, reivindicar.
- Bota pra quebrar: manifestar desejos sem temor, demonstrar toda insatisfação.
- …quem paga o pato: quem arca com o prejuízo, quem acaba assumindo a responsabilidade.
- …saco de gatos: sinônimo de confusão, discórdia.
A comunhão entre texto verbal e texto melódico cria uma unidade de tal forma harmoniosa, que podemos dizer que resulta em um novo discurso decorrente do sincretismo perfeito, que articula verbo e melodia.
Assim, é fácil constar que o fraseio melódico segue, com maestria, a alternância estabelecida pelo texto verbal: ora, a manifestação dos quatro personagens através de suas vozes, ou seja, fazendo uso da figura de linguagem onomatopeia; ora, prestando informações sobre o ocorrido — ocasião em que as fraseologias, oportunamente, aparecem como parte significativa do discurso, denunciando o descaso dos patrões e a indignação dos bichos.
A gangorra entre vozes expressas através de onomatopeias, em alternância com o desdobramento das informações explicitadas através de fraseologias, dá a canção um equilíbrio estético singular. Além disso, contamos com o uso oportuno e bastante expressivo da estrutura rítmica, que destaca os motivos das vozes dos animais com uma célula rítmica bem marcada, em alternância com a maneira discursiva dos trechos que abordam as fraseologias — um procedimento perfeito que colabora com o equilíbrio e a simetria da canção:
- Um jogo semântico como fio condutor
No ano de 1981, o grupo vocal MPB 4 gravou um CD com repertório exclusivo para crianças — trabalho primoroso felizmente salvo, nas redes sociais. Dentre as várias canções que fazem parte desse álbum, recortei para o presente artigo uma das composições de Renato Rocha em parceria com Ronaldo Tapajós, intitulada “Botões” — canção que exibe especial jogo semântico, partindo da expressão: “falar com seus botões”, que significa: falar consigo mesmo, ou seja, um solilóquio, uma reflexão…
A expressão tem origem numa época em que as vestimentas costumavam usar muitos botões em sua estrutura, levando em conta que não havia o zíper e outras opções para se fechar a peça de roupa. De modo que o processo de vestir-se era vagaroso, sendo o momento propício a reflexões… (falava-se com os “botões” enquanto se colocava a vestimenta).
Há, também, uma leitura mais metafórica e subjetiva, que considera o fato dos botões terem como principal função unir partes da roupa e, com isso, cobrir o corpo, resguardando a intimidade, ou seja, ocultando tudo aquilo que não desejamos expor. De modo que “falar com seus botões” é conversar consigo próprio, preservando nosso discurso e evitando que tais pensamentos sejam propagados. Partindo dessa ideia geral, o texto propõe um brinquedo com diferentes acepções da palavra “botão”. Segue o texto verbal da canção:
BOTÕES
Eu falo com os meus botões
O cientista fala com seus botões
A costureira fala com seus botões
O jardineiro fala com seus botões.
Eu falo com os meus botões
O jardineiro fala com seus botões
O cientista fala com seus botões
A costureira fala com seus botões.
Eu falo com os meus botões
A costureira fala com seus botões
O jardineiro fala com seus botões
O cientista fala com seus botões
O cientista fala com seus botões
Sobre as várias acepções do vocábulo “botão”, temos:
Eu falo com os meus botões: fala consigo mesmo.
O cientista fala com seus botões: fala com os botões de um maquinário.
A costureira fala com seus botões: fala com os botões de roupa.
O jardineiro fala com seus botões: fala com os botões de rosa.
O texto melódico dessa canção, tal como ocorre com o texto verbal, foi composto fazendo uso de apenas um período musical. Esse período único se repete com conotações harmônicas diversas (exatamente como vemos no texto verbal, em que repetimos a mesma palavra com vários significados).
“Botões” é uma composição no gênero “charanga” — peça musical em que há o predomínio de instrumentos de sopro e alguns instrumentos percussivos. A engenhosidade e perspicácia do texto melódico é notável: a cada vez que o texto verbal menciona um botão diferente, a orquestração é modificada, produzindo, também, um resultado harmônico diversificado — efeito que nos lembra um caleidoscópio.
No mesmo Álbum “Adivinha o que é?”, do grupo MPB 4 para crianças, está inclusa a canção “Composição Estranha”, dos autores Renato Rocha e Ronaldo Tapajós. Em “Composição Estranha”, temos um outro jogo inovador, em que a brincadeira com as palavras é visível, sendo claramente reforçada pelo texto melódico que ilustra, de modo soberano, o desfile de locuções focalizando partes do corpo, em sua construção. Esse procedimento é conhecido com “somatismo”.
A fraseologia usada como base para o desdobramento de tantas outras locuções é “boca da noite” — enfatizada no poema através de sua repetição final — uma espécie de “fecho de ouro” do poema. Eis o texto verbal de “Composição Estranha”:
COMPOSIÇÃO ESTRANHA
Usei a cara da lua
As asas do vento
Os braços do mar
O pé da montanha
Criei uma criatura
Um bicho, uma coisa
Um não-sei-que-lá
Composição estranha
O coração da floresta
Batia em seu peito
E a sua voz
Boca da noite
Para sua voz
Boca da noite
Para sua voz.
As expressões em negrito formam o jogo lúdico que tem como base a figura de linguagem denominada de “Catacrese”. A catacrese é uma espécie de comparação, na qual se atribui características de seres vivos a seres inanimados. Exemplo típico de locuções cristalizadas pelo tempo e, por conseguinte, inseridas no conjunto de fraseologias é: “boca da noite”, pé da montanha”, “pé da cadeira”… Segue o conjunto de locuções catacréticas exploradas em “Composição Estranha”:
Cara da lua, asas do vento, braços do mar, pé da montanha, coração da floresta e boca da noite formam a lista de expressões utilizadas na música em questão. O conjunto de locuções catacréticas formando essa “criatura estranha”, conforme menciona o poema, é destacado, com muita sensibilidade, pelo pífano — instrumento de sopro rústico — que simula, com muita propriedade, o som do vento, já que se trata de um instrumento de sopro, cujo som ecoa através do tubo de ar… Essas sutilezas pertencentes ao texto melódico validam e ressaltam as minúcias do texto verbal, resultando numa comunhão surpreendente.
- De pé no chão e orelha em pé…
“Pé no chão” e “orelha em pé” são duas expressões cristalizadas pelo povo que sinalizam lucidez e atenção… É exatamente assim que devemos nos portar diante do assunto fraseologias — tema recorrente no cancioneiro infantil.
Pondo em evidência a palavra “pé”, o grupo Palavra Cantada nos presenteia com mais um texto inteligente e bem articulado, no qual agrupa de forma engenhosa várias expressões que destacam a palavra pé — um magistral exemplo de somatismo no campo da fraseologia.
PÉ COM PÉ
Um pé pra lá; outro pra cá.
Um pé pra lá; outro pra cá.
Um pé pra lá; outro pra cá.
Um pé pra lá; outro pra cá…
Acordei com o pé esquerdo
Calcei meu pé de pato
Chutei o pé da cama
Botei o pé na estrada.
Dei um pé de vento
Cai num pé-d’água
Enfiei o pé na lama
Perdi o pé de apoio.
Agarrei num pé de planta
Despenquei com pé descalço
Tomei pé da situação
Tava tudo em pé de guerra
Tudo em pé de guerra.
Pé com pé, pé com pé,
pé com pé, pé contra pé…
Não me leve ao pé da letra,
Essa história não tem pé nem cabeça…
Vou dar no pé / Pé quente
Pé ante pé / Pé rapado
Samba no pé / Pé na roda
Não dá mais pé / Pé chato
Pegar no pé / Pé de anjo
Beijar o pé / Pé de meia
Meter o pé / Pé-de-moleque
Passar o pé / Pé de pato
Ponta do pé / Pé de chinelo
Bicho de pé / Pé de gente
Fincar o pé / Pé de guerra
De orelha em pé / Pé atrás
Pé contra pé / Pé fora
A pé / Pé frio
Rodapé / Pé.
Segue o significado das expressões utilizadas, na canção “Pé com pé”:
Acordei com o pé esquerdo: Iniciou o dia com má sorte.
Pé de pato: equipamento usado para facilitar o nado.
Pé da cama: um dos pilares da cama.
Botei o pé na estrada: iniciou o percurso, a caminhada.
Pé de vento: rajada de vento.
Pé-d’água: torrente de água.
Enfiei o pé na lama: sujou-se (no sentido denotativo e conotativo).
Perdi o pé de apoio: perdeu a firmeza, a segurança.
Pé de planta: árvore.
Pé descalço: pé desnudo, sem calçado.
Tomei pé da situação: entendeu o que estava acontecendo.
Pé de guerra: prestes a brigar.
Vou dar no pé / Pé quente: ir embora / pessoa de sorte.
Pé ante pé / Pé rapado: caminhar com cautela / pessoa sem recursos.
Samba no pé / Pé na roda: ginga, jeito para dançar / encontrar facilidade.
Não dá mais pé / Pé chato: sem possibilidades / pé sem curvatura no solado.
Pegar no pé / Pé de anjo: não sair de perto, grudar no… / pessoa suave, leve.
Beijar o pé / Pé de meia: bajular / juntar dinheiro para o futuro.
Meter o pé / Pé-de-moleque: iniciar pra valer / um tipo de bolo típico da região Nordeste.
Passar o pé / Pé de pato: enganar, ludibriar / equipamento para nadar.
Ponta do pé / pé de chinelo: pisar sem o calcanhar / pessoa sem recursos.
Bicho de pé / Pé de gente: processo infeccioso no pé / sinônimo de presença de pessoas.
Fincar o pé / Pé de guerra: ficar irredutível / pronto para brigar.
De orelha em pé / Pé atrás: permanecer atento / desconfiado.
Pé contra pé / Pé fora: combinação a dois / desistir de algo.
A pé / Pé frio: seguir caminhando com os próprios pés / azarado.
Rodapé / Pé: barra inferior da parede, rente ao chão / parte extrema do membro inferior.
A canção “Pé com pé”, de Sandra Peres e Paulo Tatit, é mais um exemplo de casamento perfeito entre texto verbal e texto melódico. A coletânea de fraseologias evidenciando o vocábulo “pé” (ressaltada em negrito) é tratada com muita simplicidade, no plano melódico, deixando o brilho para o desempenho narrativo do texto verbal primoroso.
O texto melódico é desenvolvido com base em duas tríades, considerando o acorde perfeito maior de MI (MI, SOL#, SI) e de o de LÁ (LÁ, DÓ #, MI). Logo na introdução (trecho preparatório que diz: “um pé pra lá; outro pra cá”) a tríade é apresentada em sua posição natural. Com base nesses dois pilares (acorde de MI maior e de LÁ maior) a canção segue evidenciando o intervalo de quarta, alternando entre MI / LÁ (acorde de MI) e LÁ / RÉ (acorde de LÁ).
Não obstante à simplicidade do texto melódico, há nuances que denotam especial sensibilidade, a exemplo do trecho: “Agarrei num pé de planta / Despenquei com pé descalço”, em que a ideia de despencar é valorizada pela melodia que prima por desenhar uma linha melódica descendente, reforçando a ideia de despencar.
Também merece destaque o jogo final, em contraponto: “Vou dar no pé / Pé quente…” evidenciando as vozes masculina e feminina… Podemos afirmar que a conduta melódica da canção “Pé com pé” é bastante oportuna e apropriada ao texto verbal em questão, o que nos leva a mais um discurso sincrético, que estabelece um abraço harmonioso entre as duas linguagens: verbal e melódica.
- Considerações Finais
É impossível concluir este breve artigo sem ressaltar a importância da inclusão de textos (em prosa e /ou em versos) que apresentem fraseologias, no repertório dedicado aos pequenos. Sabemos que as unidades fraseológicas espelham crenças e costumes de nossa sociedade, de modo que encerram uma compreensão necessária e oportuna para maior clareza de nosso idioma.
A fraseologia aponta leitura peculiar a ser compreendida “nas entrelinhas”… Nesse aspecto, enquanto leitura que transgride o caráter denotativo das palavras, trilhando com desenvoltura o viés conotativo, a fraseologia encosta na poesia, visto que vem abraçada em processos metafóricos e metonímicos, transfigurando sentidos e transgredindo a própria gramática. Graças a essa textura simbólica, rica em alusões, podemos constatar a presença de traços poéticos, nas expressões idiomáticas. Assim como a poesia, tais expressões experimentam outras conexões, tecem pontes e fazem migrar os sentidos, brincando com nossos “sentidos”…
Referência Bibliográfica
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- RANGEL, Alexandre. Expressões Populares — origem e significado. Belo Horizonte-MG: Editora Leitura, 2010.
- TATTI, Luiz. Musicando a Semiótica: Ensaios. São Paulo-SP: Annablume, 1997.
Por ELVIRA DRUMMOND